Diagnóstico e Tratamento Precoce de DPOC e Asma
04 de julho de 2024
7 minutos de leitura
O diagnóstico precoce de DPOC e asma, seguido de tratamento dirigido por pneumologista, reduz a utilização de recursos de saúde para doenças respiratórias?
A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e a asma são comuns e subdiagnosticadas, principalmente em países subdesenvolvidos. Essas doenças quando não tratadas de forma adequada, pioram a qualidade de vida e a produtividade no trabalho. A asma e DPOC costumam manifestar-se com os mesmos sintomas, como dispneia, sibilos, tosse e sensação de aperto no peito, e cursam com obstrução do fluxo de ar. Ambas podem ser diagnosticadas com espirometria. O diagnóstico precoce permite medidas preventivas e tratamento, reduzindo a progressão da doença e a necessidade de cuidados de saúde. Portanto o objetivo deste estudo foi avaliar se o diagnóstico e tratamento precoce de DPOC e asma, realizado por pneumologistas, reduz a utilização de cuidados em saúde para doenças respiratórias em comparação ao tratamento usual na atenção primária.
Ensaio clínico randomizado multicêntrico envolvendo 18 centros no Canadá
Os participantes foram recrutados em um processo de duas etapas:
Na primeira etapa, uma empresa de pesquisas comerciais fez chamadas telefônicas aleatórias com uma mensagem gravada sobre sintomas respiratórios nos últimos 6 meses. Se positivo, o coordenador local avaliava a elegibilidade por questionários. Pacientes com pontuação >6 (asma) e/ou >20 (DPOC) foram convocados para espirometria.
Na segunda etapa os diagnosticados com asma ou DPOC foram randomizados 1:1 em blocos de 2 ou 4, estratificados por centro e diagnóstico.
Foi calculada uma amostra de 500 pacientes para um poder estatístico de 94% de detectar uma razão de incidência de 0,5 no desfecho primário com um alfa de 0,05
Pacientes adultos com asma ou DPOC ainda não diagnosticados, entre 2017 e 2024
Idade ≥ 18 anos
Pacientes que completaram o questionário de screening e obtiveram escore ≥ 6 no questionário de screening de Asma ou ≥ 20 no escore do questionário de screening de DPOC
Diagnóstico prévio de asma ou DPOC
Uso de medicamentos inalatórios
Pacientes com algumas das seguintes condições nos últimos 3 meses:
Aneurisma cerebral ou aneurisma de aorta
AVC
Hospitalização por problemas cardíacos
Descolamento de retina ou cirurgia ocular
Gestantes no 3° trimestre de gestação
Incapacidade de realizar espirometria
Os pacientes foram acompanhados por um pneumologista e um educador em asma e DPOC.
Receberam prescrições de tratamentos farmacológicos e não farmacológicos conforme guidelines internacionais, e reabilitação cardiopulmonar se necessário.
O educador forneceu orientações sobre a doença, exercícios, perda de peso, uso de dispositivos inalatórios, e prevenção de alérgenos e fumaça.
Vacinação pneumocócica foi providenciada e a vacinação anual contra influenza foi encorajada, além de terapia para cessação do tabagismo.
Os pacientes eram encaminhados com o resultado dos exames para acompanhamento no serviço de atenção primária.
Considerado diagnóstico de asma se a espirometria mostrasse resposta ao broncodilatador, definida como aumento de 12% e 200 mL no VEF1 após 400 μg de salbutamol em comparação aos valores pré-broncodilatador.
Considerado diagnóstico de DPOC se VEF1 ou CVF estiverem abaixo do quinto percentil sem resposta ao broncodilatador, ou se houver resposta ao broncodilatador, mas VEF1/CVF pós-broncodilatador ainda estiver abaixo do limite inferior da normalidade.
Primário: taxa anualizada de utilização do sistema de saúde por problemas respiratórios durante de 1 ano de acompanhamento.
Secundários: mudança da qualidade de vida pelo questionário SGRQ em 1 ano; sintomas respiratórios e seus efeitos nas atividades diárias pelo Teste de Avaliação da DPOC (CAT); VEF1 pré-broncodilatador e porcentagem do VEF1 normal; qualidade de vida geral, avaliada com o Formulário de Pesquisa de Saúde de 36 Itens do Estudo de Desfechos Médicos (SF-36) e cessação do tabagismo.
MasculinoFeminino
Grupo intervenção (n = 253) x Grupo Controle (n = 255)
Idade: 63,4 ± 13,4 x 62,8 ± 13,6
Sexo masculino: 64% x 58%
IMC: 29,6 ± 7,7 x 30,0 ± 6,5
Diagnóstico
Asma: 49% x 50%
DPOC: 51% x 50%
Espirometria pré-broncodilatador
VEF1 (L): 2,25 ± 0,76 x 2,29 ± 0,81
VEF1 (% do predito): 76,1 ± 17,5 x 78,5 ± 18,6
VEF1/CVF: 0,62 ± 0,1 x 0,63 ± 0,1
Espirometria pós-broncodilatador
VEF1 (L): 2,46 ± 0,8 x 2,48 ± 0,86
VEF1 (% do predito): 83,0 ± 17,5 x 85,2 ± 19,0
VEF1/CVF: 0,65 ± 0,11 x 0,66 ± 0,10
Mudança em % em VEF1: 9,7 ± 7,9 x 9,1 ± 7,9
Tabagismo
Não tabagista: 25% x 27%
Ex-tabagistas: 49% x 46%
Tabagistas ativos: 25% x 27%
Questionário de triagem DPOC/Asma
Asma Screening Questionnaire: 7,7 ± 3,7 x 7,6 ± 3,8
DPOC Diagnostic Questionnaire: 22,6 ± 5,3 x 22,8 ± 5,6
Houve menor taxa anualizada de utilização de serviço de saúde por problemas respiratórios no grupo intervenção em comparação ao grupo controle (n°. de participantes/eventos por pessoa-ano): 253/0,53 x 255/1,12; (RR 0,48; IC 95% 0,36 a 0,63)
No subgrupo Asma, houve menor taxa anualizada de utilização de serviço de saúde por problemas respiratórios (n°. de participantes/eventos por pessoa-ano): 123/0,61 x 127/1,23; (RR 0,49; IC 95% 0,33 a 0,73)
No subgrupo DPOC, houve menor taxa anualizada de utilização de serviço de saúde por problemas respiratórios (n°. de participantes/eventos por pessoa-ano): 130/0,46 x 128/1,01 (RR 0,46; IC 95% 0,31 a 0,67)
Houve melhora na qualidade de vida pelo questionário SGRQ em 1 ano no grupo intervenção (Variação no Score SGRQ em 1 ano): -10,2 x -6,8 (DA -3,5; IC 95% -6,0 a -0,9)
Houve melhora dos sintomas de DPOC pela avaliação do escore CAT em 12 meses no grupo intervenção (Variação no CAT em 1 ano): -3,5 x -2,6 (DA -1,3; IC 95% -2,4 a -0,1)
Não houve diferença na qualidade de vida pelo SF-36 entre os grupos (Variação no SF-36 em 1 ano): 4,4 x 2,5 (DA 1,9; IC 95% -0,4 a 4,2)
Houve melhora do VEF1 em 12 meses no grupo intervenção (Variação em % do VEF1 em 1 ano): 4,7 x 1,5 (DA 3,2; IC 95% 1,5 a 4,9)
Pacientes com asma ou DPOC até então desconhecido, o diagnóstico seguido de tratamento dirigido por pneumologista e educação apresentaram diminuição da necessidade de cuidados em saúde para doenças respiratórias em comparação ao diagnóstico seguido de tratamento usual na atenção primária.
O estudo recrutou uma coorte de adultos sem diagnóstico conhecido de asma ou DPOC, mas com sintomas respiratórios, utilizando busca ativa na comunidade.
Avaliou desfechos clínicos relevantes, como a necessidade de atendimento médico por problemas respiratórios e a melhora na qualidade de vida e percepção de sintomas dos pacientes.
Incluiu uma abordagem educacional detalhada para os pacientes, fornecendo informações sobre a doença, exercícios, uso correto de dispositivos inalatórios e prevenção de alérgenos, o que pode contribuir significativamente para a autogestão da doença.
A intervenção não pôde ser cegada.
Embora multicêntrico, o estudo foi conduzido apenas no Canadá, limitando a validade externa dos dados.
Os pacientes do grupo intervenção receberam cuidados de um pneumologista e de um educador em asma e DPOC do estudo, entretanto em muitos lugares o acesso a esses especialistas é escasso, o que reduz a aplicabilidade desse estudo.
O método de identificação de casos foi ineficiente, necessitando cerca de 27 mil entrevistas para identificar 595 adultos com asma ou DPOC não diagnosticadas.
Autor do conteúdo
Guilherme Lemos
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/diagnostico-e-tratamento-precoce-de-dpoc-e-asma
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