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    Como Eu Manejo Obesidade e Doença Cardiovascular Com Base no Consenso da Sociedade Europeia de Cardiologia - 2024

    23 de dezembro de 2024

    5 minutos de leitura

    Racional:

    • A epidemia da obesidade representa uma crise sanitária global, gerando não apenas eventos adversos em saúde, mas também custos surpreendentes que colocam uma pressão significativa nos orçamentos da saúde.

    • O objetivo deste consenso clínico é auxiliar profissionais de saúde a proporem as melhores opções de manejo e terapêutica para o tratamento da obesidade e redução de risco cardiovascular.

    • Este consenso baseia suas recomendações nas diretrizes da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC). E as diretrizes ESC utilizam o método LoE (Class of Recommendation and Level of Evidence), onde existem 4 classes de recomendação (Classe I: recomendação forte; Classe IIa: deve ser considerada; Classe IIb: pode ser considerada e Classe III: não recomendada) e 3 níveis de evidência (Nível A: informações derivadas de múltiplos estudos randomizados e metanálises de elevada qualidade; Nível B: informações de um único estudo randomizado ou grandes estudos não randomizados e Classe C: consenso de opiniões de especialistas e/ou estudos pequenos, observacionais ou retrospectivos).

    Recomendações:

    • Diagnóstico 

      • Sobrepeso e obesidade são definidos como acúmulo anormal e excessivo de gordura que pode prejudicar a saúde. 

      • De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade e sobrepeso são classificados utilizando a escala de IMC (índice de massa corporal), onde:

    - IMC 25 a < 30kg/m²: sobrepeso

    - IMC ≥ 30kg/m²: obesidade

    - IMC 30 a < 35kg/m²: obesidade grau 1

    - IMC 35 a < 40kg/m²: obesidade grau 2

    - IMC ≥ 40kg/m²: obesidade grau 3 (obesidade grave)

    • Plano de Manejo de Risco Cardiovascular em Obesidade:

    1. Diabetes tipo 2

    • Em relação ao manejo de diabetes tipo 2 (DM2), dado que esta doença é fortemente relacionada à obesidade, em pacientes com DM2 e sobrepeso ou obesidade, é recomendada redução de peso e aumento de atividade física, para melhora de controle metabólico e de perfil geral de risco cardiovascular (recomendação forte / nível de evidência A)

    1. Hipertensão arterial

    • Recomenda-se manutenção de IMC estável e saudável (20 – 25kg/m²) e valores de circunferência abdominal < 94 cm (homens) e < 80cm (mulheres) para redução de pressão arterial e risco cardiovascular (recomendação forte/ nível de evidência A).

    • Em relação ao manejo de hipertensão arterial nestes pacientes, é recomendado início de terapia medicamentosa anti-hipertensiva para pacientes com pré-diabetes ou obesidade, quando pressão arterial mensurada em consultório for, confirmadamente, ≥ 140/90 mmHg ou quando esta medida está entre 130/139 – 80/89 mmHg e o paciente apresenta risco cardiovascular predito em 10 anos ≥ 10% ou estiver em condições de alto risco, independente de mudança de estilo de vida, com tempo máximo de 3 meses (recomendação forte / nível de evidência A)

    1. Dislipidemia

    • Dosagem de Apolipoproteína B é recomendada para avaliação de risco em pacientes obesos, se disponível, como alternativa ao LDL-colesterol e com objetivo de ser medida primária para triagem, diagnóstico e manejo da dislipidemia – recomendação forte / nível de evidência C

    1. Apneia obstrutiva do sono

    • Em pacientes com obesidade, rastreio para ocorrência de sono não-reparador é indicado, com perguntas como “Com que frequência você tem problemas para adormecer, para permanecer adormecido ou por dormir demais?” (recomendação forte/ nível de evidência C)

    • A combinação de perda de peso (pelo menos 10%) com uso do CPAP pode auxiliar na redução de risco cardiovascular, através da redução da resistência à insulina, dos níveis circulantes de triglicerídeos e da pressão arterial.

    • Estratégias não-medicamentosas para tratamento de obesidade

      • Dieta mediterrânea ou similar é recomendada para prevenção cardiovascular primária ou secundária em pacientes obesos.

      • Outras estratégias amplamente relatadas para perda de peso, como jejum intermitente, dieta cetogênica ou alimentação tempo-restrita, não são endossadas por esse consenso clínico.

      • Apesar de dietas hipocalóricas e restritas auxiliarem na perda de peso, a adoção de uma dieta saudável de longo prazo é mais importante para prevenção de reganho de peso e para redução de risco cardiovascular.

      • Recomenda-se a realização de pelo menos 150 – 300min/semana de atividade física moderada ou 75-150min/semana de atividade física vigorosa para redução de mortalidade por todas as causas, mortalidade cardiovascular e morbidade. Além disso, recomenda-se também realização adicional de exercício de força (musculação) por 2 a 3 vezes/semana.

      • Indivíduos que não conseguem alcançar as metas acima definidas, devido a limitações físicas, devem ser estimulados a abandonar o sedentarismo através de atividades como caminhar por 2 minutos a cada hora ou subir escadas.

      • Para pacientes obesos, também é recomendado seguimento psicológico e a geração de ambientes de cuidado em saúde que não estigmatizem a condição clínica destas pessoas.

    • Estratégias medicamentosas para tratamento de obesidade

      • O orlistate, apesar de aprovado para tratamento de obesidade e associado à redução significativa do risco de desenvolvimento de diabetes, não foi avaliado através de ensaios clínicos com desfechos cardiovasculares.

      • Naltrexona/Bupropiona devem ser prescritos com cautela em pacientes portadores de doenças cardiovasculares, visto que existem incertezas quanto à segurança cardiovascular a longo prazo desta medicação.

      • Semaglutida deve ser considerado em pacientes com sobrepeso (IMC > 27kgm²) ou obesidade, doença arterial coronariana crônica e sem diabetes para redução de mortalidade cardiovascular, infarto do miocárdio ou acidente vascular encefálico isquêmico (classe IIa / nível de evidência B).

      • Medicamentos hipoglicemiantes com efeitos sobre redução de peso, como os análogos do GLP-1, devem ser considerados em pacientes com diabetes tipo 2 com sobrepeso ou obesidade, para auxílio na redução do peso (classe IIa / nível de recomendação B).

      • Análogos do GLP-1 com benefício cardiovascular comprovado (liraglutida, semaglutida subcutânea, dulaglutida, efpeglenatida) são recomendados em pacientes com diabetes tipo 2 e doença cardiovascular aterosclerótica, independente da hemoglobina glicada inicial ou alvo e independente do uso de medicações hipoglicemiantes concomitantes (recomendação forte/nível de evidência A).

    • Estratégias cirúrgicas para o tratamento de obesidade

      • Cirurgia bariátrica deve ser considerada para indivíduos obesos de alto risco, quando mudanças de estilo de vida não resultam em perda sustentada de peso (classe IIa/ nível de evidência B)

      • Cirurgia bariátrica deve ser considerada para pacientes de risco alto e muito alto, portadores de diabetes tipo 2 e IMC ≥ 35kg/m², quando esforços estruturados e sustentados de mudança de estilo de vida, combinados a medicações para redução do peso não resultam em perda sustentada de peso (classe IIa/ nível de evidência B)

    • Outras Informações Pertinentes

    • Redução de peso deve ser considerada em indivíduos obesos para prevenção de fibrilação atrial (classe IIa/ nível de evidência B).

    Perda de peso é recomendada como parte do plano de manejo em pacientes com sobrepeso e obesidade com fibrilação atrial para redução de sintomas e da carga de fibrilação atrial e recomenda-se alvo ≥ 10% de redução de peso corporal (recomendação forte/ nível de evidência B).


    Autor do conteúdo

    Carolina Ferrari


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/como-eu-manejo-obesidade-e-doenca-cardiovascular-com-base-no-consenso-da-sociedade-europeia-de-cardiologia-2024


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