Efeito da Sitagliptina Sobre Desfechos Cardiovasculares em Diabetes Tipo 2
07 de maio de 2024
7 minutos de leitura
Existe segurança cardiovascular a longo prazo em adicionar sitagliptina à terapia padrão em pacientes com diabetes tipo 2 e doença cardiovascular estabelecida?
O bom controle glicêmico entre pacientes com diabetes tipo 2 reduz o risco de complicações microvasculares relacionadas à diabetes. A sitagliptina, um inibidor da dipeptidil-peptidase 4 (DPP-4) oral, prolonga a ação dos hormônios incretina, incluindo o peptídeo semelhante ao glucagon-1 e o polipeptídeo insulinotrópico glicose-dependente, pela inibição da degradação desses hormônios. Dois estudos prévios sobre desfechos cardiovasculares em outros inibidores da DPP-4 não mostraram aumento ou redução no número de eventos cardiovasculares maiores, mas levantou preocupações sobre segurança em relação a uma possível elevação de risco de hospitalização por insuficiência cardíaca, com metanálises de estudos randomizados e controlados sugerindo um aumento de 24 a 25% neste risco, associado à tal classe medicamentosa. Assim, o estudo TECOS foi realizado com o objetivo de avaliar a segurança cardiovascular a longo prazo em adicionar sitagliptina à terapia usual padrão, quando comparado à terapia usual padrão isolada, em pacientes com diabetes tipo 2 e doença cardiovascular estabelecida
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico (673 centros em 38 países)
Duplo cego
Foi calculado que 611 pacientes com um desfecho composto primário cardiovascular confirmado poderiam prover um poder de 90% para o teste de não-inferioridade. Para superioridade, foi calculado que 1300 pacientes com um desfecho composto primário cardiovascular confirmado poderiam prover um poder de aproximadamente 81% de determinar a superioridade da sitagliptina sobre o placebo
Patrocinado pela Merck Sharp & Dohme
Pacientes com diabetes mellitus tipo 2 e doença cardiovascular pré-existente selecionados entre 2008 e 2012
Idade ≥ 50 anos
Sem necessidade de insulina
Ser capaz de visitar um prestador de cuidados 2x/ano
Uso de metformina, pioglitazona ou uma sulfoniluréia como monoterapia ou qualquer combinação dupla de metformina, pioglitazona ou uma sulfoniluréia, por pelo menos 3 meses, sem alteração de doses
HbA1c ≥ 6,5% e ≤ 8%
Doença cardiovascular pré-existente definida como:
História de manifestação clínica maior de doença arterial coronariana
Doença isquêmica
Doença arterial periférica aterosclerótica
Uso de métodos contraceptivos eficazes para mulheres
DM1 ou cetoacidose prévia
Uso de outro inibidor da DPP-4, análogos do GLP1 ou uma tiazolidinediona que não seja a pioglitazona, nos últimos 3 meses
Cirrose hepática
Pacientes com procedimento de revascularização planejado ou previsto
Expectativa de vida < 2 anos ou que limite a habilidade individual de realizar os tratamentos do ensaio clínico, durante o período do estudo.
Taxa de filtração glomerular < 30 ml/min/1,73m²
Alergia ou intolerância à sitagliptina
Sitagliptina via oral 100 mg/dia
Dose de 50mg/dia se taxa de filtração glomerular basal ≥ 30 e < 50 ml/min/1,73m²
Placebo via oral
Pacientes que tivessem dois ou mais episódios de hipoglicemia grave entre as visitas do estudo, apesar de ajuste de doses de outros agentes hipoglicemiantes, eram orientados a descontinuar a medicação do estudo
Os níveis de hemoglobina glicada eram mensurados na seleção dos pacientes, em 4 meses, 8 meses e, então, anualmente
Primário: Tempo até o desfecho MACE (major cardiovascular events)
Morte relacionada a causas cardiovasculares, IAM não-fatal, AVC não-fatal ou angina instável necessitando de hospitalização
Secundários: tempo até primeiro evento no desfecho secundário composto cardiovascular de morte relacionada a causas cardiovasculares, IAM não-fatal ou AVC não-fatal); tempo até a ocorrência de cada um dos componentes do desfecho composto primário; tempo até a mortalidade por todas as causas; tempo até hospitalização por insuficiência cardíaca; na relação albumina-creatinina urinária; mudança na taxa de filtração glomerular; mudança na HbA1c; tempo até o início de insulinoterapia crônica
MasculinoFeminino
Sitagliptina (N=7332) x Placebo (N=7339):
Idade (anos): 65,4± 7,9 x 65,5± 8
Raça
Brancos: 67,6% x 68,2%
Negros: 2,8% x 3,3%
Asiáticos: 22,6% x 22%
Outros: 7,1% x 6,6%
Duração média da diabetes (anos): 11,6±8,1 x 11,6± 8,1
Hemoglobina glicada (média): 7,2 ±0,5 x 7,2±0,5
IMC (kg/m²): 30,2±5,6 x 30,2±5,7
Pressão arterial sistólica (mmHg): 135±16,9 x 135±17,1
Pressão arterial diastólica (mmHg): 77,1±10,3 x 77,2±10,6
Taxa de filtração glomerular (ml/min/1,73m²): 74,9±21,3 x 74,9±20,9
Taxa de filtração glomerular < 50 (ml/min/1,73m²): 9,5% x 9,4%
Doença cardiovascular prévia: 73,6% x 74,5%
Infarto agudo do miocárdio: 42,7% x 42,5%
Estenose coronária ≥ 50%: 51,9% x 52,9%
Angioplastia prévia: 38,9% x 40,1%
Cirurgia de revascularização miocárdica prévia: 25,2% x 24,8%
Doença cerebrovascular prévia: 24,6% x 24,3%
Doença arterial periférica prévia: 16,6% x 16,6%
Insuficiência cardíaca congestiva prévia: 17,8% x 18,3%
NYHA III ou mais: 2,3% x 2,8%
Tabagismo:
Nunca fumou: 48,9% x 48,6%
Fumante prévio: 39,3% x 40,3%
Tabagista atual: 11,8% x 11.1%
Tempo médio de follow up: 3 anos
Sitagliptina foi não inferior ao placebo com relação à ocorrência de de eventos cardiovasculares maiores
O desfecho primário ocorreu em 11,4% dos pacientes no grupo sitagliptina (4,06 por 100 pessoas-ano) e em 11,6% no grupo placebo (4,17 por 100 pessoas-ano)
Não houve diferença significativa entre os grupos no desfecho composto primário cardiovascular (hazard ratio na análise per-protocol, 0,98; IC95%, 0,88 – 1,09; p<0,001 para não inferioridade; hazard ratio na análise por intenção de tratar, 0,98; IC95%, 0,89 – 1,08; p=0,65 para superioridade)
Não houve diferença significativa entre os grupos no desfecho composto secundário cardiovascular (hazard ratio na análise per-protocol, 0,99; IC95%, 0,89 – 1,11, p<0,001 para não inferioridade; hazard ratio na análise por intenção de tratar, 0,99; IC95%, 0,89 – 1,10; p=0,84 para superioridade)
Não houve diferença significativa entre os grupos na taxa de hospitalização por insuficiência cardíaca que ocorreu em 228 pacientes no grupo sitagliptina (3,1%; 1,07 por 100 pessoas-ano) e em 229 pacientes no grupo placebo (3,1%; 1,09 por 100 pessoas-ano) (hazard ratio na análise por intenção de tratar 1,0; IC95%, 0,83 – 1,2; p=0,98)
Não houve diferença significativa na mortalidade por todas as causas
Não houve diferença significativa entre os grupos em relação à incidência geral de infecções, câncer, insuficiência renal relatada ou hipoglicemia grave
Eventos de pancreatite aguda confirmada foram incomuns, do ponto de vista geral, mas numericamente mais frequentes no grupo sitagliptina (0,3% versus 0,2% no grupo placebo; p=0,07 na análise por intenção de tratar e p=0,12 na análise per-protocolo)
A taxa de morte por causas não cardiovasculares foi de 2,3% em ambos os grupos de estudo
Em 48 meses, a mudança média, desde a avaliação inicial, da taxa de filtração glomerular foi maior no grupo intervenção do que no grupo controle (-4±18,4 e -2,8±18,3 ml/min/1,73m², respectivamente)
A adição de sitagliptina ao tratamento usual em pacientes com DM2 com alto risco cardiovascular não aumentou a taxa de complicações cardiovasculares quando comparada ao placebo
Elevado número amostral e em muitos centros em muitos países (alta validade externa)
Avaliou o efeito da sitagliptina em uma população de risco cardiovascular elevado. Dessa forma, temos mais segurança com o uso da medicação e potenciais riscos cardiovasculares
Os pacientes de ambos os grupos do estudo utilizavam terapia padrão usual para o tratamento da diabetes. Isso reduz o risco de viés de performance.
Boa proporção de distribuição de comorbidades entre os grupos de estudo, sugerindo um menor risco de viés de seleção
Baixa proporção de pacientes do sexo feminino
Estudou apenas pacientes com mais de 50 anos de idade. Como sabemos, devido aos maus hábitos de vida, sedentarismo e alimentação rica em gorduras saturadas, temos um número cada vez maior de pacientes mais jovens que desenvolvem diabetes tipo 2.
Pouca heterogeneidade étnica (havia poucos pacientes negros)
O uso de agentes hipoglicemiantes fora do estudo era encorajado, conforme necessário, com o objetivo de alcançar níveis apropriados de hemoglobina glicada em todos os pacientes. A ausência de padronização do uso de outras drogas para terapia hipoglicemiante oral pode ter impactado os desfechos do estudo.
Utilizou desfechos compostos em seus resultados, o que pode reduzir a confiabilidade dos achados individuais
Participação ativa da indústria em diversas etapas do estudo
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/efeito-da-sitagliptina-sobre-desfechos-cardiovasculares-em-diabetes-tipo-2
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