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    Efeito da Naltrexona SR e Bupropiona SR na Perda de Peso e Fatores de Risco Relacionados à Obesidade

    17 de dezembro de 2024

    6 minutos de leitura

    Residente Colaborador:

    Gabriel Ibrahim Borba Carneiro

    Pergunta:

    • Em adultos com sobrepeso e obesidade, a combinação de bupropiona e naltrexona é eficaz na redução de peso?

    Background:

    • O excesso de peso cresce em prevalência, tanto na população pediátrica quanto na adulta. Isso gera aumento das comorbidades associadas ao excesso de peso, inclusive reduzindo a expectativa de vida. A perda de 5 a 10% do peso corporal já promove redução de risco metabólico e cardiovascular, mas nem sempre consegue ser atingida somente com mudanças no estilo de vida. A fisiopatologia envolvida é complexa, e múltiplas vias de sinalização são alvos passiveis de terapia farmacológica. A combinação naltrexona/bupropiona (NB) é uma opção promissora, com a bupropiona estimulando neurônios da POMC (redução da ingesta alimentar + aumento de gasto energético) e a naltrexona bloqueando a autoinibição da POMC mediada por receptor opioide. O efeito combinado da NB parece induzir perda de peso por modulação de vias cerebrais relacionadas a mecanismo de recompensa. Assim, o objetivo do estudo Contrave® Obesity-Research II (COR-II) foi avaliar a eficácia da combinação da formulação de liberação prolongada de NB em pacientes com sobrepeso e obesidade. 

    Desenho do Estudo:

    • Ensaio clínico randomizado fase 3

    • Multicêntrico (36 centros nos Estados Unidos, privados e institucionais)

    • Duplo cego

    • Controlado por placebo 

    • Duração de 56 semanas 

    • Randomização através de um sistema de resposta de voz interativo, em razão 2:1 (grupo naltrexona SR/bupropiona SR vs. grupo placebo), estratificado por sítio de estudo 

    • 1500 participantes proveriam poder estatístico de 99% para detectar com significância estatística na média percentual de perda ponderal ≥ 5%, e uma diferença de 14% na proporção de pacientes com perda ≥ 5% entre os grupos intervenção e placebo. 

    População:

    • Pacientes com sobrepeso ou obesidade incluídos entre 2007 e 2009

    Critérios de Inclusão:

    • Idade entre 18 e 65 anos;

    • Índice de massa corporal (IMC) entre 30 e 45 kg/m2; ou entre 27 e 45 kg/m2 associada a hipertensão controlada e/ou dislipidemia*. 

      • Anti-hipertensivos são permitidos, exceto por α-bloqueadores (ex. clonidina)

      • Tratamento estável por ao menos 6 semanas antes da randomização 

      • *Dislipidemia: triglicerídeos ≥ 200 mg/dL, ou LDL-colesterol ≥ 160 mg/dL,  ou colesterol total ≥ 240 mg/dL, ou HDL-colesterol <40 mg/dL.

    • Livre do uso de opioides por ao menos 7 dias antes da randomização 

    • Exames laboratoriais sem alterações clinicamente significativas 

    • Rastreamentos de distúrbios de humor negativos 

    Critérios de Exclusão:

    • Diabetes mellitus 

    • Doença hepática, cardiovascular ou renal clinicamente significativa 

    • Alteração > 4 kg em peso corporal dentro de 3 meses antecedentes à randomização

    • História prévia de convulsões ou doenças psiquiátricas importantes 

    • Histórico de abuso de álcool ou drogas ou dependência (exceto tabágica) dentro de 1 ano antecedendo a participação no estudo 

    • Uso de bupropiona ou naltrexona em monoterapia nos últimos 12 meses 

    • Uso de quaisquer fármacos concomitantes que possam interagir com NB 

    Intervenção:

    • Naltrexona SR (32 mg/dia) + bupropiona SR (360 mg/dia), dividida em duas doses diárias

      • Escalonamento de dose semanal nas primeiras 3-4 semanas, com dose máxima atingida no início da semana 5

      • Visitas ocorreram na baseline e a cada 4 semanas. Orientações de mudança de estilo de vida (dieta hipocalórica de 500 kcal/dia; aumento de atividade física; alterações comportamentais) em baseline e nas visitas 12, 24, 36 e 48

    Controle:

    • Placebo oral administrado duas vezes ao dia

    Desfechos:

    • Primário: mudança percentual no peso corporal; proporção de pacientes com perda ponderal ≥ 5% na semana 28.

    • Secundários: desfechos primários, analisados na semana 56; proporção de pacientes com perda ponderal ≥ 10%; mudança em parâmetros cardiometabólicos; mudanças do desejo alimentar e controle dietético (relatado pelo paciente), qualidade de vida relacionada ao peso na semana 28 

    Características dos Pacientes:

    • Total 1496 pacientes // Masculino 15,2% Feminino 84,8%

    • Placebo (n=495) x NB (n=1001):

      • Idade (anos): 44,4 x 44,3

      • Sexo feminino (%): 84,8 x 84,6

      • Raça branca/negra/outra (%): 84/15/2 x 83/13/3

      • Peso (kg): 99,2 x 100,3

      • IMC (kg/m²): 36,1 x 36,2

      • Hipertensão (%): 21,4 x 21,2

      • Dislipidemia (%): 53,1 x 55,9

    Resultados:

    • A perda de peso foi significativamente maior no grupo NB em relação ao placebo na semana 28 (- 6,5% x -1,9%; p < 0,001), sendo a perda sustentada até a semana 56 (- 6,4% x - 1,2%, p < 0,001)

    • O grupo NB teve uma maior proporção de pacientes atingindo perda ponderal ≥ 5%, ≥ 10% e ≥ 15% nas semanas 28 e 56. 

    • Houve melhora de vários parâmetros cardiometabólicos no grupo NB, incluindo circunferência abdominal, triglicerídeos e HDL-c na semana 28, além de LDL, insulina em jejum e HOMA-IR na semana 56

    • No grupo NB houve impacto positivo na qualidade de vida na semana 28 (p < 0,001), e uma melhora de maior monta em funcionalidade física, autoestima e saúde sexual (p < 0,01), todas mantidas no seguimento até a semana 56

    • Para pacientes que não perderam pelo menos 5% do peso entre as semanas 28 e 44, o estudo re-randomizou esses indivíduos: metade manteve a dose original (NB32), e a outra metade recebeu uma dose aumentada de naltrexona (NB48). Ambos os grupos continuaram o tratamento até a semana 56. No final, observou-se que a perda de peso foi semelhante entre os grupos, indicando que o aumento de dose não trouxe benefício adicional significativo.

    • NB foi associado a uma maior incidência de eventos adversos, assim como maior taxa de descontinuação de tratamento por esse motivo. Os mais prevalentes incluem náuseas, cefaleia e constipação, com intensidade leve a moderada, que não impediram o seguimento completo na maioria dos casos. A maioria se apresentou no aumento de dose. Eventos adversos graves tiveram proporções similares em ambos os grupos (2.1% NB x 1.4% placebo). 

    • 54% dos participantes de ambos os grupos completaram o tratamento; mais pacientes do grupo NB descontinuaram o tratamento por conta de efeitos adversos (241 grupo NB x 68 grupo placebo, p < 0,001), enquanto no grupo placebo a saída decorreu da perda de peso insuficiente (p < 0, 001) e da retirada do consentimento (p < 0,05)

    • Houve 1 participante com ideação suicida passiva no grupo NB, com o sintoma desaparecendo após descontinuar a medicação 

    • O NB não foi associado a um aumento de incidência de sintomas depressivos ou outros transtornos de humor 

    Conclusões:

    • A combinação de naltrexona SR e bupropiona SR levou a uma perda de peso significativamente maior em comparação com o placebo em adultos com sobrepeso e obesidade.

    Pontos Fortes:

    • Metodologia do estudo – ensaio clínico randomizado com cegamento 

    • Multicêntrico, permitindo maior validade externa dos resultados 

    • Uso de comparador ativo, com tratamento não farmacológico adjuvante permitindo comparação mais próxima de contexto de vida real 

    • Apresentar uma nova via farmacológica para o tratamento da obesidade, com perfil adequado de segurança cardiovascular 

    Pontos Fracos:

    • População muito homogênea – mulheres caucasianas de meia-idade – restringindo a validação para outros grupos étnicos 

    • Perda significativa de pacientes durante o seguimento – aproximadamente 46% da amostra inicial

    • Falta de poder estatístico para determinar efeitos cardiovasculares maiores com o uso da medicação


    Autor do conteúdo

    Andressa Leitao


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/efeito-da-naltrexona-sr-e-bupropiona-sr-na-perda-de-peso-e-fatores-de-risco-relacionados-a-obesidade


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