Desfechos a Longo Prazo do Ressincronizador-Desfibrilador para Insuficiência Cardíaca
30 de abril de 2024
6 minutos de leitura
O ressincronizador/desfibrilador é superior ao cardiodesfibrilador implantável (CDI) em pacientes com insuficiência cardíaca?
A terapia de ressincronização cardíaca (TRC) demonstrou reduzir mortalidade e desfechos relacionados à insuficiência cardíaca em pacientes com insuficiência cardíaca sintomática, fração de ejeção reduzida e um complexo QRS alargado, apesar de terapia medicamentosa otimizada. Em um grande conjunto de pacientes selecionados, a restauração da sincronia elétrica ventricular levou a uma melhora da função ventricular esquerda, redução de sintomas e de mortalidade por todas as causas. O ensaio clínico RAFT mostrou que a associação de um ressincronizador a um cardiodesfibrilador, juntamente com terapia medicamentosa otimizada foi capaz de reduzir a mortalidade em pacientes com fração de ejeção ≤30%, duração de QRS > 120 milissegundos e classe funcional pela New York Heart Association (NYHA) II-III. No entanto, dados sobre efeitos a longo prazo da terapia ainda são escassos. Dessa forma, para melhor entendimento dos desfechos e benefícios à longo prazo da terapia de ressincronização cardíaca, houve a análise dos desfechos de sobrevivência dos pacientes selecionados nos oito locais com maior número de seleção do estudo RAFT
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico
Duplo cego
Os 8 centros que selecionaram maior número de pacientes no estudo RAFT participaram deste ensaio clínico de desfechos de longo prazo e 1050 pacientes foram considerados elegíveis
O tempo médio de follow up deste ensaio clínico de desfechos de longo prazo foi de 7,7 anos para todos os pacientes. O tempo médio de follow up para os pacientes que sobreviveram foi de 13,9 anos
Pacientes com insuficiência cardíaca e indicação de cardiodesfibrilador selecionados entre 2003 e 2009
NYHA classe II-III
FEVE ≤ 30%
Complexo QRS ≥120ms ou medida de QRS estimulado ≥ 200ms
Indicação de cardiodesfibrilador para prevenção primária ou secundária
Terapia farmacológica otimizada para insuficiência cardíaca
Ritmo sinusal normal ou taquiarritmia atrial crônica persistente com FC ventricular de repouso ≤ 60bpm e FC ventricular do teste de caminhada de 6 minutos ≤ 90bpm ou taquiarritmia atrial crônica persistente com FV ventricular de repouso > 60bpm e FC ventricular do teste de caminhada de 6 minutos > 90bpm e agendado para ablação da junção atrioventricular
Agentes inotrópicos intravenosos nos últimos 4 dias antes da seleção
Expectativa de vida < 1 ano por causas não cardíacas
Expectativa de transplante cardíaco dentro de 1 ano (status I)
Pacientes hospitalizados que tiveram doenças agudas cardíacas ou não cardíacas e que necessitassem de tratamento em unidade de terapia intensiva
Doença valvar primária não corrigida ou incorrigível
Restritiva, hipertrófica ou forma reversível de cardiomiopatia
Doença pulmonar primária grave, como cor pulmonale
Válvula tricúspide protética
Pacientes com cardiodesfibrilador existente
Revascularização coronária (cirúrgica ou angioplastia) < 1 mês se fração de ejeção de ventrículo esquerdo prévia fosse > 30%
História de não adesão à terapia medicamentosa
Implante de ressincronizador/cardiodesfibrilador + terapia medicamentosa otimizada
Implante de cardiodesfibrilador + terapia medicamentosa otimizada
Os dados sobre sobrevivência eram obtidos a partir dos registros clínicos dos pacientes
Os dados dos pacientes que tiveram perda de seguimento foram censurados na data do último contato clínico
As datas de transplante cardíaco ou implante de dispositivo de assistência ventricular foram coletadas dos registros clínicos quando relevantes
Primário: morte por todas as causas
Secundários: desfecho composto de morte por todas as causas, transplante cardíaco ou implante de dispositivo de assistência ventricular esquerda
MasculinoFeminino
Intervenção (N=520) x Controle (N=530):
Idade (anos): 66,3±9,3 x 66,8±9,1
Doença cardíaca basal
Isquêmica: 68,7% x 67,2%
Não-isquêmica: 31,3% x 32,8%
NYHA
Classe II: 76,7% x 76,2%
Classe III: 23,3% x 23,8%
Fração de ejeção ventrículo esquerdo: 22,3±5.4 x 22,1±5.1
Fibrilação atrial permanente ou flutter: 15,8% x 15,7%
Ritmo sinusal ou atrial: 84,2% x 84,3%
Hipertensão: 44,8% x 46,6%
Diabetes: 30,2% x 36,6%
Angioplastia coronária prévia: 23,1% x 24,2%
Cirurgia cardíaca prévia: 35% x 36,6%
Tabagismo: 13,5% x 13,4%
Doença vascular periférica: 8,3% x 9,4%
Medicações:
Betabloqueadores: 90,4% x 89,8%
IECA /BRA: 96,3 x 96,8%
Espironolactona: 41,2% x 42,3%
Taxa de filtração glomerular (média): 58,3±19,6 x 58,9±22,5
Morte por todas as causas ocorreu 76,4% dos pacientes no grupo controle e em 71,2% dos pacientes no grupo intervenção
O tempo até a morte foi maior no grupo intervenção do que no grupo controle (fator de aceleração 0,80; IC95%, 0,69 – 0,92; p=0,002)
O desfecho secundário (composto de morte por todas as causas, transplante cardíaco ou implante de dispositivo de assistência ventricular esquerda) ocorreu em 77,7% dos pacientes no grupo intervenção e em 75,4% dos pacientes no grupo controle
O tempo até o desfecho composto ocorrer foi mais longo no grupo intervenção do que no grupo controle (fator de aceleração 0,85; IC95%, 0,74-0,98)
O implante de um ressincronizador/desfibrilador foi superior ao implante apenas de cardiodesfibrilador em pacientes com fração de ejeção de ventrículo esquerdo reduzida, com QRS alargado e classe funcional NYHA II-III. Tais benefícios foram mantidos durante um tempo médio de seguimento de 14 anos
Avaliou o impacto das intervenções estudadas (implante de ressincronizador/desfibrilador x implante apenas de cardiodesfibrilador) em pacientes com insuficiência cardíaca avançada e pior classe funcional. Dessa forma, seus resultados podem ser aplicados neste perfil grave de pacientes
Incluiu pacientes com cardiomiopatia isquêmica e não isquêmica. Assim, seus resultados podem ser aplicáveis em pacientes com apresentações clínicas diferentes da insuficiência cardíaca
Pacientes apresentavam terapia medicamentosa otimizada para insuficiência cardíaca.
Boa proporção de distribuição de comorbidades entre os grupos. Assim, tem menor risco de viés de seleção.
Baixa proporção de pacientes do sexo feminino
Desde o começo do ensaio clínico RAFT, aconteceram mudanças na terapia farmacológica redutora de mortalidade em insuficiência cardíaca (com a inclusão dos inibidores da neprilisina e dos inibidores do SGLT2). Tais medicações não foram incluídas na terapia farmacológica dos pacientes do estudo, o que pode ter impactado os desfechos do ensaio clínico.
A população estudada neste ensaio clínico de desfechos de longo prazo corresponde apenas a um subgrupo de toda a população do estudo RAFT. Dessa forma, a aplicabilidade de seus resultados deve ser feita com cautela.
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/desfechos-a-longo-prazo-do-ressincronizador-desfibrilador-para-insuficiencia-cardiaca
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