Eficácia e Segurança da Semaglutida Semanal em Pessoas com Obesidade e Pré-Diabetes
01 de outubro de 2024
6 minutos de leitura
O uso de semaglutida é eficaz e seguro na redução do peso e melhora dos parâmetros glicêmicos em indivíduos com obesidade e pré-diabetes?
A perda de peso em pessoas com obesidade pode melhorar os parâmetros glicêmicos e reduzir o risco de progressão para diabetes tipo 2 (DM2). A semaglutida, um análogo do receptor de GLP-1 de uso semanal, tem eficácia comprovada no tratamento de sobrepeso e obesidade, sendo que o estudo STEP2 demonstrou melhora do controle glicêmico em participantes com DM2. Após a suspensão da medicação, há uma tendência de reganho de peso, como observado em outras terapias para obesidade. O estudo STEP-10 avaliou primariamente os efeitos da semaglutida em pacientes com obesidade e pré-diabetes em 52 semanas de tratamento, explorando secundariamente se os benefícios persistem após descontinuação da medicação.
Ensaio clínico randomizado de fase 3
Multicêntrico com 30 centros em 5 países: Canadá, Dinamarca, Finlândia, Espanha e Reino Unido
Duplo-cego
Controlado por placebo
Randomização realizada por computador na proporção de 2:1 para semaglutida 2,4 mg semanal ou placebo por 52 semanas
Cálculo de 207 participantes para um poder > 99% para demonstrar a superioridade da semaglutida em relação ao placebo nos desfechos primários
Duração total de 80 semanas de estudo, sendo 52 semanas de intervenção e avaliação de desfecho primário e 28 semanas de fase exploratória para avaliar a descontinuação da medicação.
Pacientes com obesidade e pré-diabetes, incluídos em 2021
Idade ≥ 18 anos
IMC ≥ 30 kg/m²
Diagnóstico de pré-diabetes com HbA1c entre 6,0 e 6,4% ou glicemia de jejum entre 100 e 125mg/dL
História de diabetes ou HbA1c ≥ 6,5%
Uso de agentes hipoglicemiantes nos últimos 90 dias
Mudança do peso corporal (> 5 kg) nos últimos 90 dias
Tratamento com outras medicações anti-obesidade
Semaglutida via subcutânea 1 vez por semana na dose de 2,4 mg por 52 semanas
Incluiu período de titulação da dose por 16 semanas (dose inicial de 0,25 mg 1x/semana com aumento da dose a cada 4 semanas para 0,5 mg, 1,0 mg, 1,7 mg até a dose máxima de 2,4 mg)
Placebo subcutâneo 1 vez na semana por 52 semanas
Todos os participantes receberam orientações individuais de dieta e atividade física por um profissional qualificado
Após a semana 52, os participantes continuaram em seguimento sem tratamento por mais 28 semanas
Primário: percentual de mudança no peso corporal e percentual de participantes que atingiram euglicemia (HbA1c < 6,0% e glicemia de jejum < 100 mg/dL) na semana 52
Secundários: mudança de peso (kg), HbA1c, glicemia de jejum, circunferência abdominal, pressão arterial sistólica, frequência cardíaca, perfil lipídico e percentual de pacientes com perda de peso ≥ 5%, ≥ 10%, ≥ 15% e ≥ 20% na semana 52
Exploratórios: percentual de mudança no peso corporal e demais desfechos citados acima na semana 80, progressão para DM2, mudanças em escores de função física e performance ocupacional (EQ-5D-3L e WLQ-25)
Total (N) = 207 participantes
Semaglutida 2,4 mg (N = 138) x Placebo (N = 69)
Idade média (anos): 53 ± 11 x 53 ± 11
Sexo feminino: 72% x 68%
Etnicidade branca: 90% x 86%
IMC médio (kg/m²): 39,9 x 40,4
HbA1c média: 5,9% x 5,9%
Glicose de Jejum (mg/dL): 105,1 x 107,7
Pressão arterial sistólica (mmHg): 131 x 129
Hipertensão arterial: 46% x 46%
Doença cardiovascular: 10% x 6%
93% dos participantes de ambos os grupos completaram o estudo e 87% completaram o tratamento
O uso de semaglutida resultou em uma perda de peso corporal significativamente maior de -11,2% (IC 95% -13,0 a -9,4; p < 0,0001) em comparação com o grupo placebo.
Após 52 semanas, uma proporção maior significativa dos participantes que utilizaram semaglutida atingiram euglicemia (81%), em comparação com 14% do placebo (IC 95% 8,7 a 45,2; p < 0,0001); após a descontinuação da medicação, a proporção de participantes euglicêmicos reduziu para 44% no grupo semaglutida, em comparação com 18% do grupo placebo.
O uso de semaglutida levou a uma proporção significativamente maior de perda de peso, com 86% dos participantes atingindo perdas ≥ 5% (comparado a 26% com placebo; OR 15,9 IC 95% 7,5 a 33,6; p < 0,0001), 74% com perdas ≥ 10% (comparado a 8% com placebo; OR 32,7 IC 95% 12 a 89,1; p <0,0001), 48% com perdas ≥ 15% (comparado a 2% com placebo; OR 52,2 IC 95% 7,1 a 383,1; p = 0,0001) e 25% com perdas ≥ 20% do peso corporal (comparado a 0% com placebo, OR 39,6 IC 95% 2,4 a 641,2; p = 0,0097).
Após a suspensão da medicação, os participantes que usaram semaglutida apresentaram reganho parcial do peso perdido, mantendo uma diferença de -6,6% em relação ao grupo placebo.
O uso de semaglutida levou a uma redução significativa de HbA1c de -0,5% em comparação com o placebo (IC 95% -0,5 a -0,4; p < 0,0001).
Um menor número de participantes do grupo semaglutida progrediu para DM2 na semana 52 (1% em comparação com 3% no grupo placebo) e na semana 80 (3% em comparação com 8% no grupo placebo).
Participantes em uso de semaglutida também apresentaram uma redução significativa de pressão arterial sistólica, circunferência abdominal, colesterol total, VLDL-c e triglicérides na semana 52 em comparação com o placebo.
Os efeitos colaterais mais frequentes foram gastrointestinais, levando a descontinuação do tratamento em 6% dos participantes do grupo semaglutida e 1% do grupo placebo.
Os seguintes efeitos colaterais sérios foram descritos apenas no grupo semaglutida: dois casos de câncer (1%), 2 casos de pancreatite aguda (1%) e um caso de doença biliar aguda (1%).
Ocorreram 2 óbitos no grupo de semaglutida: um por câncer anaplásico de tireoide e o outro por embolia pulmonar, ambos considerados não relacionados ao tratamento.
Pacientes com obesidade e pré-diabetes que receberam semaglutida apresentaram uma redução significativa do peso e maior reversão para euglicemia em comparação ao placebo.
Estudo multicêntrico com número adequado de participantes
Avaliação de múltiplos desfechos relacionados obesidade e diabetes, incluindo fatores de risco cardiometabólicos
Realização da análise por intenção de tratar, que inclui todos os participantes que receberam pelo menos uma dose de semaglutida ou placebo, refletindo uma abordagem mais prática e realista, compatível com a vida real
Alta taxa de conclusão e aderência
População predominantemente branca e do sexo feminino, o que limita a validade externa do estudo
Glicemia de jejum e HbA1c basais mais próximos do limite inferior da faixa de pré-DM, indicando pacientes com menor risco de progressão para DM
O estudo não utilizou um comparador ativo, como intervenção de estilo de vida de alta intensidade ou metformina, o que limita comparações com práticas de vida real
Dificuldade de diferenciar o quanto da redução da HbA1c se deve à perda de peso ou ao efeito direto da medicação
Autor do conteúdo
Bibiana Boger
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/eficacia-e-seguranca-da-semaglutida-semanal-em-pessoas-com-obesidade-e-pre-diabetes
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