Eficácia e Segurança a Longo Prazo do Ravulizumabe em Adultos com Miastenia Grave Generalizada Positiva para Anticorpos Contra o Receptor de Acetilcolina: Resultados da Extensão Open-label do CHAMPION MG
23 de janeiro de 2025
6 minutos de leitura
A terapia com ravulizumabe proporciona uma redução sustentada dos sintomas em pacientes com miastenia grave generalizada positiva para anticorpos anti-receptor de acetilcolina (anti-AChR)?
A miastenia grave (MG) é uma doença autoimune crônica que afeta a junção neuromuscular, levando a fraqueza muscular com fatigabilidade, caracterizada por piora após atividades e melhora ao repouso. Aproximadamente 85% dos pacientes com a forma generalizada da doença (gMG) têm autoanticorpos contra o receptor de acetilcolina (AChR) e a ativação do complemento é um mecanismo chave na patogênese. Terapias tradicionais incluem inibidores de colinesterase e imunossupressores, mas têm início de ação lento e efeitos colaterais significativos. O ravulizumabe, um anticorpo monoclonal que inibe o complemento (proteína C5), foi testado nesse perfil de pacientes e dados do estudo CHAMPION MG indicam melhora de desfechos clínicos e boa tolerabilidade. Este estudo avalia a eficácia sustentada da medicação a partir de uma análise intermediária da extensão open-label do estudo CHAMPION MG, incluindo dados de até 60 semanas de tratamento.
Continuidade Open-label do ensaio clínico randomizado CHAMPION-MG, que foi:
Multicêntrico (85 centros em 13 países)
Duplo-cego
Controlado por Placebo
Duração de 26 semanas
Randomização (1:1) para ravulizumabe e placebo usando tecnologia de resposta interativa e estratificada por região.
Planejado 160 pacientes totais para fornecer ao estudo poder estatístico de 90% para encontrar uma diferença mínima clinicamente importante (MCID) na escala MG-ADL de 2 pontos, com nível de significância bicaudal de 0,05 para a fase ensaio clínico.
Após a conclusão da fase controlada, todos os pacientes foram convidados a ingressar nesta extensão aberta, recebendo ravulizumabe em regime ajustado ao peso corporal.
Duração: até 4 anos de acompanhamento.
Pacientes adultos com gMG positiva para anticorpos anti-AChR incluídos entre 2019 e 2020.
Idade igual ou superior a 18 anos e peso de pelo menos 40 kg.
Diagnóstico de gMG realizado há pelo menos 6 meses.
Anticorpo anti-AChR positivo
Classificação clínica da Myasthenia Gravis Foundation of America entre as classes II e IV.
Escore total de 6 ou mais na escala MG-ADL.
Vacinação contra infecções meningocócicas nos 3 anos anteriores.
Presença de timoma ativo ou não tratado.
Histórico de carcinoma tímico ou malignidade tímica (exceto se curado com tratamento adequado e sem evidência de recidiva por 5 anos ou mais antes da triagem).
Histórico de timectomia nos 12 meses anteriores à triagem.
Histórico de infecção por Neisseria meningitidis.
Uso de imunoglobulina intravenosa ou plasmaférese nas 4 semanas anteriores à randomização.
Uso de rituximabe nos 6 meses anteriores à randomização.
Tratamento prévio com inibidores do complemento (ex.: eculizumabe).
Grupo Ravulizumabe (Intervenção): dose de ataque no Dia 1 baseada no peso corporal:
≥40 kg e <60 kg: 2400 mg
≥60 kg e <100 kg: 2700 mg
≥100 kg: 3000 mg
Manutenção: doses administradas no Dia 15 e a cada 8 semanas, ajustadas por peso: ≥40 kg e <60 kg: 3000 mg; ≥60 kg e <100 kg: 3300 mg; ≥100 kg: 3600 mg
Grupo Placebo (Controle): placebo administrado nas mesmas datas e intervalos, até a Semana 26.
Grupo Placebo-Ravulizumabe: iniciou o mesmo regime descrito para o grupo ravulizumabe da fase controlada, com duração de até 4 anos.
Grupo Ravulizumabe-Ravulizumabe: Recebeu 900 mg na Semana 26, seguido de doses de manutenção ajustadas ao peso (3000 mg, 3300 mg ou 3600 mg a cada 8 semanas), por até 4 anos.
Terapias de resgate (como glicocorticoides em altas doses, plasmaférese ou imunoglobulina intravenosa) foram permitidas caso um paciente apresentasse piora dos sintomas ou deterioração clínica, em ambos os grupos.
Permitido uso de terapias imunossupressoras, incluindo glicocorticoides orais, assim como inibidores de colinesterase. Mudanças nas doses eram permitidas na fase open-label, a critério dos investigadores.
Desfecho primário: gravidade dos sintomas da miastenia gravis pela variação no escore total da escala MG-ADL
Desfechos secundários: variação no escore total da escala QMG; variação no escore da escala MG-QOL15r; mudança no escore Neuro-QoL Fatigue; melhora de 5 pontos no escore total da QMG ou melhora de 3 pontos da escala MG-ADL (responder analysis); deterioração clínica e necessidade de terapia de resgate também foram avaliados.
MasculinoFeminino
Ravulizumabe-Ravulizumabe (N=78) x Placebo-Ravulizumabe (N=83):
Sexo feminino: 51,3% // 50,6%
Idade (anos), média: 58,2 // 53,6
Raça branca: 78,2% // 68,7%
Raça asiática: 16,7% // 16,9%
Raça negra ou afro-americana: 2,6% // 4,8%
Outra/desconhecida/não informada: 2,6% // 9,6%
Classificação MGFA Classe IIa/b: 46,2% // 42,2%
Classificação MGFA Classe IIIa/b: 47,4% // 51,8%
Classificação MGFA Classe IVa/b: 6,4% // 6,0%
Pontuação total MG-ADL, média: 9,2 // 8,9
Pontuação total QMG, média: 14,8 // 14,3
Grupo Ravulizumabe–Ravulizumabe:
O tratamento reduziu sustentadamente os sintomas da miastenia gravis. A variação média nos escores foi de -4,0 no MG-ADL (p < 0,0001) e -4,1 no QMG (p < 0,0001).
Na semana 60, 76,4% melhoraram ≥ 3 pontos no MG-ADL e 49,0% ≥ 5 pontos no QMG (critérios de resposta ao tratamento definidos do estudo).
Grupo Placebo–Ravulizumabe:
Melhora observada já na 2 a 4 semanas após o início do tratamento.
Variação médica nos escores MG-ADL e QMG foram de -1,7 (p = 0,0007) e -3,1 (p < 0,0001), respectivamente.
Na semana 60, 43,1% melhoraram ≥ 3 pontos no MG-ADL e 32,7% ≥ 5 pontos no QMG (critérios de resposta ao tratamento definidos do estudo).
Houve interrupção do uso de corticosteroides em 6 pacientes do grupo ravulizumabe–ravulizumabe e em 4 do grupo placebo–ravulizumabe. A dose foi reduzida em 19 e 26 pacientes, respectivamente. Apenas 2 pacientes em cada grupo iniciaram o uso, e aumentos de dose foram registrados em 6 e 3 pacientes, respectivamente.
Houve uma redução de 59,8% na taxa de deterioração clínica por paciente-ano (p = 0,0019) em comparação aos valores pré-estudo, e uma redução de 71,1% (p = 0,0011) em comparação ao placebo.
A maioria dos eventos adversos foi leve ou moderada (89%), sendo dor abdominal, tonturas e infecções do trato respiratório superior os mais comuns.
Eventos adversos graves ocorreram em 24,3% dos pacientes (41 no total), incluindo disfagia, tendinite supurativa, piora da miastenia gravis, erisipela, pneumonia e estenose mitral (estes dois últimos em um mesmo paciente)
Nenhum caso de infecção meningocócica.
Ocorreram 4 óbitos, nenhum relacionado ao tratamento
Ravulizumabe teve eficácia sustentada na redução da sintomatologia de pacientes com Miastenia Generalizada e anticorpo anti-AChR positivo, avaliada através da escala MG-ADL.
Dados ausentes não foram imputados.
A inclusão de pacientes em uso de outros imunossupressores torna o estudo mais representativo.
O estudo utilizou diversas escalas para avaliar sintomas e qualidade de vida, tanto de forma subjetiva quanto por meio de avaliações clínicas.
Inclusão de pacientes com diferentes gravidades
Alta taxa de desistência, aproximadamente 30% em ambos os grupos.
Viés de seleção pode comprometer análise haja vista alta taxa de desistência.
Estudo realizado durante a pandemia do COVID-19, o que pode ter afetado os desfechos de segurança.
Autor do conteúdo
Fernando Falcão
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/eficacia-e-seguranca-a-longo-prazo-do-ravulizumabe-em-adultos-com-miastenia-grave-generalizada-positiva-para-anticorpos-contra-o-receptor-de-acetilcolina-resultados-da-extensao-open-label-do-champion-mg
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