Efeito de Pulsoterapia com Glicocorticoide Pré Hospitalar em Pacientes com Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnivelamento do Segmento ST
07 de novembro de 2024
5 minutos de leitura
Uma dose alta de corticoide ainda no atendimento pré-hospitalar resulta em efeitos cardioprotetores em pacientes com infarto agudo do miocárdio com supra de ST?
Pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM) têm apresentado melhores desfechos nos últimos anos, particularmente após a implementação da intervenção coronariana percutânea. Contudo, pacientes com IAM com supra de ST ainda apresentam um risco considerável de disfunção ventricular, a qual é proporcional ao tamanho do infarto e pode resultar em falência cardíaca tanto a curto, quanto a longo prazo. A restauração do fluxo sanguíneo coronariano é essencial para reduzir a área de infarto, porém a ocorrência de lesão de isquemia/reperfusão resulta em uma resposta inflamatória intensa no tecido miocárdico, a qual também pode contribuir para a lesão. Glicocorticóides são substâncias com ação anti-inflamatória potente e que poderiam em doses elevadas atenuar essa resposta inflamatória. Contudo, estudos avaliando o uso de corticoides nesse contexto tem apresentado resultados controversos. Assim, o estudo PULSE-MI avaliou o impacto de uma dose elevada de corticoides (pulsoterapia) realizado precocemente (no atendimento pré-hospitalar) nos desfechos clínicos de pacientes com IAM com supra de ST.
Ensaio clínico randomizado
Unicêntrico, realizado no Department of Cardiology, Rigshospitalet, em Copenhagen (Dinamarca), incluindo os serviços médicos de emergência vinculados ao hospital.
Duplo cego (controlado com placebo)
Foi calculado que 378 pacientes seriam necessários para ter 80% de poder para demonstrar uma redução relativa de 20% na área de infarto, com erro alfa de 5% e considerando uma taxa de 30% de perda de seguimento
Pacientes com infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento de ST incluídos entre 2022 e 2023
Idade ≥18 anos
Avaliados no ambiente pré-hospitalar
Início do quadro há menos de 12h
Sinais clínicos e eletrocardiográficos compatíveis com IAM com supra de ST
Parada cardíaca extra-hospitalar.
Alergia a glicocorticoides.
Episódios prévios de mania ou psicose.
História de IAM prévio no mesmo território suspeito.
Cirurgia de revascularização miocárdica prévia.
Incapacidade de ler ou entender dinamarquês.
Metilprednisolona, 250 mg EV em bolus
Placebo em volume equivalente
Todos os demais tratamentos eram realizados conforme diretrizes locais e internacionais
Primário: tamanho do infarto no ventrículo esquerdo, avaliado através de ressonância magnética cardíaca em 3 meses após a randomização.
Secundários: presença de obstrução microvascular (avaliada pela RNM), fração de ejeção do ventrículo esquerdo, índice de salvamento miocárdico (área de infarto na RNM dividida pela área sob risco), níveis de troponina e CK-MB, mortalidade em 3 meses e hospitalização por insuficiência cardíaca em 3 meses.
Desfechos de segurança: eventos adversos em sete dias da randomização.
MasculinoFeminino
Houve 212 exclusões após a randomização (pacientes que foram randomizados sem os critérios adequados), resultando em uma amostra final de 530 pacientes
As características dos grupos foram similares no momento da randomização
Pulsoterapia (N=382) x Placebo (N=360)
Idade: 64 x 65 anos
Sexo feminino: 20% x 22%
Diabetes: 15% x 16%
IAM prévio: 5% x 5%
Infarto na parede anterior: 43% x 38%
Killip I: 92% x 94%
Fração de ejeção: 45% x 45%
Tempo entre sintomas e intervenção: 112 x 105 minutos.
Tempo entre sintomas e cateterismo: 188 x 178 minutos
TIMI 3 após cateterismo: 93% x 93%
Tratamento com Stent farmacológico: 87% x 85%
O tratamento com pulsoterapia não reduziu o tamanho da área de infarto
O tamanho final do infarto foi de 5% no grupo pulsoterapia e 6% no grupo placebo (P = 0,24)
A área inicial de infarto foi de 11% no grupo pulsoterapia e 16% no grupo placebo (P = 0,05)
A fração de ejeção na fase aguda da doença foi maior no grupo pulsoterapia em relação ao grupo placebo (53% x 48%, diferença média de 4,4%, IC 95% de 2,0% a 6,8%)
Não houve diferença na fração de ejeção entre os grupos em 3 meses (54% x 53%).
Os demais desfechos secundários foram similares entre os grupos
A mortalidade foi de 3,9% no grupo pulsoterapia e 4,7% no grupo placebo
A incidência de eventos adversos foi similar entre os grupos
Em pacientes com IAM com supra de ST, a administração de pulsoterapia no atendimento pré-hospitalar não resultou em menor área de infarto em 3 meses
Estudo pragmático e com protocolo de fácil seguimento
Estudo duplo cego, com menor risco de viés de performance e observação
Estudo unicêntrico, realizado em um cenário de atendimento pré-hospitalar extremamente bem estruturado, o que reduz a capacidade de generalização.
Houve um percentual considerável de exclusões pós-randomização, reduzindo o número de pacientes com desfecho primário disponível.
Autor do conteúdo
Luis Júnior
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/efeito-de-pulsoterapia-com-glicocorticoide-pre-hospitalar-em-pacientes-com-infarto-agudo-do-miocardio-com-supradesnivelamento-do-segmento-st
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