Como Eu Manejo Fibrilação Atrial Com Base na Diretriz ESC 2024 Para Manejo de Fibrilação Atrial
09 de setembro de 2024
4 minutos de leitura
A fibrilação atrial (FA) é uma das arritmias cardíacas mais comuns, com grande impacto em serviços de saúde e expectativa de aumento de prevalência, nas próximas décadas, devido ao envelhecimento populacional.
O objetivo desta diretriz é auxiliar profissionais de saúde a proporem melhor opção diagnóstica e terapêutica para pacientes com FA.
Esta diretriz baseia suas recomendações de acordo com o método LoE (Class of Recommendation and Level of Evidence), onde existem 4 classes de recomendação (Classe I: recomendação forte; Classe IIa: deve ser considerada; Classe IIb: pode ser considerada e Classe III: não recomendada) e 3 níveis de evidência (Nível A: informações derivadas de múltiplos estudos randomizados ou metanálises de elevada qualidade; Nível B: informações de um único estudo randomizado ou grandes estudos não randomizados e Classe C: consenso de opiniões de especialistas e/ou estudos pequenos, observacionais ou retrospectivos).
Critérios de diagnóstico
Baseia-se em avaliação inicial por eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações, onde há presença de ativação irregular dos ventrículos e ausência de visualização de ondas P regulares – recomendação forte.
Importante classificar a arritmia, de acordo com curso temporal – recomendação forte:
- FA de primeiro diagnóstico
- FA paroxística: término espontâneo ou não em < 7 dias.
- FA persistente: dura > 7 dias e sem término espontâneo
- FA permanente: em que não há mais tentativas de restauração
do ritmo sinusal, após um período compartilhado de decisão entre o paciente e o médico.
Critérios de gravidade
Instabilidade hemodinâmica – dor precordial anginosa, rebaixamento do nível de consciência – recomendação forte.
Plano de manejo
Em pacientes com FA – se instabilidade hemodinâmica realizar cardioversão elétrica sincronizada (recomendação forte)
Se estabilidade hemodinâmica, seguir, inicialmente, passos do Atrial Fibrilation Care (AF-CARE):
- C (controle de comorbidades e manejo dos fatores de risco): controle pressórico (recomendação forte), controle glicêmico (recomendação forte); diuréticos para congestão e inibidores do SGLT2 (recomendação forte), manejo da apneia obstrutiva do sono (pode ser considerado), redução do álcool para < 3 drinks/semana (recomendação forte).
- A (evitar acidente vascular encefálico e eventos embólicos): aplicar o escore atualizado CHA2DS2-VA (excluindo-se gênero) – recomendação forte. É indicada anticoagulação se escore ≥ 2 (recomendação forte) e se for igual a 1 (deve ser considerado)
Recomenda-se uso de DOAC como primeira escolha, exceto se válvula mecânica ou estenose mitral (recomendação forte). Se uso de antagonistas da vitamina K., manter INR entre 2 e 3 (recomendação forte)
Dose padrão DOAC (recomendação forte)
Apixabana 5mg – 2x/dia
Dabigatrana 150mg – 2x/dia
Edoxabana 60mg/dia
Rivaroxabana 20mg/dia
- R (redução dos sintomas por controle de frequência cardíaca e controle de ritmo):
Se FA paroxística ou persistente: incluir controle de frequência cardíaca (FC) com alvo < 110 bpm (deve ser considerado). Se fração de ejeção (FE) de ventrículo esquerdo for ≤ 40%, as drogas de escolha são betabloqueadores ou digoxina (recomendação forte) e deve-se considerar a combinação das drogas, caso FC alvo não seja alcançada.
Se FA paroxística ou persistente: após os passos acima, realizar decisão compartilhada médico-paciente para controle do ritmo (recomendação forte).
Em FA persistente, a cardioversão elétrica pode ser parte da estratégia de controle de ritmo (deve ser considerada) e a ablação por cateter pode ser considerada
Cardioversão elétrica sincronizada deve ser feita após tempo mínimo de 3 semanas de anticoagulação terapêutica (deve ser considerado)
Caso não seja possível aguardar 3 semanas de anticoagulação, recomendado realizar ecocardiograma transesofágico para exclusão de trombo intracavitário (recomendação forte)
Em FA paroxística, a ablação por cateter tem recomendação forte para controle do ritmo.
Em FA paroxística ou persistente, se a opção do controle de ritmo for medicamentosa: em FE ≤ 40%, optar por amiodarona (recomendação forte); se ausência ou doença cardíaca mínima, optar por dronedarona (não comercializada no Brasil), propafenona (recomendação forte)
Em FA permanente: controle de FC com betabloqueadores ou digoxina (recomendação forte)
- E (reavaliação)
Avaliação de fatores de risco novos ou já existentes (recomendação forte)
Avaliação e manejo de fatores de risco para sangramento que sejam modificáveis – disfunção hepática, sangramento maior prévio, patologias intracerebrais, idade, malignidade (recomendação forte)
Continuação de DOAC, independente de controle de ritmo se houver risco embólico (recomendação forte).
Manejo de situações especiais (se aplicável)
Em pacientes com FA e doença coronariana: DOAC é preferível a antagonistas da vitamina K – recomendação forte
Cessação precoce de aspirina (≤ 1 semana) e continuação de anticoagulante oral (DOAC) com um inibidor P2Y12 (preferencialmente clopidogrel) por até 12 meses é o esquema recomendado em pacientes com FA e síndrome coronariana aguda submetidos à angioplastia não complicada – recomendação forte
Em gestantes, anticoagulação terapêutica com heparina de baixo peso molecular ou antagonistas da vitamina K (os antagonistas da vitamina K só não podem ser utilizados no primeiro trimestre e além de 36 semanas de gestação), é recomendada em pacientes com FA – recomendação forte
Cardioversão elétrica imediata é recomendada em gestantes com FA e instabilidade hemodinâmica ou FA pré-excitada – recomendação forte
Critérios de resolução
Se estratégia de controle de FC – manter FC < 110bpm (recomendação forte)
Se estratégia for manutenção do ritmo sinusal – reversão e manutenção a ritmo sinusal (recomendação forte)
Transição de tratamento
Manejo da pressão arterial é recomendado para população em geral para prevenção de FA (episódios novos e recorrentes), com inibidores da ECA ou bloqueadores dos receptores angiotensina, como primeiras linhas de tratamento – recomendação forte
Avaliar a qualidade de cuidado e identificar oportunidades para melhorar o tratamento da FA (com controles dos fatores de risco) deve ser considerado para melhorar a experiência dos pacientes.
Autor do conteúdo
Carolina Ferrari
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/como-eu-manejo-fibrilacao-atrial-com-base-na-diretriz-esc-2024-para-manejo-de-fibrilacao-atrial
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