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    Como Eu Trato Doença de Behçet Com Base nas Recomendações das Sociedades Britânicas de Dermatologia e de Reumatologia de 2024

    23 de dezembro de 2024

    4 minutos de leitura

    Racional: 

    • A doença de Behçet tem apresentação multissistêmica e idealmente requer cuidados conjuntos de múltiplas especialidades – reumatologistas, dermatologistas, oftalmologistas, neurologistas e cirurgiões vasculares. 

    • Este guideline tem como objetivo trazer recomendações atualizadas e baseadas em evidências para o cuidado de pacientes com Behçet, e para tal foi considerada a literatura disponível até agosto de 2023. 

    • Após revisão sistemática da literatura, recomendações foram elaboradas e ranqueadas de acordo com a metodologia GRADE por um painel multidisciplinar, constituído por dermatologistas, reumatologistas, reumatologistas pediátricos, gastroenterologista, especialistas em saúde bucal, neurologista, psicólogos, ginecologista, farmacêutico e pacientes com doença de Behçet. As recomendações foram classificadas em forte, fraca ou fortemente contrária (o que não deve ser feito), ou então de boas práticas (recomendações baseadas em consenso de especialistas). 

    Recomendações:

    • Critérios de Diagnóstico:

      • Usar os critérios ISG (1990) ou ICBD para o diagnóstico da doença de Behçet (recomendação de boas práticas).

    • Recomendações gerais de tratamento:

      • Considerar o uso de metotrexato ou azatioprina em pacientes em uso de anti-TNF para prevenir anticorpos antidroga (recomendação de boas práticas).

      • Talidomida não deve ser prescrita a pacientes com Behçet (exceto em circunstâncias excepcionais), devido ao perfil de efeitos adversos, como teratogenicidade e neurotoxicidade (recomendação fortemente contrária). 

    • Envolvimento mucocutâneo: 

      • Corticosteroides tópicos: uso recomendado para úlceras orais/genitais leves e como adjuvante à imunossupressão sistêmica em casos graves (recomendação forte).

      • Colchicina: recomendada como segunda linha quando corticosteroides tópicos forem insuficientes (recomendação forte).

      • Azatioprina ou Micofenolato de mofetila: terapia de terceira linha, isoladamente ou em combinação (recomendação forte).

      • Anti-TNF: para casos refratários às terapias sistêmicas convencionais (recomendação forte).

      • Alpremilaste: considerar como quarta linha de tratamento para lesões mucocutâneas, se disponível (recomendação fraca).

      • Secuquinumabe: considerar como quarta linha para lesões mucocutâneas sem envolvimento gastrintestinal e/ou ocular, em adultos e crianças >6 anos (recomendação fraca).

      • Dapsona: considerar como uma opção terapêutica (recomendação fraca).

    • Envolvimento articular: 

      • Colchicina: Primeira linha para artrite/artralgia sem envolvimento orgânico grave (recomendação forte).

      • Corticosteroides de depósito intramuscular: Segunda linha (recomendação forte).

      • Azatioprina ou anti-TNF: Para artrite/artralgia persistente (recomendação forte).

      • Alpremilaste, metotrexato, Micofenolato de mofetila e secuquinumabe: Considerar como opções (recomendações fracas).

    • Envolvimento gastrintestinal: 

      • Glicocorticoides IV como primeira linha de tratamento para reativações agudas de pacientes com Behçet gastrintestinal (recomendação forte).

      • Realizar o desmame de glicocorticoide em associação com mesalazina, azatioprina ou 6-mercaptopurina (recomendação forte). 

      • Mesalazina como primeira linha de tratamento para atividade gastrintestinal leve a moderada (recomendação forte).

      • Azatioprina ou 6-mercaptopurina como primeira ou segunda linha de tratamento em pacientes com atividade moderada a grave, ou com úlceras grandes ou profundas (recomendação forte).

      • Considerar anti-TNF precocemente, como opção de primeira linha, em pacientes com Behçet gastrintestinal grave (recomendação de boas práticas). 

      • Aumentar a dose do anti-TNF ou reduzir o intervalo de aplicações em casos resistentes/refratários (recomendação forte). 

    • Envolvimento ocular:

      • Glicocorticoides orais/IV são primeira linha de tratamento quando houver doença ocular grave/ameaçadora à visão* (recomendação forte):

    *Vitreíte clinicamente significativa, infiltrado retiniano, oclusão vascular retiniana, edema de disco óptico ou edema macular.

    • Prescrever um agente poupador de corticoide em associação, como azatioprina, metotrexato ou inibidor da calcineurina (recomendação forte).

    • Anti-TNF é recomendado como opção de segunda linha (recomendação forte).

    • Interferon-alfa-2a, se disponível, pode ser usado para doença ocular grave/ameaçadora à visão (recomendação forte).

    • Tocilizumabe é recomendado para pacientes que não responderam a anti-TNF ou interferon-alfa-2a (recomendação forte). 

    • Considerar clorambucil ou ciclofosfamida após a falha da terapia biológica (recomendação fraca). 

    • Envolvimento neurológico: 

      • Doença parenquimatosa aguda: recomenda-se glicocorticoide IV em dose alta, seguido de glicocorticoide oral por até 6 meses (recomendação forte).

      • Recidiva parenquimatosa ou resposta inadequada ao glicocorticoide de manutenção: recomenda-se azatioprina associada ao glicocorticoide (recomendação forte). Alternativas incluem micofenolato de mofetila e metotrexato.

      • Manifestações graves ou com fatores de mau prognóstico (envolvimento de tronco encefálico ou medula espinhal e pleocitose no líquor): recomenda-se ciclofosfamida ou anti-TNF em associação a glicocorticoides como primeira linha (recomendação forte).

      • Controle inadequado da doença parenquimatosa (recidivas ou progressão): considerar o uso precoce de anti-TNF (recomendação fraca).

      • Episódios parenquimatosos graves: recomenda-se azatioprina e anti-TNF (infliximabe) em associação a glicocorticoide sistêmico como primeira linha (recomendação forte).

      • Trombose venosa central no Behçet: recomenda-se glicocorticoide IV em alta dose, seguido de manutenção por até 6 meses (recomendação forte).

      • Doença não-parenquimatosa recidivante: considerar azatioprina ou anti-TNF (recomendação fraca).

      • História de neuro-Behçet: evitar ciclosporina devido à neurotoxicidade (recomendação forte).

    • Envolvimento vascular:

      • Envolvimento arterial: recomenda-se glicocorticoide oral e ciclofosfamida ou anti-TNF como terapia de indução, com azatioprina ou anti-TNF como manutenção por no mínimo 2 anos (recomendação forte).

      • Envolvimento aórtico ou arterial periférico: recomenda-se angioplastia com stent ou cirurgia precocemente para pacientes sintomáticos (recomendação forte).

      • Aneurismas de artéria pulmonar: recomenda-se glicocorticoide oral e ciclofosfamida ou anti-TNF como terapia de primeira linha (recomendação forte).

      • Aneurisma de artéria pulmonar com resposta inadequada: considerar tocilizumabe ou interferon-alfa-2a (recomendação fraca).

      • Trombose venosa profunda aguda ou grave/refratária: considerar glicocorticoide oral e/ou anti-TNF como primeira linha, mantendo com anti-TNF ou azatioprina por no mínimo 2 anos (recomendação fraca).

      • TVP com terapia imunossupressora: não oferecer anticoagulantes (recomendação fortemente contrária).

      • TVP de membros inferiores: considerar interferon-alfa-2a como terapia de segunda linha (recomendação fraca).

    Flebite superficial ou TVP com febre de origem indeterminada: oferecer glicocorticoide oral em dose alta e azatioprina, após exclusão de outras condições (recomendação de boas práticas).


    Autor do conteúdo

    Marília Furquim


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/como-eu-trato-doenca-de-behcet-com-base-nas-recomendacoes-das-sociedades-britanicas-de-dermatologia-e-de-reumatologia-de-2024


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