Efeito de uma Oferta Alta de Proteínas vs a Oferta Habitual na Recuperação Funcional de Pacientes Críticos
17 de outubro de 2024
6 minutos de leitura
A oferta de uma qualidade mais alta de proteínas melhora o desfecho funcional de pacientes críticos em comparação com a oferta habitual?
Pacientes que sobrevivem à internação na UTI frequentemente evoluem com perda de funcionalidade e redução na qualidade de vida. Entre os fatores que contribuem para esse quadro estão a perda de massa muscular e paresia do doente crítico, que podem ocorrer em períodos de internação tão curtos quanto sete dias. Neste contexto, a oferta de uma quantidade maior de proteínas poderia atenuar a perda de massa muscular, resultando em um melhor desfecho funcional. Contudo, a evidência que apoia essa prática é controversa, e as recomendações sobre a oferta proteica (entre 1,2 e 2g/kg/dia) baseiam-se na opinião de especialistas. Diante dessa lacuna na literatura, foi realizado o estudo PRECISe, com o objetivo de avaliar o impacto da oferta de uma maior quantidade de proteínas no desfecho funcional e na qualidade de vida de pacientes críticos.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico (5 hospitais na Holanda e 5 hospitais na Bélgica)
Duplo cego
Randomização em blocos permutados de tamanhos variados e estratificados por centro
Foi calculado que seriam necessários 935 pacientes para ter 80% de poder para demonstrar uma diferença de 0,06 pontos na escala EQ-5D-5L, com erro alfa de 5%.
Pacientes com internação não planejada em UTI, incluídos entre 2020 e 2023
Idade ≥ 18 anos
Início de ventilação mecânica dentro de 24h da admissão na UTI
Expectativa de pelo menos 3 dias de ventilação
Contraindicação à nutrição enteral
Pacientes moribundos
IMC abaixo de 18 kg/m2
Disfunção renal grave com definição de não diálise
Encefalopatia hepática
Oferta elevada de proteínas (dose de 2 g/kg/dia)
Oferta habitual de proteínas (dose de 1,3 g/kg/dia)
Para manter o cegamento, a dieta enteral era administrada em frascos similares, com mesmo teor de calorias, porém diferentes concentrações de proteínas (10g/100 ml grupo intervenção e 6g/100 ml no grupo controle)
Em ambos os grupos, a meta calórica era de 25 kcal/kg/dia, sendo a dieta iniciada dentro de 48h da admissão em 25% da meta, com elevações de 25% a cada dia (se tolerado), sendo atingida a meta no quarto dia
Não era permitida a nutrição parenteral nos primeiros 7 dias na UTI. Também não eram permitidos suplementos enterais ou parenterais de proteínas
Primário: qualidade de vida avaliada em 30, 90 e 180 dias, utilizando escala EuroQoL 5-Dimension 5-level (EQ-5D-5L), com ajuste estatístico pela pontuação basal.
Secundários: mortalidade em 180 dias, tempo até alta da UTI, dias vivo e em casa em 90 dias, funcionalidade (avaliada por diversas escalas, incluindo: SF-36, teste de caminhada de 6 minutos, MRC, força de handgrip predita), eventos adversos
MasculinoFeminino
As características dos grupos foram similares entre os grupos:
Proteína elevada (N=470) x Proteína habitual (N=465)
Idade: 62 x 63 anos (mediana)
Sexo feminino: 38% x 34%
Admissão clínica: 66% x 73%
Covid-19: 15% x 16%
Sepse: 49% x 49%
APACHE II: 21 x 22
EQ-5D-5L basal: 0,77 x 0,78
NRS-2002 score: 4 x 4
Houve perda de seguimento de 7,5% do grupo intervenção e 10,9% do grupo controle.
A mediana do tempo de intervenção foi de 10 dias no grupo proteína elevada e 9 dias no grupo controle.
A quantidade mediana de proteína ofertada foi de 1,87g/kg/dia no grupo proteína elevada e 1,19g/kg/dia no grupo oferta habitual.
A oferta calórica foi similar entre os grupos
A qualidade de vida avaliada em 180 dias pela escala EQ-5D-5L foi pior no grupo que recebeu mais proteínas (diferença média de – 0,05 pontos; IC 95% -0,10 a -0,01; P = 0,031)
A probabilidade de morte ao longo do seguimento do estudo foi de 0,42 no grupo intervenção e 0,38 no grupo controle (risco relativo 1,14; P = 0,22).
O grupo intervenção também teve maior incidência de intolerância gastrointestinal, maior necessidade de procinéticos e maior tempo de reabilitação em uma instituição de longa permanência.
Os demais desfechos secundários foram similares entre os grupos (incluindo diversas escalas para avaliação de funcionalidade).
As análises de subgrupos foram consistentes com a análise primária.
A oferta de quantidades maiores de proteínas resultou em pior qualidade de vida em 180 dias e não resultou em melhora funcional
Estudo multicêntrico e randomizado
Pragmático
Duplo cego, reduzindo viés de performance e observação
Randomização adequada com menor risco de quebra do sigilo de alocação
A interpretação do desfecho primário do estudo é pouco objetiva, dificultando a exemplificação da diferença observada entre os grupos na qualidade de vida.
Houve uma quantidade não desprezível de perdas de seguimento, o que pode reduzir o poder do estudo de detectar diferenças entre os grupos
Autor do conteúdo
Luis Júnior
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/efeito-de-uma-oferta-alta-de-proteinas-vs-a-oferta-habitual-na-recuperacao-funcional-de-pacientes-criticos
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