Efeitos da Levotiroxina no Hipotireoidismo Subclínico e na Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Reduzida
30 de janeiro de 2025
6 minutos de leitura
Em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER) e hipotireoidismo subclínico, a adição de levotiroxina é eficaz e segura em melhorar a capacidade funcional para exercícios?
O hipotireoidismo subclínico (HSC) é considerado um estágio inicial do hipotireoidismo e é uma condição prevalente na insuficiência cardíaca (IC). As diretrizes atuais recomendam a reposição do hormônio tireoidiano apenas em casos de hipotireoidismo manifesto. A terapia de rotina para HSC não é recomendada devido à ausência de benefícios claros estudados. Para pacientes com HSC combinado à IC, as diretrizes não fornecem orientações específicas de tratamento, embora evidências crescentes indicam que a prevalência de HSC na população com IC pode variar entre 5% e 12%. Além disso, há uma forte associação entre HSC e doenças cardiovasculares. Diante disso, este estudo randomizado foi realizado com o objetivo de avaliar se o tratamento do HSC em pacientes com ICFER, por meio da adição de reposição de hormônio tireoidiano à terapia padrão, pode melhorar a capacidade funcional para exercícios desses pacientes.
Ensaio clínico randomizado.
Multicêntrico (5 centros na China).
Estudo não cego.
Randomização em proporção 1:1.
Estimou-se que 124 pacientes, com 62 pacientes em cada
grupo, permitiria a detecção de mudança média, de pelo menos 40 metros no teste de caminhada de 6 minutos, na visita de 24 semanas do estudo, após tratamento combinado, com poder de 80%, nível de significância bilateral de 5% e levando em conta uma potencial taxa de abandono de 20%.
Pacientes diagnosticados com HSC e ICFER selecionados entre 2017 e 2018.
Classe funcional NYHA II-III;
Fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) ≤ 40% por ecocardiografia durante triagem e randomização;
HSC diagnosticado (TSH sérico: entre os limites superiores de normalidade e 10 mUI/L e nível de T4 livre normal);
Recebimento de tratamento médico ideal com dose alvo ou dose máxima tolerável de medicações para ICFER.
IC aguda ou exacerbação aguda de ICFER nas últimas 2 semanas, antes da seleção;
Terapia de ressincronização cardíaca programada ou transplante cardíaco;
História de tumor maligno ou expectativa de vida menor que 12 meses;
História de disfunção de tireoide ou uso de medicamentos que possam afetar a função tireoidiana (carbimazol, propiltiouracil, amiodarona, lítio);
Gravidez ou lactação;
Contraindicação ou intolerância à terapia baseada em evidências para ICFER, como betabloqueador, inibidor da enzima conversora de angiotensina ou bloqueador do receptor de angiotensina;
Disfunção renal grave ou insuficiência hepática significativa.
Tratamento combinado (reposição de hormônio tireoidiano [LT4] + terapia padrão para ICFER).
Levotiroxina 12,5 mcg via oral ao dia, ajustado conforme o TSH avaliado em 4, 8 e 12 semanas. A meta para o ajuste de dose era um TSH normal.
Terapia padrão para ICFER.
Primário: Diferença da distância percorrida no teste de caminhada de 6 minutos (TC6) entre a visita de 24 semanas e a avaliação inicial.
Secundários: mudança na classificação NYHA dentro da visita de 24 semanas; diferença nos níveis plasmáticos de peptídeo natriurético tipo N-terminal pró-B (NT-proBNP) entre a visita de 24 semanas e a avaliação inicial; avaliação da qualidade de vida, ou seja, a diferença no Minnesota Living With Heart Failure Questionnaire (MLHFQ) entre a visita de 24 semanas e visita inical; (4) diferença nas mensurações de imagem de ressonância magnética cardíaca e ecocardiograma entre a visita de 24 semanas e a visita inicial; porcentagem de pacientes que apresentaram morte cardiovascular, reinternação por IC, doença cardiovascular, arritmia grave, acidente vascular cerebral.
MasculinoFeminino
Grupo Intervenção (N=57) x Grupo Controle (N=60):
Idade (anos): 58,5 x 57,7
Peso (kg): 73,8 x 72,8
Pressão arterial sistólica (mmHg): 114,58 x 119,34
Pressão arterial diastólica (mmHg): 74,12 x 77,42
Diabetes mellitus: 24,5% x 28,8%
Hipertensão arterial: 36,8% x 55%
Dislipidemia: 31,5% x 28,33%
Tabagismo: 47,37% x 48,33%
Disfunção ventricular: 98,25% x 98,33%
Uso de betabloqueadores: 83,3% x 90,5%
Uso de inibidores da enzima conversora da angiotensina: 66,6% x 64,1%
Uso de antagonistas do receptor da aldosterona: 88,6% x 84,91%
Diuréticos de alça: 88,8% x 92,4%
Uso de aspirina: 35,19% x 35,85%
Houve melhora na distância percorrida no teste de caminhada de 6 minutos nos pacientes que receberam levotiroxina.
A melhora na distância percorrida no TC6 desde a avaliação inicial até a visita de 24 semanas no grupo intervenção foi de 70,08 m e 27,73 m no grupo controle (p < 0,001).
A administração de L-T4 manteve mudança significativa na diferença de distância percorrida no TC6 após o ajuste dos resultados para idade, sexo, FEVE, TSH e história de hipertensão. A diferença média percorrida ajustada foi de 47,40 m (IC 95%, 11,10–83,71; p = 0,011).
A comparação entre dois grupos não revelou diferença significativa no MLHFQ, nos valores séricos de peptídeo natriurético pró-tipo B N-terminal (NT-proBNP) ou em medidas ecocardiográficas, na visita de 24 semanas, comparando-se com a avaliação inicial do estudo.
Após o tratamento com L-T4 associado ao tratamento padrão para IC, a frequência de pacientes classe NYHA I aumentou gradualmente, enquanto a frequência de pacientes classe NYHA III-IV diminuiu.
Houve melhora na classe funcional NYHA na visita de 8 semanas no grupo que recebeu L-T4 (p = 0,033). Porém, na visita de 6 meses não houve diferença na classe funcional entre os grupos.
Em relação à ocorrência de eventos adversos, não houve diferença significativa entre os dois grupos (Razão de risco: 1,053; IC 95% 0,424 a 2,616; p = 0,628)
Em pacientes com ICFER e HSC, a adição de terapia de reposição de L-T4 à terapia padrão para ICFER demonstrou melhora na capacidade funcional para exercícios em 6 meses.
Avaliou pacientes portadores de ICFER, que, classicamente, apresentam elevado risco cardiovascular. Por isso, apresenta grande relevância para prática clínica.
Todos os pacientes do estudo recebiam terapia padrão para ICFER, com dose alvo (de acordo com guidelines) ou dose máxima tolerada, o que afasta o viés de seleção.
Boa proporção de distribuição de comorbidades entre os grupos.
Estudo aberto
Avaliou apenas pacientes de centros na China, o que reduz a validade externa.
Baixa proporção de pacientes do sexo feminino.
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/efeitos-da-levotiroxina-no-hipotireoidismo-subclinico-e-na-insuficiencia-cardiaca-com-fracao-de-ejecao-reduzida
Compartilhe
Copyright © 2024 Portal de Conteúdos MEDCode. Todos os direitos reservados.