Efeito do Fenofibrato na Progressão da Retinopatia Diabética
13 de agosto de 2024
6 minutos de leitura
O uso de fenofibrato em pacientes com diabetes mellitus previne a progressão da retinopatia diabética?
Retinopatia diabética é uma importante causa de perda visual em pacientes com Diabetes Mellitus (DM). O rastreamento da retinopatia é recomendado para todos os pacientes com diabetes e pode facilitar a intervenção precoce, antes que a condição evolua para uma doença que ameace a visão. O Fenofibrato é uma medicação oral agonista PPAR-α, que reduz triglicérides e colesterol não-HDL. Estudos anteriores, como o estudo FIELD e o estudo ACCORD, demonstraram que o uso de fenofibrato reduziu o desfecho terciário de necessidade de terapia com laser para retinopatia diabética ou edema macular após 5 anos, e também uma redução do desfecho combinado de tratamento com laser, vitrectomia ou aumento na gravidade da retinopatia, respectivamente. Portanto, o estudo LENS investigou o efeito do fenofibrato na progressão da doença ocular, em pacientes com retinopatia diabética leve.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico (16 centros na Escócia)
Duplo-cego
Controlado por placebo
Randomização realizada por um computador, na proporção 1:1, considerando sexo, idade, tipo de diabetes, taxa de filtração glomerular (TFG), HbA1c, uso de estatina, grau de maculopatia e/ou retinopatia
Cálculo de uma amostra de 1.060 participantes necessários para um poder de 85% de detectar uma redução de 33% no desfecho primário (considerando 222 eventos durante um período de follow-up de 4 anos)
Período de run-in de 10 semanas, durante as quais os participantes receberam fenofibrato em regime aberto. Este período foi realizado para identificar e excluir indivíduos que não tolerassem o tratamento ou não aderissem adequadamente, assegurando a segurança e a viabilidade dos participantes para a randomização.
Pacientes adultos com diabetes mellitus e retinopatia diabética inicial ou leve, incluídos entre 2018 e 2021
Adultos ≥ 18 anos
Diagnóstico de DM (qualquer tipo com exceção de diabetes gestacional)
Retinopatia diabética ou maculopatia classificados como R1, R2 ou M1, de acordo com a Escala de Retinopatia Diabética da Escócia, em rastreio realizado nos 3 anos anteriores pelo NHS (Sistema Nacional de Saúde da Escócia)
Retinopatia diabética não-proliferativa R1 em ambos os olhos ou R2 em pelo menos um dos olhos
R1 - Presença de pelo menos um dos seguintes:
Microaneurismas
Exsudatos duros
Manchas algodonosas
Manchas hemorrágicas, hemorragias superficiais ou em formato de chama
R2:
Pelo menos 4 ou mais manchas hemorrágicas em um hemicampo apenas
Maculopatia leve em um ou ambos os olhos: exsudatos duros a um rádio de > 1 e ≤ 2 diâmetros do disco até o centro da fóvea
Ausência de retinopatia diabética ou R1 em apenas um olho (baixo risco de progressão da retinopatia)
Retinopatia classificadas como R3, R4 ou M2 (estágios mais avançados)
Disfunção renal com TFG < 40 ml/min/1,73m² no screening, < 30 ml/min/1,73m² na randomização ou diálise
Gestação ou amamentação
Histórico de transplante de órgão prévio
Doenças hepatobiliares: alteração de transaminases, cirrose, colecistite, colelitíase sintomática ou colecistectomia prévia
Pancreatite prévia
Doenças musculares significativas ou CPK > 3x limite superior da normalidade
Uso de algumas medicações: antagonista vitamina K, ciclosporina, colchicina, cetoprofeno, daptomicina, outros fibratos ou rosuvastatina 40 mg/d
Má-aderência ao período de Run-In
Fenofibrato, via oral, 1 comprimido de 145 mg 1x/dia (se TFG ≥ 60) ou em dias alternados (TFG entre 30 e 59)
Placebo via oral 1x/dia ou em dias alternados (conforme TFG)
Primário: desfecho ocular composto por:
Desenvolvimento de retinopatia "referenciável":
Retinopatia diabética severa (R3): presença de 4 ou mais manchas hemorrágicas nos campos inferior e superior, veias em rosário ou anormalidades microvasculares intra-retinianas
Retinopatia proliferativa
Maculopatia grave, com manchas hemorrágicas ou exsudatos duros a um rádio de ≤ 1 diâmetro do disco até o centro da fóvea
Tratamento para retinopatia diabética ou maculopatia (incluindo injeção intravítrea, laser ou vitrectomia)
Secundários: progressão da retinopatia ou maculopatia diabética, desenvolvimento de maculopatia "referenciável" isolada, desenvolvimento de edema macular, mudança em função visual (baseado no escore Visual Function Questionnaire-25), qualidade de vida (baseado no questionário EQ-5D-5L) e acuidade visual; componentes do desfecho primário isoladamente
Total = 1.151
Fenofibrato (N = 576) x Placebo (N = 575)
Idade média (anos): 60,8 ± 12,4 x 60,6 ± 12,3
Sexo feminino: 27% x 27%
Etnicidade branca: 98% x 97%
Tipo de Diabetes
DM1 27% x 26%
DM2: 73% x 74%
Duração do DM (anos): 18,3 ± 10,5 x 17,7 ± 10,0
Retinopatia leve (R1): 98% x 98%
Presença de Maculopatia: 10% x 10%
Doença Cardiovascular: 18% x 17%
IMC médio (kg/m²): 30,9 x 30,7
HbA1c: 8,2% ± 3,6 x 8,2% ± 3,6
TFG ≥ 60 ml/min/1,73m² no screening: 90% x 90%
Colesterol total (mg/dL): 156 ± 37 x 157 ± 38
Triglicerídeos (mg/dL): 137 x 138
Uso de insulina: 44% x 43%
Uso de estatina: 74% x 75%
Follow-up médio de 4 anos
O uso de fenofibrato levou a uma redução do desfecho primário ocular combinado em 27%, ao longo de 4 anos, em comparação com o placebo (HR 0,73; IC 95% 0,58 a 0,91; p = 0,0006)
Os participantes em uso de fenofibrato tiveram um risco 26% menor de qualquer progressão de retinopatia (HR 0,74; IC 95% 0,61 a 0,9) e 34% menor de progressão da maculopatia (HR 0,66; IC 95% 0,52 a 0,85), em comparação ao placebo
A ocorrência de edema macular foi 50% menor nos participantes em uso de fenofibrato, em comparação ao placebo (HR 0,5; IC 95% 0,30 a 0,84)
Não houve diferença entre os grupos nos desfechos de função visual, qualidade de vida ou acuidade visual
Não houve diferença do efeito na análise de subgrupos de acordo com o tipo de diabetes ou presença de disfunção renal
Em relação aos desfechos de segurança, não houve diferença entre os grupos na incidência de eventos cardiovasculares, albuminúria ou amputações de membros inferiores
A função renal (TFG) dos participantes em uso de fenofibrato foi em média 7,9 ml/min/1,73m² menor do que o placebo
Os níveis de triglicérides foram 18,7 mg/dL menores no grupo que recebeu o fenofibrato (redução de 13,7%). Não houve diferença no perfil lipídico
A mortalidade foi semelhante entre os grupos (6,1% no grupo fenofibrato e 6,6% no grupo placebo)
O uso de fenofibrato em pacientes com retinopatia diabética reduziu a progressão da doença, em comparação com o placebo.
Desenho do estudo randomizado e controlado por placebo
Ao recrutar pacientes do programa de triagem de rotina da Escócia, que abrange uma proporção significativa de indivíduos elegíveis no país, o estudo conseguiu uma representatividade populacional robusta. No entanto, sem representatividade para população latino americana.
Boa aderência ao tratamento e acompanhamento de 99,8% dos participantes. Isso se deve em grande parte ao período de run-in, que permitiu garantir que os participantes fossem capazes de aderir ao regime de tratamento e tolerassem o fenofibrato antes da randomização.
População predominantemente branca e proveniente de um único país, o que limita a validade externa do estudo
O rastreio de retinopatia foi feito com imagens de campo único centradas na mácula, sem midríase, o que pode ter excluído porções mais periféricas da retina. No entanto, incluiu a região central da retina, que mais frequentemente causa doença ameaçadora à visão, e 95% das imagens foram classificadas como de alta qualidade
Não avaliou dados de tomografia de coerência óptica
Autor do conteúdo
Bibiana Boger
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/efeito-do-fenofibrato-na-progressao-da-retinopatia-diabetica
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