Efeitos de Dieta e Exercício na Prevenção de Diabetes Tipo 2 em Pessoas com Intolerância à Glicose
08 de outubro de 2024
6 minutos de leitura
Gabriel Ibrahim
Mudança no estilo de vida (exercício físico e/ou dieta) reduz a incidência de diabetes tipo 2?
O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) gera complicações vasculares que promovem um aumento considerável de morbidade e mortalidade precoce. O estágio de intolerância à glicose (IGT) caracteriza-se por hiperglicemia de menor intensidade, acompanhada por risco elevado de evolução para DM2 – entre 25 e 75% dos portadores de IGT evoluem para DM2 em 10 anos, com uma progressão anual entre 1 e 10%. Fatores de risco associados à velocidade de progressão incluem idade, obesidade, hiperinsulinemia e resistência insulínica. Portanto, atuar na fase de IGT e em sua progressão poderia reduzir a incidência de DM2, além de prevenir ou postergar o surgimento de suas repercussões. Este estudo investigou os efeitos das intervenções de dieta e exercício, separadamente e em combinação, na incidência de diabetes em pessoas com tolerância à glicose comprometida (IGT).
Ensaio clínico randomizado controlado e não-cego
Multicêntrico (33 clínicas de saúde da cidade de Da Qing, na China)
Randomização por cluster: a randomização não foi feita individualmente para cada participante, mas sim por clínica. Cada clínica foi designada para realizar uma das intervenções (dieta, exercício, dieta + exercício) ou o controle em todos os participantes elegíveis que a frequentavam.
A estratificação foi feita com base no Índice de Massa Corporal (IMC) dos participantes. Os indivíduos foram classificados em dois grupos: aqueles com IMC abaixo de 25 kg/m² (magros) e aqueles com IMC igual ou superior a 25 kg/m² (sobrepeso).
Randomização: 4 grupos
Controle
Atividade física
Dieta/educação alimentar
Atividade física + dieta
Duração do estudo: 6 anos
Pacientes diagnosticados com intolerância à glicose (IGT) incluídos entre junho e dezembro de 1986
Idade ≥ 25 anos;
IGT: Glicose plasmática em jejum < 140 mg/dL, com TOTG entre 140 e 200 mg/dL.
*Vale ressaltar que o valor normal da glicose em jejum é < 115 mg/dL.
Diabetes mellitus diagnosticada
Uso de medicamentos – hipoglicemiantes orais e insulina
Grupo dieta: aconselhamento individual e em grupos periodicamente, além de uma lista com substitutos alimentares
IMC < 25 kg/m2 com dieta 25-30 kcal/kg, 55-65% carboidratos, 10-15% proteínas e 25-30% gorduras
IMC ≥ 25 kg/m2 reduzir ingesta calórica para perda de 0,5 a 1 kg por mês até atingir IMC 23 kg/m2
Grupo exercício físico: estímulo para aumentar exercício de lazer pelo menos 1 unidade/dia (ver abaixo), e em pelo menos 2 unidades/dia para aqueles < 50 anos e sem doença cardiovascular ou artrite. Aconselhamento periódico e ajuste de intensidade dos exercícios conforme o perfil do paciente
Grupo dieta + exercício físico (combinado): intervenções somadas dos 2 grupos anteriores
Informações gerais sobre diabetes e mudanças no estilo de vida, sem treinamentos direcionados
Toda a equipe multidisciplinar (médicos, enfermeiros, técnicos) foi submetida a treinamento
Primário: diagnóstico de diabetes mellitus (estabelecido conforme critérios diagnósticos da OMS – Glicose em jejum ≥ 140 mg/dL ou 2 h pós prandial ≥ 200 mg/dL, com TOTG confirmatório 7 – 14 dias após)
Secundário: hiperglicemia inequívoca ≥ 140 mg/dL
MasculinoFeminino
Idade 45 ± 9,1anos // IMC 25,8 ± 3,8 kg/m2 // glicose jejum 100,62 ± 14,58 mg/dL // 2h pós prandial 162 ± 16,02 mg/dL
Pacientes (n): 133 grupo controle // 130 grupo dieta // 141 grupo exercício físico // 126 grupo combinado
Glicose (mg/dL):
Jejum: 136,62 ± 46,62 controle // 124,92 ± 80,82 dieta // 122,94 ± 40,32 exercício // 128,7 ± 48,96 combinado // 128,34 ± 55,98 total
2h pós prandial: 233,82 ± 75,42 controle // 189,18 ± 88,02 dieta // 189,18 ± 70,74 exercício // 193,68 ± 78,66 combinado // 198,9 ± 79,38 total
Houve uma redução significativa na incidência cumulativa de diabetes nas clínicas com intervenção ativa (dieta, exercício ou combinado) em comparação com o grupo controle: 65,9% controle vs 47,1% dieta, 44,2% exercício e 44,6% combinado. Entre os grupos de intervenção, não houve diferença estatisticamente significativa.
Indivíduos nas clínicas de intervenção apresentaram uma incidência significativamente menor de diabetes em comparação com os controles.
No grupo controle, a taxa de diabetes foi maior entre pacientes com sobrepeso em comparação com aqueles de peso normal (17,2 vs 13,3/100 pessoas-ano).
Nos grupos de intervenção, a taxa de diabetes foi menor tanto em indivíduos com sobrepeso quanto com peso normal, exceto no grupo de dieta para aqueles com peso normal:
Peso normal: 8,3 dieta (sem significância) // 5,1 exercício (P < 0,01) // 6,8 combinado (P < 0,05).
Sobrepeso: 11,5 dieta // 10,8 exercício // 11,4 combinado (todos P < 0,05).
Pacientes nos grupos de intervenção apresentaram perda significativa de peso, o que impactou as interpretações baseadas no IMC (peso normal vs sobrepeso), mas a atualização do IMC não influenciou os resultados gerais.
Na análise de risco proporcional, houve uma redução geral da incidência de diabetes de 33% no grupo dieta (P < 0,03), 47% no grupo exercício (P < 0,0005), e 38% no grupo combinado (P < 0,005). Ao ajustar para glicose plasmática inicial e IMC, as reduções foram 31%, 46% e 42%, respectivamente.
Em pacientes com intolerância à glicose, a implementação de um programa de mudanças de estilo de vida em um período de 6 anos de seguimento foi capaz de reduzir significativamente a incidência de diabetes.
Primeiro ensaio clínico randomizado com demonstração de redução significativa de diabetes em indivíduos com IGT até a data da publicação
Tamanho da população inicial e homogeneização proporcional entre grupos
Recrutamento concentrado em centros de atendimento, com uma supervisão única, permitindo treinamento homogêneo e padronização das intervenções
População residia em um contexto com muita homogeneidade de estilo de vida (área petrolífera chinesa, com hábitos alimentares extremamente regulares), reduzindo capacidade de validade externa
Incapacidade de cegar profissionais nas intervenções
O uso do IMC como critério de subdivisão entre grupos foi uma fragilidade, pois é uma medida dinâmica que permite a migração de pacientes entre categorias. Além disso, não reflete adequadamente a composição corporal, especialmente quando comparado a outras medidas, como a circunferência abdominal na síndrome metabólica.
Ausência de um delineamento claro para os desfechos utilizados para interromper o seguimento de determinados pacientes. O único desfecho mencionado foi o diagnóstico de diabetes, e a decisão sobre o encerramento do seguimento foi delegada ao vice-chairman do comitê de coordenação do estudo.
Autor do conteúdo
Andressa Leitao
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/efeitos-de-dieta-e-exercicio-na-prevencao-de-diabetes-tipo-2-em-pessoas-com-intolerancia-a-glicose
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