Qual o contexto?

Distúrbios pseudo-endócrinos são condições não comprovadas cientificamente, disseminadas principalmente através de mídias sociais. Em geral, são condições diagnosticadas por critérios subjetivos e sem validação científica. Apresentam tratamentos igualmente não validados e frequentemente com potenciais malefícios à saúde.

Quais as condições conhecidas?

• Fadiga adrenal é uma condição inexistente que supostamente resulta da atrofia e exaustão adrenal em decorrência do estresse crônico. É promovida como uma explicação para uma variedade de sintomas. A avaliação consiste em questionários (maioria online) não validados, além de avaliação do cortisol salivar. O tratamento não é baseado em evidências e pode levar a insuficiência adrenal secundária, pois muitas vezes envolve “extratos adrenais” ou formulações contendo glicocorticóides.
• A síndrome de Wilson é uma condição em que supostamente há prejuízo na conversão de T4 para T3, resultando em queda da temperatura corporal e sintomas inespecíficos. O diagnóstico não resulta de estudos validados e é realizado a partir da medida da temperatura corporal. O tratamento consiste na administração de T3, frequentemente em doses muito elevadas.
• A síndrome do T3 reverso alega que há competição entre o T3 reverso e o T3 pelo receptor do hormônio, resultando em prejuízo da qualidade de vida. O tratamento proposto também é a administração de T3 em doses elevadas, com potencial para efeitos colaterais.
• Tratamento com baixas doses de naltrexona foi proposto como uma solução para múltiplas condições autoimunes, mas não há evidências científicas que justifiquem o seu uso.
• Tratamento com testosterona para indivíduos sem indicação clínica para melhora na performance 

Quais as recomendações?

•  Acolher os pacientes com escuta ativa, empatia e promover a educação em saúde
• Orientar recomendações de manejo de estilo de vida: bons hábitos de sono, exercício físico regular, boa alimentação, redução de estresse, manejo de depressão e manejo de comorbidades
• Não há benefício comprovado no uso de suplementos
• Não há benefício na reposição hormonal, exceto em situações de deficiência comprovada 

Qual o impacto na prática?

Devemos estar preparados para receber na nossa prática clínica pacientes com diagnóstico prévio de condições pseudo-endócrinas, muitas vezes já submetidos a tratamentos não recomendados. Nessas situações, podemos atuar no acolhimento e orientação do paciente, além da suspensão de substâncias maléficas, investigação diagnóstica apropriada e manejo multidisciplinar.

Palestrante:

Michael T. McDermott, MD

University of Colorado Hospital