Efeito da Redução Intensiva Glicêmica em Diabetes Tipo 2
23 de julho de 2024
4 minutos de leitura
O controle intensivo da hemoglobina glicada em pacientes com diabetes tipo 2 reduz eventos cardiovasculares em comparação ao tratamento usual?
É bem estabelecido que valores elevados de hemoglobina glicada (HbA1c) estão correlacionados com complicações micro e macrovasculares a longo prazo. Contudo, ainda era incerto se um valor mais estrito como meta de HbA1c (<6%) poderia trazer maiores benefícios para os pacientes com diabetes tipo 2. Neste contexto, o estudo ACCORD avaliou o impacto do controle glicêmico intensivo comparado à meta convencional em eventos cardiovasculares.
Ensaio clínico randomizado fatorial (avaliado simultaneamente em outros subestudos redução pressórica e uso de fenofibrato)
Multicêntrico (77 centros nos EUA e Canadá)
Aberto
O estudo foi desenhado para ter 89% de poder para detectar uma redução de 15% no desfecho primário no grupo intervenção com alfa bicaudado de 0,05 e estimando taxa de eventos de 2,9% ao ano, com follow-up aproximado de 5,6 anos
Pacientes com diabetes tipo 2 e alto ou muito alto risco cardiovascular incluídos entre 2001 e 2005
Diabetes tipo 2 com HbA1c > 7,5%
Idade entre 40 e 79 anos com doença cardiovascular estabelecida ou entre 55 e 79 anos com aterosclerose significativa, albuminúria, hipertrofia de ventrículo esquerdo ou dois fatores de risco (dislipidemia, tabagismo, hipertensão arterial sistêmica ou obesidade)
Hipoglicemia frequente e severa
IMC > 45 kg/m²
Creatinina > 1,5 mg/dL
Doença sistêmica grave (como hepatopatia, por exemplo)
Meta de hemoglobina glicada menor que 6%
Meta de hemoglobina glicada entre 7-8%
Primário: primeira ocorrência de um evento cardiovascular maior MACE (major adverse cardiovascular events, definido como morte cardiovascular, infarto não fatal e AVC não fatal)
Secundários: morte por qualquer causa e o desfecho primário em análise isolada
MasculinoFeminino
0.251 pacientes incluídos // Masculino 61,3% Feminino 38,7%
Terapia intensiva (N=5.128) x Terapia padrão (N=5.123)
Brancos: 64,4% x 64,5%
Idade em anos: 62,2±6,8 x 62,2±6,8
Mulheres: 38,7% x 38,4%
Duração prévia do DM em anos: 10 x 10
Doença cardiovascular estabelecida: 35,6% x 34,8%
IMC: 32,2±5,5 x 32,2±5,5
HbA1c: 8,3±1,1 x 8,3±1,1
Uso de insulina: 34,1% x 35,7%
Follow-up médio de 3,4 anos (estudo terminado precocemente após análise interina mostrando malefício na intervenção)
Não houve diferença no desfecho primário de MACE entre os grupos; entretanto, ao avaliar os desfechos secundários, observou-se que o grupo com controle intensivo apresentou um maior risco de morte por qualquer causa (5% vs 4%, HR 1,22, IC 95% 1,01-1,46, p=0,04) e morte cardiovascular (2,6% vs 1,8%, HR 1,35, IC 95% 1,04-1,76, p=0,02).
Avaliando os outros desfechos isolados, houve redução de infarto não fatal no grupo controle intensivo (3.6% vs 4.6%, HR 0.76, 95%IC 0.62-0.92, p=0.004). Não houve diferença da análise isolada de AVC não fatal entre os grupos
No grupo controle intensivo, a hemoglobina glicada foi menor (em média 6.4% vs 7.5% no controle), o que resultou em maiores taxas de: hipoglicemias (16.2% vs 5.1%), ganho de peso >10kg (27.8% vs 14.1%), retenção de fluidos (70.1% vs 66.8%) e uso medicações anti-diabéticas (62.3% vs 17.5%, ao contabilizar os que usavam 3 ou mais classes orais com insulina)
O controle intensivo da hemoglobina glicada não reduziu eventos cardiovasculares maiores (MACE) e esteve associado a um maior risco de morte cardiovascular e por qualquer causa.
Estudo multicêntrico com maior validade externa
Grande número de pacientes com avaliação de desfecho relevante para prática clínica
O desenho aberto do estudo possibilitou o ajuste flexível das terapias conforme necessário, refletindo melhor a prática clínica real
Estudo antigo, utilizando drogas que atualmente são de segunda linha para o tratamento de diabetes tipo 2 (como sulfonilureias, insulina e glitazonas). Não incluiu o uso de agonistas do GLP-1 potentes como semaglutida ou inibidores de SGLT2
Possibilidade de viés de interação em estudo fatorial. Por exemplo, no grupo intervenção houve menor uso de iECA que no grupo de tratamento usual (69.7% vs 71.9%, p=0.02). Classicamente esta classe de medicação está associada à proteção cardiovascular em DM
O estudo não abordou os riscos e benefícios de diferentes abordagens para a redução dos níveis de hemoglobina glicada, incluindo a taxa ideal de redução da glicose
Autor do conteúdo
Matheo Stumpf
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/efeito-da-reducao-intensiva-glicemica-em-diabetes-tipo-2
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