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    Detecção Precoce e Tratamento da Hemorragia Puerperal

    13 de fevereiro de 2025

    4 minutos de leitura

    Pergunta:

    • Um conjunto de intervenções direcionadas à detecção e ao tratamento precoces da hemorragia puerperal pós parto vaginal resulta em melhores desfechos?

    Background:

    • A hemorragia puerperal, definida como sangramento acima de 500 ml após o parto, é responsável por 27% das mortes maternas em todo o mundo. Apesar de a Organização Mundial da Saúde ter elaborado recomendações para prevenção e manejo desta condição, desafios como atraso na identificação, atraso na implementação do tratamento e lacunas na estrutura de cuidado local e no acesso à informação mantém a hemorragia puerperal como uma causa importante de morbimortalidade materna. Diante desses desafios foi elaborado o estudo E-MOTIVE, um trial randomizado por clusters que avaliou o impacto da implementação de um pacote de intervenções para prevenir e tratar o sangramento puerperal pós parto vaginal.

    Desenho do estudo:

    • Ensaio clínico multicêntrico (80 hospitais secundários no Quênia, Nigéria, África do Sul e Tanzânia). 

    • Randomizado por clusters (cada hospital era um cluster) em uma razão 1:1.

    • Estudo controlado, não-cegado.

    • Foi calculado que 80 clusters seriam necessários para ter 90% de poder para demonstrar uma redução de 4% para 3% no desfecho primário, com erro alfa de 5% e considerando 10% de perdas de seguimento. 

    População:

    • Pacientes admitidas nos hospitais do estudo após parto vaginal em 2021 e 2022. 

    Critérios de inclusão:

    • Hospitais secundários responsáveis por áreas geográficas distintas com 1000 a 5000 partos vaginais por ano e capacidade de cuidado obstétrico, incluindo cirurgia para sangramento puerperal.

    Principais critérios de exclusão:

    • Hospitais que já possuíam um protocolo de cuidado estruturado para tratamento de hemorragia puerperal.

    Intervenções:

    • Pacote de intervenções para a prevenção e o tratamento da hemorragia puerperal (E-MOTIVE).

      • E: detecção precoce usando coletores calibrados para medir o sangramento, com alertas para volumes acima de 500 ml ou 300 ml se associado com sinais ou sintomas

      • M: Massagem uterina

      • O: Ocitocina, ataque de 10 UI, seguida de 20 UI em 6h (manutenção)

      • T: Ácido tranexâmico 1g EV administrado em 10 minutos

      • IV: fluídos intravenosos se necessário

      • E: certificar que a bexiga está vazia, remover coágulos, verificar a presença de lacerações e avaliar a placenta quanto à sua integridade; escalonar o tratamento caso o sangramento não melhore

    Controle:

    • Cuidado usual de acordo com diretrizes locais e nacionais.

    Outros tratamentos:

    • Todos os clusters passaram por um período de sete meses de cuidado usual antes da randomização. Posteriormente, foram designados para continuar com o cuidado usual ou implementar o pacote de intervenções por sete meses. Foi permitido um intervalo de transição de dois meses para a realização de treinamentos, implementação e integração da intervenção na prática.

    • A implementação foi conduzida por meio de estudos de casos, simulações, treinamentos locais, formação de líderes locais (médicos e parteiros capacitados para liderar a equipe e auxiliar na implementação de mudanças) e auditorias regulares.

    Desfechos:

    • Primário: desfecho composto que incluiu hemorragia puerperal grave (volume superior a 1 litro em 1 hora), necessidade de laparotomia para controle do sangramento ou morte materna decorrente de hemorragia.

    • Secundários: componentes do desfecho primário, morte por qualquer causa, transfusão sanguínea, volume de sangramento, necessidade de tamponamento uterino, necessidade de UTI, morte neonatal e uso de recursos. 

    Características dos pacientes:

     

     

    99.659 participantes | Cuidado Usual = 51% e Conjunto de medidas (E-MOTIVE) = 49%

    Hospitais:

    • Intervenção (N = 39) x Cuidado usual (N = 39)

    • Mediana de partos vaginais por hospital anualmente: 1136 x 1263

    • Disponibilidade de recursos

      • Ocitocina: 100% x 100%

      • Ácido tranexâmico: 100% x100%

      • Fluídos intravenosos: 100% x 100%

    Pacientes: 

    • Intervenção (N = 49101) x Cuidado usual (N = 50558)

    • Mediana de idade, em anos: 26 x 26

    • Mediana de partos prévios: 1 x 1

    • Cesárea prévia: 3% x 2,5%

    • Gestação múltipla: 1,6% x 1,9%

    • Mediana de idade gestacional, em semanas: 39 x 38

    • Idade gestacional < 37 semanas: 15,5% x 17,5%

    • Pré-eclâmpsia: 2,1% x 2,4%

    • Parto induzido: 13,9% x 18,4%

     

    Resultados:

    • O conjunto de intervenções reduziu significativamente a ocorrência do desfecho primário composto.

    Gráfico

    Título: Hemorragia puerperal grave, necessidade de laparotomia para controle de sangramento ou morte materna decorrente de hemorragia

    Duas colunas: Conjunto de Medidas (E-MOTIVE) = 1,6% e Cuidado Usual = 4,3% 

    • O desfecho primário composto ocorreu em 1,6% das pacientes no grupo intervenção versus 4,3% do grupo cuidado usual (RR 0,40; IC 95% 0,32 a 0,50; P <0,001).

    • A Hemorragia pós-parto grave ocorreu em 1,6% no grupo E-MOTIVE e em 4,3% no controle (RR 0,39; IC 95% 0,55 a 0.90).

    • A necessidade de laparotomia para controle de sangramento ocorreu em 12 pacientes do grupo intervenção e em 7 do grupo controle.

    • A morte materna por sangramento ocorreu em 12 pacientes no grupo intervenção e 18 pacientes no grupo de cuidado usual.

    • A hemorragia pós-parto ocorreu em 8,5% do grupo intervenção e 16,7% do grupo cuidado usual. O diagnóstico foi realizado de forma adequada em 93,1% do grupo intervenção e em 51,1% do grupo cuidado usual e a aderência ao tratamento foi de 91,2% e 19,4%, respectivamente.

     

    Conclusões:

    • A implementação de um conjunto de intervenções para prevenção e tratamento de hemorragia puerperal resultou em melhora em desfechos clínicos graves, especialmente com redução na ocorrência de sangramento grave. 

     

    Ponto a ponto:

    Pontos fortes 

    • Estudo randomizado e multicêntrico.

    • Estudo pragmático.

    • Amostra grande com elevado poder estatístico.

     

    Pontos Fracos

    • Estudo em clusters, no qual a intervenção é concebida como um programa de melhoria de cuidados implementado em nível hospitalar. Não é possível extrapolar esses resultados para o cuidado individual de pacientes fora de um contexto de implementação hospitalar abrangente.

    • Os centros do estudo estão localizados em países de baixa e média renda, o que limita a validade externa, especialmente em relação a cenários de alta renda.


    Autor do conteúdo

    Luis Júnior


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/deteccao-precoce-e-tratamento-da-hemorragia-puerperal


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