Qual o Contexto?

A mortalidade em choque séptico permanece alta, com valores de aproximadamente 30-40%. No ano de 2018, dois trabalhos demonstraram que o uso de corticoide no choque séptico não reduziu a mortalidade (ADRENAL) em comparação ao placebo. No entanto, no estudo APROCHS, a associação de hidrocortisona com fludrocortisona se mostrou superior ao placebo para redução da mortalidade. Apesar disso, o Survivng Sepsis Campaign atualmente recomenda apenas a hidrocortisona em pacientes com choque séptico. Assim, permanece a dúvida: será que a hidrocortisona sozinha é capaz de manter os efeitos? Qual é a dose de fludrocortisona que devemos associar para buscar um efeito sinérgico? Neste contexto, esse estudo de fase 2 apresentado no ESICM em 2024 sugeriu que a associação de fludrocortisona na dose de 100 mcg esteve relacionada a menos recorrência de choque e a uma menor dose de vasopressor, apesar da ausência de significância estatística.

Como o Trabalho Foi Feito

Neste estudo de fase 2, 153 pacientes com choque séptico foram randomizados para uma das 4 estratégias: hidrocortisona na dose de 200mg, isoladamente, ou em associação com fludrocortisona nas seguintes doses:  50, 100 e 200 mcg. A terapia foi mantida por 7 dias e tanto os desfechos clínicos quanto a farmacocinética da droga foram avaliados. Embora o tempo para resolução do choque não tenha sido estatititicamente diferente entre os grupos, os autores citam que a dose 100 mcg mostrou uma menor recorrência de choque e uma menor dose de vasopressor, apesar da ausência estatística. A fludrocortisona foi dosada no sangue, e em 97% dos pacientes apresentava nível adequado, sugerindo boa absorção enteral, mesmo em pacientes com choque.

Qual o Impacto na Prática?

Por enquanto, o estudo ainda não altera nossa prática, e devemos manter o uso de hidrocortisona na dose de 200mg em pacientes com choque séptico que não tenha respondido às medidas iniciais. No futuro, resultados do estudo de fase 3 deste trabalho, com a dose de 100 mcg de fludrocortisona, podem trazer mais respostas sobre a necessidade ou não de associar essa medicação de rotina em pacientes com choque séptico.