Eficácia e Segurança da Rivaroxabana para Tromboprofilaxia Pós-operatória em Pacientes Após Cirurgia Bariátrica
18 de junho de 2024
6 minutos de leitura
A tromboprofilaxia com rivaroxabana após cirurgia bariátrica é eficaz e segura?
O tromboembolismo venoso é uma causa importante de morbidade e mortalidade após cirurgia bariátrica. Em sua maioria, os eventos tromboembólicos ocorrem após a alta hospitalar e em até 30 dias da cirurgia. Neste contexto, as diretrizes recomendam um período de profilaxia química que pode variar de 7 a 28 dias, a depender do risco do paciente. Mais recentemente, os anticoagulantes diretos (DOACS) se apresentaram como opção à outras estratégias de tromboprofilaxia. No entanto, estudos avaliando desfechos clínicos relacionados à tromboprofilaxia com anticoagulantes diretos em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica são escassos. Assim, o estudo BARIVA foi realizado com o objetivo de avaliar eficácia e segurança do uso da rivaroxabana na tromboprofilaxia por 7 e 28 dias após cirurgia bariátrica.
Ensaio clínico randomizado de fase 2
Multicêntrico (3 centros na Suíça)
Unicego
Estimado que uma amostra de 130 pacientes em cada grupo seria necessária para o estudo
Randomização na razão 1:1 em blocos de tamanhos variados e estratificado por sexo, tipo de cirurgia e centro
Pacientes submetidos à cirurgia bariátrica selecionados entre 2018 e 2021
Idade ≥ 18 anos
IMC ≥35kg/m²
Pacientes com cirurgia bariátrica eletiva agendada ou reoperação após as seguintes intervenções:
Cirurgia de by-pass gástrico em Y-en-roux (RYGB) ou gastrectomia por sleeve (SG)
Conversão de SG para RYGB
Conversão de banda gástrica para SG ou RYGB
Revisão de bolsa gástrica, anastomose gastrojejunal ou revisão de jejuno-jejunostomia
TVP ou embolia pulmonar prévias
IAM, AIT ou AVC dentro de 6 meses antes do estudo.
Sangramento patológico ativo
Hipertensão não controlada
Disfunção hepática grave ou disfunção renal (clearance de creatinina < 30ml/min).
Tratamento concomitante com inibidores potentes do CYP3A4
Tratamento concomitante com um inibidor da glicoproteína-P e um inibidor do CYP3A4 leve a moderado
Tratamento concomitante com um indutor da glicoproteína-P e um indutor potente do CYP3A4
Terapias com outras drogas que pudessem afetar os desfechos do estudo (anticoagulantes, aspirina, outros agentes antiplaquetários, inibidores do fator Xa).
Gravidez, teste de gravidez positivo ou mulheres que amamentam.
Distúrbios de sangramento congênitos ou adquiridos
Intolerância conhecida à rivaroxabana
Grupo 1: Rivaroxabana 10 mg ao dia por 7 dias
Grupo 2: Rivaroxabana 10 mg ao dia por 28 dias
A randomização era realizada no 1º dia de pós-operatório, após exclusão de sangramento clinicamente significativo ou estenose suspeita
Pacientes de ambos os grupos, eram submetidos à ultrassonografia bilateral venosa de membros inferiores após 28 dias, realizada por especialista cego em relação ao grupo de tratamento e à visita clínica de follow-up dos pacientes
Além disso, uma visita de follow-up de segurança era realizada no dia 35 do estudo, por via telefônica
Embolia pulmonar era avaliada através de sinais de sintomas clínicos durante hospitalização e durante visitas de follow-up. Além disso, tal suspeita era confirmada através da realização de angiotomografia de tórax ou de cintilografia ventilação/perfusão
Primário: desfecho composto de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar
Secundários: incidência de TVP (sintomática e assintomática) durante tratamento e follow-up e mortalidade por todas as causas durante o período de follow-up (dentro de 28±2 dias após cirurgia).
Segurança: incidência de sangramento maior, definida pela International Society on Thrombosis and Hemostasis (ISTH) como sangramento levando à transfusão ou a queda nos níveis de hemoglobina ≥ 2g/dl durante intervenção e períodos de observação; porcentagem de pacientes com sangramento não-maior clinicamente relevante, definido pela ISTH, eventos cardiovasculares, alergia ao medicamento estudado ou morte.
MasculinoFeminino
Rivaroxabana 7 dias (N=134) x Rivaroxabana 28 dias (N=135):
Idade (anos): 39,9 (12,1) x 40,1 (12,2)
Peso: 116,5 (19,4) x 119,1 (22,5)
IMC: 41,7 (5,1) x 42,6 (6,5)
Negros: 2,2% x 0,7%
Brancos: 96,3% x 97%
Doenças cardíacas: 4,5% x 6,7%
Diabetes: 17,2% x 7,4%
Tabagismo: 36,6% x 22,2%
Escore ASA:
1: 0,7% x 0%
2: 23,1% x 27,4%
3: 76,1% x 72,6%
Apenas 1 paciente apresentou o desfecho primário de TVP ou embolia pulmonar (0,4%; 95% IC 0,02% - 2,2%)
Este único evento consistiu em uma TVP assintomática em um paciente submetido à cirurgia de gastrectomia por sleeve, no grupo com rivaroxabana por 28 dias
Nenhum paciente apresentou TVP ou EP clinicamente evidente
Eventos de sangramento maior ou sangramento não-maior clinicamente relevante foram observados em 5 pacientes (1,9%): 2 pacientes no grupo de 7 dias e 3 pacientes no grupo de 28 dias. A diferença entre os grupos não foi estatisticamente significativa
Eventos de isquemia cardiovascular ou cerebral e desfechos fatais não foram documentados durante o estudo
Complicações pós-operatórias (exceto eventos de sangramento) ocorreram em 7 pacientes no grupo 1 e em 17 pacientes no grupo 2. No entanto, a diferença entre os grupos não foi estatisticamente significativa.
No total, 72 eventos adversos ocorreram em 58 pacientes (21,6%). Desses, 19 foram eventos adversos importantes e 12 pacientes descontinuaram a medicação por conta de evento adverso.
A taxa de reação alérgica suspeita foi similar em ambos os grupos de tratamento.
A tromboprofilaxia com 10mg ao dia de rivaroxabana foi associada a uma baixa incidência de eventos tromboembólicos, independente do tempo de tratamento (7 ou 28 dias)
Avaliou o impacto de um anticoagulante direto oral, de boa comodidade posológica sobre a prevenção de eventos tromboembólicos, o que tem grande impacto em nossa prática clínica
Estudou a eficácia da medicação em dois regimes terapêuticos distintos (7 e 28 dias).
Boa proporção de distribuição de comorbidades entre os grupos. Dessa forma, reduz viés de seleção.
Pouca heterogeneidade étnica
Baixa proporção de pacientes do sexo masculino
Avaliou majoritariamente pacientes de baixo risco cardiovascular: apenas uma pequena porcentagem possuía doenças cardíacas ou diabetes, o que não corresponde à grande maioria dos pacientes portadores de obesidade e submetidos à cirurgia bariátrica
Utilizou desfecho composto como seu desfecho primário, o que prejudica a confiabilidade dos resultados
O estudo não apresentou um grupo que tivesse recebido tromboprofilaxia com heparina de baixo peso molecular (HBPM). Dessa forma, não podemos comparar a eficácia e segurança do uso da HBPM com a do uso da rivaroxabana, em qualquer um dos tempos de tratamento
Número de eventos muito baixo. Considerando que TVP ou TEP é raro neste perfil de pacientes, a amostra avaliada pode não ter sido suficiente ( estudo com baixo poder)
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/eficacia-e-seguranca-da-rivaroxabana-para-tromboprofilaxia-pos-operatoria-em-pacientes-apos-cirurgia-bariatrica
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