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    Dieta Mediterrânea Suplementada com Azeite de Oliva Extravirgem ou Nozes para Prevenção Primária de Doença Cardiovascular

    07 de janeiro de 2025

    7 minutos de leitura

    Residente Colaboradora:

    Isabela Fassbender

    Pergunta:

    • A dieta mediterrânea, suplementada com azeite de oliva extravirgem ou nozes,  reduz eventos cardiovasculares maiores em indivíduos de alto risco, em comparação a dieta reduzida em gorduras? 

    Background:

    • A dieta mediterrânea caracteriza-se por alta ingestão de azeite de oliva, frutas, nozes, vegetais, cereais, ingestão moderada de peixes e frangos, vinho em moderação, além de baixa ingestão de laticínios, carne vermelha, carne processada e doces. Estudos observacionais prévios, além de um estudo de prevenção secundária (o Lyon Diet Heart Study) demonstraram que a adesão à dieta mediterrânea se associou consistentemente com risco cardiovascular mais baixo. Portanto, o estudo PREDIMED (Prevención con Dieta Mediterránea), um ensaio clínico randomizado, avaliou a eficácia da dieta mediterrânea, suplementada com azeite de oliva extravirgem e nozes, comparada ao controle (dieta reduzida em gorduras) na prevenção primária de doenças cardiovasculares

    *Este estudo foi publicado originalmente em 2013. Entretanto, uma análise de 2017 revelou uma série de irregularidades nos processos de randomização do estudo, com o relatório inicial retirado e posteriormente realizada uma nova publicação em 2018, analisada a seguir.

    Desenho do Estudo:

    • Ensaio clínico randomizado;

    • Multicêntrico, com participação de 11 locais na Espanha, que englobavam 169 clínicas;

    • Grupos paralelos;

    • Os participantes foram atribuídos aleatoriamente, na proporção de 1:1:1, para um dos três grupos de intervenção: uma dieta mediterrânea suplementada com azeite de oliva extravirgem; uma dieta mediterrânea suplementada com nozes; ou uma dieta controle com aconselhamento para redução das gorduras da dieta;

    • Inicialmente, estimou-se que seriam necessários 9.000 participantes para alcançar um poder estatístico de 80% para detectar uma redução de 20% no risco relativo do desfecho primário (eventos cardiovasculares maiores) em cada um dos grupos da dieta mediterrânea em 4 anos. Posteriormente, devido a taxas menores de eventos cardiovasculares do que o previsto, o tamanho da amostra foi recalculado para 7.447 participantes, considerando um seguimento estendido para 6 anos e uma taxa de eventos no grupo controle reduzida para 8,8%, comparada a uma taxa projetada de 6,6% nos grupos da dieta mediterrânea.

    População:

    • Pacientes com alto risco cardiovascular, porém sem doença cardiovascular incluídos entre 2003 e 2009.

    Critérios de Inclusão:

    • Homens de 55 a 80 anos de idade e mulheres de 60 a 80 anos de idade, sem doença cardiovascular na inscrição inicial, que tivessem Diabetes Mellitus Tipo 2 ou pelo menos três dos seguintes fatores de risco maiores: 

      • Tabagismo

      • Hipertensão arterial

      • Níveis elevados de LDL 

      • Níveis baixos de HDL 

      • Sobrepeso ou obesidade

      • História familiar de doença arterial coronariana prematura. 

    Critérios de Exclusão:

    • Histórico de doença cardiovascular previamente documentada, incluindo doença arterial coronariana, acidente vascular encefálico ou doença arterial periférica com sintomas de claudicação intermitente

    • Condição médica grave que pudesse prejudicar a capacidade do indivíduo de participar de um estudo de intervenção nutricional (exemplo: doença digestiva com intolerância a gorduras, malignidade avançada, ou doença maior neurológica, psiquiátrica ou endócrina)

    • Imunodeficiência ou status de HIV positivo

    • Uso ilegal de drogas, alcoolismo crônico ou uso problemático do álcool

    • IMC > 40 mg/m²

    • Baixa probabilidade de mudar hábitos dietéticos de acordo com o modelo de estágios de mudança de Prochaska e DiClemente 

    • História de alergia alimentar ou hipersensibilidade a qualquer dos componentes do azeite de oliva ou nozes

    • Pacientes com infecção ou inflamação agudas (apenas aceitos no estudo após 3 meses da resolução do quadro)

    Intervenção:

    • Grupo DME: dieta mediterrânea suplementada com azeite de oliva extra virgem (≥4 colheres de sopa/dia), fornecido gratuitamente.

    • Grupo DMN: dieta mediterrânea suplementada com nozes (30 g/dia: 15 g de nozes, 7,5 g de amêndoas e 7,5 g de avelãs), fornecido gratuitamente.

    Controle:

    • Grupo DC: dieta de baixa gordura, com aconselhamento para reduzir a ingestão total de gorduras.

    Desfechos:

    • Primário: ocorrência de um evento cardiovascular maior (MACE), um composto de infarto do miocárdio (IAM), acidente vascular encefálico (AVE) e morte de causa cardiovascular.

    • Secundário: ocorrência isolada de AVE, IAM, morte por causas cardiovasculares ou mortes por qualquer causa. 

    Características dos Pacientes:

     

    Masculino (43% Masculino)Feminino (57% Feminino)
    Masculino
    Feminino

     

    • Grupo DME (N = 2543) X Grupo DMN (N = 2454) X Grupo DC (N = 2450): 

    • Sexo feminino (%): 58,7 X 54,0 X 59,7

    • Raça ou grupo étnico (%):

      • Brancos, Europa: 97,1 X 97,4 X 96,9

      • Hispânicos, Américas Central/Sul: 1,4 X 1,2 X 1,6

      • Outros: 1,5 X 1,4 X 1,5

    • Status de tabagismo (%):

      • Nunca fumou: 61,8 X 59,7 X 62,3

      • Ex-tabagista: 24,3 X 25,8 X 23,8

      • Fumante atual: 13,9 X 14,5 X 13,8

    • Hipertensão arterial (%): 82,1 X 82,5 X 83,7

    • Diabetes mellitus tipo 2 (%): 50,4 X 46,6 X 48,5

    • Dislipidemia (%): 71,6 X 73,3 X 72,0

    • História familiar de doença coronariana prematura (%): 22,7 X 21,7 X 22,9

    • Uso de medicações (%):

      • Inibidores da ECA: 48,6 X 49,8 X 49,6

      • Diuréticos: 21,0 X 19,4 X 22,9

      • Outros agentes anti-hipertensivos: 28,5 X 28,9 X 30,9

      • Estatinas: 40,9 X 39,3 X 40,1

      • Outros agentes hipolipemiantes: 4,8 X 5,9 X 5,1

      • Insulina: 4,9 X 5,1 X 5,5

      • Agentes hipoglicemiantes orais: 30,2 X 27,7 X 30,9

      • Terapia antiplaquetária: 18,7 X 20,0 X 20,9

      • Terapia de reposição hormonal (apenas mulheres): 2,8 X 2,6 X 2,7

    Resultados:

    • O uso de uma dieta mediterrânea suplementada reduziu a incidência de eventos cardiovasculares maiores (desfecho primário) em comparação à dieta controle. No grupo DME, 3,8% dos participantes apresentaram eventos, no grupo DMN 3,4%, e no grupo DC 4,4% (HR para DME vs. DC: 0,69 [IC 95% 0,53–0,91], HR para DMN vs. DC: 0,72 [IC 95% 0,54–0,95]).

    • A dieta mediterrânea com suplementação foi associada a menores taxas de AVC isolado em comparação à dieta controle. No grupo DME, ocorreram 1,3% de eventos, no grupo DMN 1,1%, e no grupo DC 1,7% (HR para DME vs. DC: 0,75 [IC 95% 0,50–1,10], HR para DMN vs. DC: 0,65 [IC 95% 0,43–0,98]).

    • As taxas de infarto do miocárdio foram semelhantes entre os grupos, sem diferença significativa. Os eventos ocorreram em 0,9% no grupo DME, 0,8% no grupo DMN e 0,8% no grupo DC (HR não reportado).

    • A mortalidade por causas cardiovasculares foi ligeiramente menor nos grupos de dieta mediterrânea suplementada. Os óbitos ocorreram em 1,6% no grupo DME, 1,4% no grupo DMN e 1,8% no grupo DC (HR para DME vs. DC: 0,89 [IC 95% 0,62–1,28], HR para DMN vs. DC: 0,80 [IC 95% 0,54–1,18]).

    • Seguimento mediano de 4,8 anos​.

    Conclusões:

    • A adoção de uma dieta mediterrânea suplementada com azeite de oliva extravirgem ou nozes, por aproximadamente 5 anos, reduziu significativamente a incidência de eventos cardiovasculares maiores em comparação com uma dieta de baixa gordura, em indivíduos com alto risco cardiovascular.

    Pontos Fortes:

    • Estudo com poder amostral satisfatório. 

    • Grupos homogêneos, permitindo comparação satisfatória. 

    • Estratégias eficazes de monitoramento da adesão às dietas, com uso de biomarcadores específicos (hidroxitirosol urinário e ácido alfalinolênico plasmático) e visitas frequentes.

    • Reanálise com métodos rigorosos ajustou para as falhas de randomização, utilizando 30 covariáveis para balanceamento. Os resultados permaneceram consistentes com os originais.

    Pontos Fracos:

    • População majoritariamente branca e europeia, limitando a generalização para outras etnias.

    • Resultados restritos a indivíduos de alto risco cardiovascular, sem extrapolação para populações de menor risco.

    • O protocolo para o grupo controle foi mudado na metade do estudo, com a realização de maior número de visitas de apoio a este grupo. A intensidade mais baixa de intervenção nutricional neste grupo nos primeiros anos de estudo pode ter enviesado o estudo em direção a um benefício dos dois grupos de dieta mediterrânea, uma vez que estes grupos receberam uma intervenção mais intensiva durante este período.

    • As diferenças nos padrões alimentares entre os grupos, medidas pelo questionário de frequência alimentar, foram pequenas, provavelmente porque os participantes do estudo eram majoritariamente europeus. Isso levanta dúvidas sobre a aplicabilidade dos resultados em populações de alto risco com padrões alimentares diferentes, como a brasileira, onde o consumo de alimentos processados, ultraprocessados e frituras é mais comum, e a dieta mediterrânea não faz parte da cultura alimentar predominante.


    Autor do conteúdo

    Melanie Rodacki


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/dieta-mediterranea-suplementada-com-azeite-de-oliva-extravirgem-ou-nozes-para-prevencao-primaria-de-doenca-cardiovascular


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