Como Eu Faço o Uso de Albumina Intravenosa Com Base na Diretriz da International Collaboration for Transfusion Medicine de 2024
27 de dezembro de 2024
5 minutos de leitura
Albumina intravenosa é uma medicação administrada em um amplo espectro de condições clínicas, incluindo doenças hepáticas, doenças neurológicas, procedimentos hematológicos, perioperatório e em doentes críticos. Ao longo dos anos diversos estudos randomizados avaliaram o impacto de infusão de albumina em vários cenários, de forma que há um número limitado de indicações associadas a melhores desfechos.
Trata-se de um produto derivado de grandes quantidades de plasma de doadores e cuja manufatura é bastante cara. Além disso, seu uso indevido pode resultar em eventos adversos, incluindo hipervolemia e reações alérgicas. Assim, seu uso deve ser criterioso e baseado nas melhores evidências disponíveis.
Pensando nisso, foi elaborada esta diretriz para reunir recomendações para a comunidade médica sobre o uso apropriado de albumina intravenosa nos cenários mais comuns da prática clínica.
Para realização desta diretriz foram realizadas diversas revisões sistemáticas da literatura, seguidas de discussão em grupos e elaboração de recomendações baseadas na metodologia GRADE (a certeza da evidência foi classificada em alta, moderada, baixa ou muito baixa; as recomendações foram definidas como fortes ou condicionais).
Abaixo descrevemos as principais recomendações desta diretriz.
Em pacientes críticos, a diretriz sugere não usar albumina como fluido de primeira linha para expansão volêmica ou visando corrigir a hipoalbuminemia (recomendação condicional, certeza moderada).
Dados de revisões sistemáticas prévias com mais de 40 estudos e mais de 20 mil pacientes demonstram que a expansão volêmica com albumina não resulta em menor mortalidade em comparação ao uso de cristaloides. Alguns desfechos hemodinâmicos parecem melhores com o uso de albumina (ex: pressão arterial média), porém isso não se traduz em melhoria em desfechos centrados no paciente. Além disso, em pacientes com traumatismo cranioencefálico a expansão com albumina foi associada a maior mortalidade.
Além disso, a revisão da diretriz também sugere que a reposição de albumina (visando atingir um nível normal no plasma) também não foi associada a melhores desfechos.
Em pacientes críticos, a diretriz sugere não utilizar albumina em conjunto com diuréticos para estimular e remoção de fluido extravascular (recomendação condicional, certeza muito baixa).
Poucos estudos avaliaram o impacto de associar furosemida e albumina para induzir maior diurese (visando aumentar a exposição dos túbulos à furosemida, visto que esta medicação é transportada ligada a proteínas e secretada no túbulo proximal). Apesar de um aumento no débito urinário em 6h, em 24h a diurese foi similar entre os grupos. Além disso, não houve impacto mensurável em outros desfechos.
Em pacientes submetidos a terapia de substituição renal, a diretriz sugere não usar albumina intravenosa para prevenir ou tratar hipotensão intradialítica (recomendação condicional, certeza muito baixa).
Poucos estudos (a maioria de centro único e com número pequeno de pacientes) avaliaram o uso de albumina para prevenção de hipotensão intradialítica, com resultados conflitantes. Apenas um estudo de crossover incluindo 65 pacientes com albumina abaixo de 3 g/dL demonstrou que a infusão de albumina 25% no início da diálise reduziu a ocorrência de hipotensão em comparação com a salina.
Diante da baixa qualidade da evidência, do alto custo da albumina e do número grande de pacientes que seriam expostos ao tratamento (considerando o número crescente de pacientes com doença renal crônica dialítica), a diretriz pondera que o custo-benefício de recomendar tal intervenção seria muito desfavorável.
Em pacientes adultos submetidos à cirurgia cardíaca, a diretriz recomenda que não seja utilizado albumina para confecção do priming do sistema de circulação extracorpórea ou para reposição volêmica (recomendação condicional, certeza moderada).
Avaliando a revisão sistemática da literatura (com mais de 40 estudos), foi observado que o uso de albumina em cirurgia cardíaca não reduziu mortalidade e não impactou desfechos como disfunção renal, perda sanguínea, tempo de internação ou débito cardíaco. Em um dos maiores estudos (com 1386 pacientes realizado em um centro australiano), o uso de albumina foi associado a maior morbidade.
Em pacientes com cirrose e ascite submetidos a paracentese de grande volume (acima de 5 litros) a diretriz recomenda o uso de albumina venosa para prevenir colapso circulatório (recomendação condicional, certeza muito baixa).
Diversas meta-análises prévias avaliaram o impacto da albumina e outros expansores volêmicos em pacientes cirróticos submetidos a paracentese de grande volume. De forma geral, a infusão de albumina hiperoncótica (20-25%, 6-8 g por litro de ascite removido) foi associada à menor ocorrência de disfunção circulatória após a paracentese. O impacto em desfechos como mortalidade, insuficiência renal ou recorrência da ascite foi incerto (com intervalos de confiança amplos). Além disso, há incerteza quanto à dose de albumina nesse cenário (com alguns estudos pequenos sugerindo que uma dose fixa de 20 a 40 gramas seria similar à dose ajustada pelo volume de ascite removido).
Em pacientes com cirrose e peritonite bacteriana espontânea a diretriz sugere administrar albumina visando reduzir mortalidade (recomendação condicional, certeza muito baixa).
Em pacientes com cirrose e infecções extraperitoneais, a diretriz não recomenda o uso de albumina para reduzir mortalidade ou disfunção renal (recomendação condicional, certeza baixa).
Um pequeno número de estudos randomizados (estudos abertos e com número pequeno de pacientes) sugerem em conjunto que a administração de albumina em pacientes com PBE (doses variáveis entre os estudos) resulta em melhores desfechos, incluindo menor incidência de disfunção renal e menor mortalidade.
Por outro lado, o acumulado de evidência quanto ao uso de albumina em pacientes com cirrose e infecção extraperitoneal sugere ausência de benefício em relação à mortalidade ou ocorrência de disfunção renal, além de um aumento na incidência de edema pulmonar.
Em pacientes hospitalizados devido a cirrose e com albumina abaixo de 3 g/dL, a administração de albumina intravenosa visando corrigir a hipoalbuminemia não é recomendada (recomendação condicional, certeza baixa).
Em um estudo randomizado grande, pacientes com cirrose descompensada e hipoalbuminemia foram randomizados para receber albumina venosa ou cuidado usual sem albumina. Não houve diferença entre os grupos em relação à mortalidade, ocorrência de infecção ou disfunção renal, porém o grupo que recebeu albumina teve mais eventos adversos (especialmente edema pulmonar).
Limitações e direcionamento para estudos futuros
Autor do conteúdo
Luis Júnior
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/como-eu-faco-o-uso-de-albumina-intravenosa-com-base-na-diretriz-da-international-collaboration-for-transfusion-medicine-de-2024
Compartilhe
Copyright © 2024 Portal de Conteúdos MEDCode. Todos os direitos reservados.