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    Dapagliflozina para Pacientes Críticos com Disfunções Orgânicas

    20 de junho de 2024

    5 minutos de leitura

    Pergunta:

    • O uso de Dapagliflozina em pacientes críticos resulta em melhores desfechos? 

    Background:

    • O uso de inibidores do cotransportador sódio/glicose 2 (SGLT-2) resulta em melhores desfechos em diversas condições renais, cardiovasculares e metabólicas. Seu uso em condições críticas tem sido testado recentemente, com resultados promissores, porém ainda não definitivos. Dentre os potenciais benefícios do uso desta classe de medicações em pacientes críticos estão a possibilidade de reduzir a disfunção endotelial, modular o tônus adrenérgico e o estresse oxidativo e exercer efeitos cardiorrenais benéficos. Apesar de alguns estudos experimentais sugerirem um potencial para tais medicações, não existem estudos randomizados avaliando os inibidores de SGLT-2 em pacientes críticos, motivo pelo qual foi conduzido o estudo DEFENDER 

    Desenho do estudo:

    • Ensaio clínico randomizado

    • Multicêntrico (22 UTIs no Brasil)

    • Não cego

    • Foi calculado que a inclusão de 500 pacientes seria suficiente para ter 85% de poder para demonstrar um valor mediano de 1,4 no win-ratio para o desfecho primário composto, com erro alfa de 5%

    População:

    • Pacientes críticos com disfunção orgânica incluídos entre 2022 e 2023

    Critérios de inclusão:

    • Idade ≥18 anos

    • Admissão em UTI com expectativa de internação por pelo menos 48h

    • Pelo menos uma disfunção orgânica, definida por:

      • Hipotensão ou uso de vasopressores

      • Injúria renal aguda

      • Uso cateter nasal de alto fluxo, ventilação não invasiva ou invasiva

    Principais critérios de exclusão:

    • Disfunção orgânica presente por mais de 24h antes da randomização

    • Doença renal crônica em estágio final com necessidade de diálise

    • Uso prévio de Dapagliflozina ou outros inibidores da SGLT-2

    • Diabetes tipo 1 ou história de cetoacidose diabética prévia

    • Admissão devido a cirurgia eletiva

    Intervenção:

    • Dapagliflozina via oral 10 mg ao dia + cuidado usual 

    Controle:

    • Cuidado usual

    Outros tratamentos:

    • O tratamento com Dapagliflozina era mantido por até 14 dias ou até a alta da UTI

    • Em algumas situações era mandatório interromper o uso de Dapagliflozina: jejum absoluto, cetoacidose euglicêmica, > 1 episódio de hipoglicemia grave (< 50 mg/dl), início de terapia de substituição renal

    • Todos os demais cuidados eram realizados conforme a rotina de cada unidade

    Desfechos:

    • Primário: desfecho composto hierárquico constituído de mortalidade hospitalar, início de terapia de substituição renal e duração da internação em UTI dentro dos primeiros 28 dias após a randomização

      • Para a análise do desfecho primário foi utilizado o win-ratio (cada paciente em um grupo forma pares de comparação com todos os outros pacientes no outro grupo, sendo cada desfecho avaliado em ordem de hierarquia; em caso de empate em um desfecho, segue-se para o desfecho seguinte; para o cálculo do win-ratio divide-se o número de vitórias pelo número de derrotas do grupo dapagliflozina).  

    • Secundários: mortalidade hospitalar, uso de diálise, dias livres de UTI, dias livres de hospital, dias livres de vasopressor, dias livres de ventilação e dias livres de diálise.

    • Segurança: elevação de transaminases (acima de 3x LSN), lesões de pele, hipoglicemia, infecção do trato urinário, infecções de corrente sanguínea, ocorrência de cetoacidose diabética. 

    Características dos pacientes:

     

    Masculino (53% Masculino)Feminino (47% Feminino)
    Masculino
    Feminino

     

    • As principais características dos pacientes são apresentadas a seguir:

    • Dapagliflozina (N=248) x Controle (N=259)

    • Idade: 63,3 x 64,5 anos

    • Sexo feminino: 44% x 49,8%

    • Admissão cirúrgica: 17,3% x 15,4%

    • Causa de admissão:

      • Infecção: 40,3% x 40,2%

      • Doenças cardíacas: 32,3% x 31,7%

      • Doenças neurológicas: 12,5% x 15,2%

    • Uso de ventilação invasiva: 46,4% x 46,3%

    • Uso de vasopressores: 51,6% x 48,3%

    • Creatinina (mediana): 1,35 x 1,33 mg/dL 

    Resultados:

    • Dapagliflozina não melhorou os desfechos clínicos dos pacientes em UTI

    • O grupo que recebeu Dapagliflozina apresentou resultados similares no desfecho primário em relação ao grupo controle (win-ratio 1,01; IC 95% 0,90 a 1,13; P = 0,89)

    • A mortalidade em 28 dias foi de 35,5% no grupo dapagliflozina e 34,4% no grupo cuidado usual.

     

    
    

     

    • Início de terapia de substituição renal ocorreu em 10,9% do grupo dapaglifozina e 15,1% do grupo controle

    • Não foram observadas diferenças entre os grupos em relação aos dias livres de UTI, dias livres de hospital, dias livres de ventilação mecânica, dias livres de vasopressores e dias livres de diálise

    • Eventos adversos ocorreram em frequência similar entre os grupos

    Conclusões:

    • O uso de Dapagliflozina em pacientes críticos com disfunção orgânica não resultou em melhores desfechos em comparação ao cuidado usual

    Pontos Fortes: 

    • Estudo randomizado e multicêntrico

    • Estudo pragmático

    • Validade alta para a população brasileira (22 centros no Brasil) 

    Pontos Fracos:

    • Estudo não cego, o que pode introduzir viés no manejo dos pacientes e observação dos resultados 

    • Critério de inclusão bastante amplo. É possível que em subgrupos específicos de doentes críticos o resultado observado fosse diferente

    • Desfecho composto. Apesar do uso do win ratio amenizar esse viés, ainda é um desfecho que une desfechos com pesos diferentes


    Autor do conteúdo

    Luis Júnior


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/dapagliflozina-para-pacientes-criticos-com-disfuncoes-organicas


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