Efeitos da Terapia Hemodinâmica Guiada por Alvos na Ocorrência de Complicações Pós-operatórias em Pacientes de Risco Cirúrgico Baixo e Intermediário
27 de junho de 2024
5 minutos de leitura
Uma estratégia de monitorização hemodinâmica perioperatória em pacientes cirúrgicos de baixo e médio risco resulta em melhores desfechos?
Aproximadamente 240 milhões de cirurgias são realizadas todos os anos, sendo a maioria dos pacientes com risco médio e baixo. Mesmo nessa população complicações podem ocorrer, resultando em aumento do tempo de internação, aumento de custos e menor sobrevida a longo prazo. Muitas das complicações perioperatórias são atribuíveis ao desbalanço entre oferta e consumo de oxigênio, podendo em teoria ser amenizadas com um bom suporte hemodinâmico durante a cirurgia. A otimização do uso de fluidos, vasopressores e inotrópicos baseada no débito cardíaco e outras variáveis hemodinâmicas (terapia hemodinâmica guiada por alvos) pode resultar em melhores desfechos pós-operatórios, porém estudos recentes apresentaram resultados controversos. Diante dessas incertezas, esse estudo foi realizado para testar o impacto do suporte hemodinâmico guiado por metas (com o uso do doppler esofágico) na incidência de complicações pós-operatórias em cirurgia de grande porte em pacientes com risco baixo ou intermediário.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico (5 centros na Espanha)
Não cego
Foi calculado que 105 pacientes por grupo seriam necessários para demonstrar uma diferença absoluta de 19% entre os grupos (de 49% para 30%), com 80% de poder e um erro alfa de 5%. Visando incluir números iguais de pacientes em cada tipo de cirurgia (abdominal, urológica, ginecológica ou ortopédica), foi planejada uma amostra final de 840 pacientes
Pacientes submetidos a cirurgia eletiva de grande porte incluídos entre 2011 e 2014
Idade ≥18 anos
Submetidos a cirurgia de grande porte
Abdominal, urológica, ginecológica ou ortopédica
Cirurgia de emergência
ASA > 3
Contraindicações para o uso de doppler esofágico
Patologias aórticas que limitem a interpretação hemodinâmica
Terapia hemodinâmica guiada por metas
Era realizada a medida do débito cardíaco através do doppler esofágico a cada 5 minutos, sendo o uso de fluídos, inotrópicos e vasopressores guiados através de um protocolo específico.
Cuidado usual
Uso contínuo de cristaloides balanceados, bem como coloides, vasopressores e inotrópicos à critério do anestesista
A monitorização do débito cardíaco não era realizada
Todos os pacientes eram submetidos à anestesia geral (indução endovenosa, manutenção com sevoflurano) e ao uso de bloqueadores neuromusculares
Em ambos os grupos as perdas de sangue eram repostas com coloides em uma proporção 1:1 e concentrados de hemácia eram administrados com Hb < 10 mg/dl em pacientes cardíacos e < 7 mg/dl em pacientes sem doenças cardíacas.
Primário: incidência de complicações pós-operatórias moderadas a graves em 180 dias
Secundários: tempo no hospital, tempo na UTI, reinternações, tempo até a ingesta oral, tempo até a deambulação, mortalidade por todas as causas em 180 dias.
MasculinoFeminino
As características iniciais dos grupos foram similares:
Terapia guiada por metas (N=224) x Cuidado usual (N=226)
Idade: 66,3 x 64,2 anos
Sexo masculino: 60,8% x 63,0%
ASA
1: 6,7% x 16,6%
2: 58,4% x 64,4%
3: 34,9% x 19%
IMC: 27,3 x 27,2 Kg/m2
Tipo de cirurgia:
Gastrointestinal: 77,8% x 73%
Urológica: 23,0% x 18,0%
Ginecológica: 5,3% x 9,0%
Cirurgia laparoscópica: 50,2% x 51,7%
O estudo foi interrompido precocemente devido ao recrutamento abaixo do esperado
A ocorrência de complicações foi de 8,6% no grupo intervenção e 16,6% no grupo controle (odds ratio 0,48; IC 95% 0,27 a 0,89; P = 0,018)
Dentre os eventos adversos, a intervenção foi particularmente eficaz em prevenir a ocorrência de lesão renal aguda, edema pulmonar, SDRA, pneumonia e infecção de corrente sanguínea
O tempo de internação no hospital e na UTI foi menor no grupo terapia guiada por metas em comparação ao grupo controle (5 vs 7 dias e 16 vs 24 horas, respectivamente).
O tempo até a ingesta oral e até a deambulação foram menores no grupo intervenção.
O volume médio de fluídos, o uso de vasopressores e inotrópicos e o uso de hemocomponentes foi similar entre os grupos durante o intraoperatório
A mortalidade em 180 dias foi de 4,8% no grupo terapia por metas e 4,5% no grupo cuidado usual
O uso de terapia hemodinâmica guiada pelo doppler transesofágico resultou em menor complicações pós-operatórias
Estudo multicêntrico e randomizado
Desfecho relevante para os pacientes
Estudo não cego, o que pode introduzir viés no manejo dos pacientes e no registro de complicações.
Estudo interrompido precocemente
Autor do conteúdo
Luis Júnior
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/efeitos-da-terapia-hemodinamica-guiada-por-alvos-na-ocorrencia-de-complicacoes-pos-operatorias-em-pacientes-de-risco-cirurgico-baixo-e-intermediario
Compartilhe
Copyright © 2024 Portal de Conteúdos MEDCode. Todos os direitos reservados.