Efeito do Ácido Tranexâmico Endovenoso no Sangramento em Queimados Durante Cirurgia
19 de dezembro de 2024
5 minutos de leitura
O uso do ácido tranexâmico reduz sangramento no intraoperatório de pacientes com queimaduras graves?
Pacientes com queimaduras extensas frequentemente requerem tratamento cirúrgico, e o sangramento é uma complicação comum nesses casos. Outra complicação comum é o desenvolvimento de coagulopatia que, associada à lesão de pele extensa e ao aumento da resposta inflamatória desencadeada pelo trauma, agrava a perda sanguínea. O desbridamento cirúrgico das lesões é um dos momentos que mais ocorre sangramento. O uso de eletrocautério, torniquete, elevação do membro, curativos embebidos com trombina ou epinefrina são alguns métodos empregados para tentar reduzir o sangramento intraoperatório. A utilização de antifibrinolíticos, como o ácido tranexâmico, aparentemente é efetivo no controle do sangramento, entretanto não há ensaios clínicos randomizados sobre o assunto. Neste contexto, este estudo foi realizado objetivando investigar o efeito da administração endovenosa de ácido tranexâmico na perda sanguínea e desfechos em pacientes com lesão grave por queimaduras.
Ensaio clínico randomizado
Unicêntrico, envolvendo um centro de referência em queimados no Irã
Duplo cego
Baseado em estudos prévios, foi calculada uma amostra de 94 pacientes para um poder estatístico de 80% e um alfa de 0,05 para detectar diferença estatística entre os grupos
Pacientes com queimaduras graves incluídos entre 2022 e 2023
Idade entre 18 e 50 anos
Lesão por queimadura grave, acometendo mais de 20% de superfície corpórea
Necessidade de intervenção cirúrgica
Disfunção cardiovascular, hepática ou renal
Gestantes ou lactentes
Queimadura com acometimento ocular
Coagulopatia (INR alargado na admissão)
Ácido tranexâmico
Dose de 10 mg/kg no centro cirúrgico 15 min antes da anestesia, seguido por infusão de 1mg/Kg/h durante o procedimento cirúrgico.
Placebo em posologia semelhante
Não houve descrição de outros tratamentos no estudo
Primário: volume estimado total de sangramento no intraoperatório
Secundário: necessidade de transfusão, tempo de internação hospitalar, tempo cirúrgico, viabilidade do enxerto
MasculinoFeminino
Acido Tranexâmico (N= 47) x Placebo (N= 47)
Idade em anos: 39,3 ± 13,2 x 40,1 ± 12,4
Sexo Masculino: 51% x 53%
Média da área de superfície corpórea queimada: 45,6% ± 15,4 x 43,5% ± 15,9
Grau de queimadura
Primeiro grau: 38% x 46%
Segundo grau: 38% x 25%
Terceiro grau: 23% x 27
Lesão por inalação: 14% x 17%
IMC médio: 24,8 ± 3,5 x 24,5 ± 3,0
Hb média no pré-operatório: 12,5 ± 2,0 x 13,2 ± 2,2
Houve menor sangramento no grupo ácido tranexâmico em comparação ao grupo controle: 577,3 ml x 682,4 ml, P=0,043
Houve menor necessidade de administração de fluidos no grupo ácido tranexâmico em comparação ao controle: 605,3ml x 772,3ml, P=0,021
Houve menor tempo cirúrgico no grupo ácido tranexâmico em comparação ao grupo controle: 49,7 min x 63,1 min. P=0,002
Houve menor necessidade de transfusão no grupo ácido tranexâmico em comparação ao controle: 11,7% x 22,3%, p=0,024
Houve menor viabilidade do enxerto no grupo ácido tranexâmico em comparação ao controle: 29% x 49% p=0,018
Houve menor tempo de internação hospitalar no grupo ácido tranexâmico em comparação ao controle: 10,6 dias x 15,6 dias, p=0,0001
Não houve diferença na incidência de infecções pós operatórias entre os grupos: 10,4% x 8,5%, p=0,62
O uso do ácido tranexâmico reduz o sangramento durante cirurgias em pacientes com queimaduras graves.
Ensaio clínico randomizado duplo cego, reduzindo assim viés de performance
Estudo realizado em centro com grande experiência em queimados
Protocolo adequado para responder à pergunta do estudo
Estudo unicêntrico, o que reduz a validade externa dos resultados
Estudo pequeno, com poucos pacientes
O texto publicado não deixa claro quanto à incidência esperada do desfecho primário e a redução de risco esperada para o cálculo da amostra, o que impossibilita avaliar se o estudo tem o poder estatístico esperado para avaliar os desfechos.
O estudo não descreve como foi realizada a randomização, o que não permite avaliar o risco de quebra do sigilo de alocação e da randomização. Maior risco de quebra do sigilo de alocação por ser unicêntrico e com randomização simples
Desfecho primário com relevância menor (volume de sangramento em ml)
Autor do conteúdo
Guilherme Lemos
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/efeito-do-acido-tranexamico-endovenoso-no-sangramento-em-queimados-durante-cirurgia
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