Efeitos da Semaglutida Sobre a Doença Renal Crônica em Pacientes com Diabetes Tipo 2.
04 de junho de 2024
6 minutos de leitura
Qual a eficácia e segurança da semaglutida para prevenção de falência renal, e morte por causas renais ou cardiovasculares em pacientes com diabetes tipo 2 e doença renal crônica?
Pacientes com diabetes tipo 2 (DM2) e doença renal crônica (DRC) estão sob risco elevado de falência renal, eventos cardiovasculares e morte. Estudos anteriores mostraram benefício de drogas para o DM2 em prevenir a piora da doença renal, tais como os inibidores da SGLT2. No entanto, ainda não é conhecido se os análogos do GLP1, tal como a semaglutida, poderiam mitigar tais riscos. Assim, foi realizado o estudo FLOW, com o objetivo de avaliar a eficácia e segurança da semaglutida para prevenção de falência renal, perda substancial de função renal e morte por causas renais ou cardiovasculares em pacientes com DM2 e DRC
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico (387 centros em 28 países)
Duplo cego
Um número mínimo de 854 eventos de desfecho primário forneceria um poder de 90% de detectar um risco relativo 20% menor no grupo semaglutida do que no grupo placebo
Foram randomizados 3533 pacientes, na razão 1:1, utilizando um sistema eletrônico e estratificado pelo uso ou não de iSGLT2
Patrocinado pela NovoNordisk que participou do comitê diretivo, análises e assistência técnica ao estudo
Pacientes com diabetes tipo 2 e doença renal crônica de alto risco selecionados entre 2019 e 2021
Idade ≥ 18 anos
DM2 diagnosticada
HbA1c ≤10%
Disfunção renal, definida como:
Taxa de filtração glomerular estimada ≥ 50 e ≤ 75ml/min/1,73m² (CKD-EPI) e razão albumina-creatinina urinária > 300 e < 5000mg/g OU
Taxa de filtração glomerular estimada ≥ 25 e < 50ml/min/1,73m² (CKD-EPI) e razão albumina-creatinina urinária > 100 e < 5000mg/g.
Tratamento com doses máximas estabelecidas ou toleradas de bloqueadores do sistema renina-angiotensina-aldosterona
Hipersensibilidade à droga do estudo
Mulheres gestantes, em amamentação ou que pretendessem engravidar
Doença renal hereditária ou congênita
Uso de qualquer agonista do GLP-1.
História pessoal ou de parentes de 1º grau de neoplasia múltipla endócrina do tipo ou de carcinoma medular de tireóide
IAM, AVC, hospitalização por angina instável ou AIT dentro de 60 dias
Classificação NYHA classe IV
Revascularização arterial coronária, carotídea ou periférica programada
Diálise peritoneal ou hemodiálise intermitente, crônica
Maculopatia ou retinopatia diabética potencialmente instável e não controlada
História atual ou pregressa de neoplasia maligna nos últimos 5 anos
Transplante prévio de órgão sólido ou em fila de espera para transplante de órgão sólido
Combinação do uso de IECA e BRA
Semaglutida subcutâneo 1mg 1 vez por semana
Um esquema de progressão de doses de 8 semanas era realizado, desde que efeitos colaterais pouco toleráveis não ocorressem. Iniciava-se com dose de 0,25mg/semana por 4 semanas; então, aumentava-se a dose para 0,5mg/semana por outras 4 semanas, seguida por uma dose de manutenção de 1mg/semana que permanecia durante o restante do período de tratamento
Placebo subcutâneo 1mg 1 vez por semana
Progressão de doses conforme o grupo intervenção
Caso efeitos adversos pouco toleráveis ocorressem, os intervalos de progressão de doses poderiam ser estendidos, o tratamento poderia ser pausado ou doses de manutenção mais baixas poderiam ser usadas
Tempo médio de follow-up: 3,4 anos
Primário: desfecho composto de eventos maiores relacionados à doença renal
Início de insuficiência renal (começo de diálise de longo prazo, transplante renal ou redução na taxa de filtração glomerular estimada para < 15ml/min/1,73m² sustentada por ≥ 28 dias); redução sustentada (≥ 28 dias) maior ou igual a 50% na taxa de filtração glomerular desde a avaliação inicial ou morte por causas renais ou cardiovasculares
Secundários: taxa anual de mudança na taxa de filtração glomerular (calculada pelo CKD-EPI), tempo até a primeira ocorrência de uma composição de eventos adversos cardiovasculares maiores que consistem em: IAM não-fatal, AVC isquêmico não-fatal e morte cardiovascular; tempo até a ocorrência de morte por todas as causas
MasculinoFeminino
Semaglutida (N=1767) x Placebo (N=1766)
Idade (anos): 66,6±9 x 66,7±9
Brancos: 65,4% x 66,1%
Asiáticos: 24,8% x 23%
Negros: 4,4% x 4,6%
HbA1c (média): 7,8±1,3 x 7,8±1,3
IMC: 31,9±6,1 x 32±6,5
Peso corporal (kg): 89,5±19,8 x 89,8±21,2
Pressão arterial sistólica (mmHg): 138,9±16,1 x 138,4±15,4
Pressão arterial diastólica (mmHg): 76,8±10 x 76,1±10
Duração da diabetes:
< 15 anos: 43,8% x 42,6%
≥ 15 anos: 56,1% x 57,4%
Insuficiência cardíaca crônica: 19,4% x 19%
Tabagismo
Atual: 12,6% x 11,7%
Ex-tabagista: 37,4% x 39,4%
Nunca fumou: 50% x 48,9%
Taxa de filtração glomerular (ml/min/1,73m²): 46,9±15,6 x 47,1±14,7
Razão albumina-creatinina urinária média: 582,3 x 557,8
Estudo interrompido precocemente devido à comprovação de eficácia
O desfecho primário de eventos renais foi menos frequentes no grupo semaglutida do que no grupo placebo (331 primeiros-eventos [5,8 por 100 pacientes-ano] versus 410 primeiros-eventos [7,5 por 100 pacientes-ano]), o que resultou numa redução do risco relativo de 24% (hazard ratio 0,76; 95% IC 0,66 a 0,88; p=0,0003)
Houve um menor risco com a semaglutida de ocorrência do desfecho de componentes específicos renais do desfecho primário (hazard ratio 0,79; 95% IC 0,66 a 0,94), bem como em morte por causas cardiovasculares (hazard ratio 0,71; 95% IC 0,56 a 0,89)
O grupo semaglutida apresentou uma queda mais lenta na taxa média anual de mudança na taxa de filtração glomerular (-2,19 versus – 3,36ml/min/1,73m² por ano; diferença entre grupos de 1,16; 95% IC 0,86 a 1,47; p<0,001)
Risco de eventos cardiovasculares maiores foi 18% menor no grupo semaglutida, quando comparado ao grupo controle (212 versus 254 eventos; hazard ratio 0,82; 95% IC 0,68 a 0,98 p=0,029)
Risco de morte por qualquer causa foi 20% menor no grupo semaglutida, quando comparado ao grupo controle (227 versus 279 eventos; hazard ratio 0,80; 95% IC 0,67 a 0,95, p=0,01)
Eventos adversos graves foram reportados em menos pacientes no grupo semaglutida do que no grupo controle (877 [49,6%] versus 950 [53,8%])
Semaglutida, em dose semanal de 1mg, reduziu o risco de desfechos renais clinicamente importantes, eventos cardiovasculares maiores e morte por qualquer causa em pacientes com diabetes tipo 2 e doença renal crônica
Avaliou a eficácia e segurança de uma medicação de boa comodidade posológica sobre mortalidade e desfechos renais e cardiovasculares graves em um perfil de pacientes de alto risco cardiovascular, o que impacta muito nossa prática clínica
Os pacientes selecionados já eram tratados com IECA ou BRA, drogas com eficácia comprovada sobre redução de mortalidade cardiovascular e sobre proteção renal, o que dá mais validade ao estudo e reduz viés de tratamento.
Elevado número amostral e multicêntrico, com maior validade externa
Boa proporção de distribuição de comorbidades entre os grupos, o que reduz viés de seleção.
Comparou a semaglutida 1mg com o placebo e não com doses maiores de semaglutida. Dessa forma, não se pode afirmar que os resultados do FLOW podem ser aplicados com o uso de doses maiores da semaglutida
Baixa proporção de pacientes do sexo feminino
Incluiu apenas pacientes com DRC e DM2 de risco cardiovascular mais elevado, com proteinúria elevada. Seus resultados não podem ser aplicados em pacientes de risco mais baixo
Participação muito ativa da indústria patrocinadora em diversas etapas do estudo
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/efeitos-da-semaglutida-sobre-a-doenca-renal-cronica-em-pacientes-com-diabetes-tipo-2
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