Craniectomia Descompressiva vs Craniotomia para Hematoma Subdural Agudo
28 de novembro de 2024
7 minutos de leitura
A drenagem de hematoma subdural agudo com craniectomia descompressiva melhora o desfecho neurológico funcional em comparação à drenagem com craniotomia?
A craniectomia descompressiva é frequentemente indicada em casos de lesão cerebral traumática como tratamento de última linha para a hipertensão intracraniana. Nesses casos, essa intervenção pode melhorar a sobrevida de pacientes com hipertensão intracraniana refratária. Os hematomas subdurais, com certa frequência, evoluem com lesão do parênquima cerebral adjacente ao sangramento, o que pode desencadear edema cerebral. A drenagem do hematoma subdural agudo pode ser seguida pela manutenção do flap ósseo (craniotomia) ou pela remoção do flap ósseo (craniectomia descompressiva). A craniectomia descompressiva, nesse cenário, é frequentemente realizada devido ao edema já presente durante o procedimento, que impede o fechamento da calota craniana sem a compressão do cérebro, ou mesmo de forma preemptiva, em razão do risco de desenvolvimento de edema nos dias subsequentes. Entretanto, não há evidências robustas quanto à eficácia da craniectomia descompressiva primária no hematoma subdural agudo. Assim, o estudo RESCUE-ASDH avaliou os resultados da craniectomia descompressiva em comparação com a craniotomia em pacientes submetidos à drenagem de hematoma subdural agudo traumático.
Ensaio clínico pragmático, randomizado.
Multicêntrico, envolvendo 40 centros em 11 países (Reino Unido, Índia, Canadá, Malásia, Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Austrália, Hungria, Paquistão e Singapura).
Não cego
Após a evacuação do hematoma subdural, ainda em centro cirúrgico, os pacientes eram randomizados em blocos de 4, na proporção 1:1, estratificado por região geográfica, idade, gravidade da lesão e achados tomográficos.
Fase inicial de factibilidade com 92 pacientes de 19 centros, incluídos na análise do estudo final.
Estimou-se que seriam necessários 990 pacientes para detectar uma diferença de 8% em desfechos neurológicos favoráveis em 12 meses, com um poder de 90% e um alfa bicaudal de 5%, prevendo uma perda de seguimento de 10%. Após o início do estudo, a diferença considerada foi ajustada para 14%, reduzindo o cálculo da amostra para 440 indivíduos.
Adultos submetidos a evacuação cirúrgica de hematoma subdural agudo traumático, entre 2014 e 2019.
Idade > 16 anos
Diagnóstico de hematoma subdural agudo em tomografia
Indicação de evacuação cirúrgica do hematoma
Pacientes com lesões adicionais como contusão cerebral e hemorragia intraparenquimatosa poderiam ser incluídos.
Pupilas midriáticas e arreativas bilateralmente
Lesão de tronco cerebral em TC
Coagulopatia não corrigida
Hematoma subdural bilateral com necessidade de abordagem cirúrgica bilateral
Incapacidade física ou mental grave preexistente, ou comorbidade grave que levaria a desfecho clínico desfavorável mesmo que houvesse recuperação total da lesão craniana.
Craniectomia descompressiva, isto é, a remoção do retalho ósseo após a evacuação do hematoma.
Craniotomia, isto é, recolocação do retalho ósseo após a evacuação do hematoma.
Todos os pacientes foram submetidos a evacuação cirúrgica do hematoma subdural, sendo recomentada a retirada de um retalho ósseo de pelo menos 11 cm de diâmetro anteroposterior, com abertura da dura mater.
Lesões associadas, como hematoma intraparenquimatoso ou contusões poderiam ser removidas a critério do cirurgião.
Após a evacuação do hematoma, se o cérebro estivesse edemaciado o suficiente para impedir a recolocação do flap ósseo, o paciente não era randomizado.
O tipo de incisão, método de fechamento da dura-máter e do couro cabeludo, uso de drenos e monitorização de PIC eram realizadas a critério do cirurgião.
Primário: desfecho neurológico funcional em 12 meses pela análise ordinal da Escala de Desfecho de Glasgow Estendida (GOSE).
Secundários: desfecho neurológico funcional pelo GOSE em 6 meses; qualidade de vida pelo EQ-5D na alta, 6 e 12 meses; tempo de internação em UTI e unidade neurológica; mortalidade geral; eventos adversos e complicações cirúrgicas; necessidade de cirurgia em 2 semanas.
MasculinoFeminino
Craniotomia (N = 228) x Craniectomia Descompressiva (N = 222)
Média de idade: 48,3 x 48,8
Sexo masculino: 78,1% x 80,6%
Uso de qualquer medicamento antitrombótico: 14,4% x 15,3%
Escala de coma de Glasgow 3 a 8: 64,9% x 65,8%
Achados em TC
Desvio de linha média > 5 mm: 86,3% x 85,5%
Compressão ou apagamento de cisternas da base: 87,2% x 86,9%
Presença de contusão intraparenquimatosa ≤ 25 mL: 48,0% x 47,1%
Não houve diferença no desfecho neurológico funcional pela GOSE entre os grupos craniotomia e craniectomia descompressiva em 12 meses. OR 0,85; IC 95%: 0,60 a 1,18 (p=0,32).
Não houve diferença no desfecho neurológico funcional pela GOSE em 6 meses. OR 0,84; IC 95%: 0,59 a 1,18.
Não houve diferença na mortalidade em 30 dias: 21,3% (craniotomia) x 20,0% (craniectomia descompressiva).
Houve maior necessidade de reabordagem cirúrgica em 2 semanas no grupo craniotomia: 14,6% x 6,9%.
Não houve diferença na qualidade de vida pelo EQ-5D-5L na alta, em 6 meses e em 12 meses.
Não houve diferença na incidência de eventos adversos relacionados ao procedimento: 26,3% x 25,7%.
Complicações relacionadas à ferida operatória (7,66% vs 1,75%) e infecção de sítio cirúrgico (4,50% vs 2,19%) foram mais comuns no grupo craniectomia descompressiva.
A craniectomia descompressiva após a drenagem de hematoma subdural agudo não foi superior à craniotomia em melhorar o desfecho neurológico funcional em 12 meses.
Ensaio clínico randomizado multicêntrico, aumentando a validade externa dos resultados obtidos
Os pacientes foram randomizados, ainda no centro cirúrgico, excluindo os pacientes que claramente tinham edema cerebral significativo, com necessidade de craniectomia descompressiva. Isso reduz a chance de viés relacionado a gravidade da lesão, que levaria a quebra de protocolo e cross-over caso esses pacientes fossem randomizados para o grupo craniotomia.
Impossibilidade de cegamento do estudo devido à natureza da intervenção.
Os dados dos desfechos foram obtidos por questionário postado ou por contato telefônico, o que reduz a confiabilidade no resultado quando comparado com a avaliação presencial por um profissional de saúde.
Cerca de 8,8% dos pacientes randomizados para o grupo craniotomia passaram por craniectomia descompressiva e 5,4% dos pacientes do grupo craniectomia descompressiva foram submetidos a craniotomia, o que mostra uma taxa considerável de quebra de protocolo.
O cálculo da amostra foi alterado no desenrolar do estudo, reduzindo a amostra prevista de 990 para 440, o que pode ter interferido no resultado do estudo.
O estudo considerou como desfecho neurológico funcional favorável os pacientes com GOSE-4 (upper severe disability – necessidade de auxílio para algumas atividades básicas da vida diária e para atividades fora do domicílio) ou melhor. Na literatura, esse critério é bastante variável e apresenta diferentes interpretações, que podem ser influenciadas por fatores culturais.
Autor do conteúdo
Guilherme Lemos
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/craniectomia-descompressiva-vs-craniotomia-para-hematoma-subdural-agudo
Compartilhe
Copyright © 2024 Portal de Conteúdos MEDCode. Todos os direitos reservados.