Como Eu Manejo Padrões Complexos de FAN HEp-2 Com Base nas Recomendações do VI Consenso Brasileiro de Determinação de Anticorpos Contra Células HEp-2
06 de janeiro de 2025
3 minutos de leitura
A identificação de anticorpos contra antígenos de células HEp-2 (FAN) é a base laboratorial para o diagnóstico de colagenoses e uma valiosa ferramenta em inúmeras outras patologias imunomediadas. O presente documento (6º consenso brasileiro de determinação de anticorpos contra células HEp-2) discorre sobre padrões complexos e seus impactos na interpretação do exame pelos profissionais de saúde. Padrões complexos frequentemente estão associados a doenças autoimunes.
O que são padrões complexos de FAN? Padrões complexos são configurações de imunofluorescência que não se encaixam em um único padrão clássico porque envolvem múltiplos autoanticorpos ou um único autoanticorpo com reatividade em diferentes compartimentos celulares. Esses padrões indicam situações clínicas mais desafiadoras e requerem uma análise mais cuidadosa.
Como reconhecer um padrão complexo? Suspeita-se de padrões complexos ao observar no laudo descrições como “padrão misto”, “padrão múltiplo” ou “padrão composto”. Esses termos refletem a presença de interações imunológicas mais complexas que precisam ser descritas com clareza para orientar o diagnóstico.
Padrão múltiplo:
Definição: presença de 2 ou mais autoanticorpos gerando múltiplos padrões clássicos de imunofluorescência em compartimentos celulares distintos.
Exemplo clínico: FAN positivo para anti-SS-A (padrão AC-4, nuclear pontilhado fino) e anti-centrômero (padrão AC-3, pontilhado grosso).
Laudo: especificar os padrões individualmente (ex.: AC-4/AC-3), detalhando o compartimento correspondente.
Dica prática: se o padrão AC-4 estiver presente, considere a possibilidade de síndrome de Sjögren ou lúpus subagudo. O anti-centrômero (AC-3) pode sugerir esclerodermia limitada. Solicite testes confirmatórios como anti-SS-A/Ro ou anti-centrômero.
Padrão misto:
Definição: presença de 2 ou mais autoanticorpos denotando padrões de imunofluorescência sobrepostos no mesmo compartimento celular.
Exemplo clínico: FAN positivo para anti-U1-RNP e anti-nDNA, ambos reagindo no compartimento nuclear e inviabilizando a identificação de um padrão específico.
Laudo: descrever o compartimento com reatividade e indicar a natureza mista (ex.: padrão nuclear misto).
Dica prática: um padrão misto nuclear pode estar associado a lúpus eritematoso sistêmico (anti-nDNA) ou doença mista do tecido conjuntivo (anti-U1-RNP). Avalie os sinais clínicos e solicite exames como anti-nDNA e anti-U1-RNP para confirmação.
Padrão composto:
Definição: presença de um único autoanticorpo reagindo com dois ou mais compartimentos celulares concomitantemente.
Exemplo clínico: anti-P-ribossomal exibindo padrão pontilhado fino no citoplasma e homogêneo no nucléolo.
Laudo: utilizar a nomenclatura específica conforme a classificação (ex.: AC-26 ou AC-29).
Dica prática: a presença do padrão composto envolvendo o anti-P-ribossomal pode indicar lúpus neuropsiquiátrico. Considere investigação neurológica e solicite confirmação com anti-P-ribossomal.
Padrão de pontos múltiplos (AC-6):
Descrição no laudo: 6 a 20 pontos nucleares, sem reatividade com nucléolos ou cromossomos.
Antígenos associados: anti-Sp100, anti-PML e anti-NXP-2.
Doenças relacionadas: colangite biliar primária, miopatia autoimune e hepatite autoimune.
Dica prática: quando o padrão AC-6 é identificado, considere colangite biliar primária e solicite testes como anti-Sp100. Na suspeita de miopatia autoimune, investigue anti-NXP-2.
Padrão de poucos pontos (AC-7):
Descrição no laudo: 1 a 6 pontos nucleares, frequentemente próximos aos nucléolos.
Antígeno associado: anti-p80-coilina.
Doenças relacionadas: geralmente sem implicação clínica significativa.
Dica prática: o padrão AC-7 tem baixo valor diagnóstico para doenças autoimunes. Investigue outros diagnósticos possíveis.
Descrição no laudo: pontilhado fino com pequenos pontos uniformes no núcleo interfásico, sem reatividade com cromossomos.
Antígeno associado: anti-SS-A/Ro60 (98,8% de associação).
Doenças relacionadas: síndrome de Sjögren, lúpus neonatal e lúpus subagudo.
Laudo: classificar como AC-4a e recomendar confirmação com testes específicos para anti-SS-A/Ro60.
Dica prática: a presença do padrão AC-4a levanta a hipótese de um anti-SS-A positivo. Relacione com sintomas como olhos secos ou erupções cutâneas para investigar síndrome de Sjögren ou lúpus subagudo.
Dicas Gerais
Ao receber um laudo de FAN positivo com padrão complexo:
Relacione os padrões descritos com os sinais e sintomas do paciente.
Solicite exames específicos baseados nos autoanticorpos sugeridos.
Para cada padrão observado:
Verifique se há associação clínica clara e busque correlação com o histórico do paciente.
Use os padrões relatados como suporte diagnóstico, sem esquecer de considerar outras possibilidades clínicas.
Quando houver dúvida no diagnóstico:
Discuta os achados com especialistas em reumatologia ou imunologia para direcionar melhor o manejo do caso.
Autor do conteúdo
Marcos Jacinto
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/como-eu-manejo-padroes-complexos-de-fan-hep-2-com-base-nas-recomendacoes-do-vi-consenso-brasileiro-de-determinacao-de-anticorpos-contra-celulas-hep-2
Compartilhe
Copyright © 2024 Portal de Conteúdos MEDCode. Todos os direitos reservados.