Como Eu Faço o Manejo de Carcinoma Diferenciado da Tireoide Metastático
22 de janeiro de 2025
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As metástases à distância do carcinoma de tireoide podem ser identificadas no momento do diagnóstico inicial ou durante o acompanhamento. O prognóstico desses pacientes é variável, sendo que aqueles com doença estágio 4 pela classificação TNM apresentam uma sobrevida em torno de 50% em 5 anos. O tratamento de primeira linha geralmente consiste no uso de radioiodo. No entanto, alguns pacientes evoluem para doença avançada e refratária ao iodo. Nesses casos, é fundamental conhecer tratamentos adicionais que, embora não aumentem a sobrevida, podem reduzir a morbidade e aliviar os sintomas de forma paliativa.
A diretriz foi desenvolvida pela ATA (American Thyroid Association) com o objetivo de fornecer informações baseadas em evidências para o diagnóstico e manejo de câncer de tireoide. Esta diretriz é uma atualização da publicação original de 2006, revisada em 2009. Neste texto, abordaremos as recomendações mais relevantes para o seguimento e manejo do câncer de tireoide metastático.
O método adotado foi o sistema de classificação do American College of Physicians (ACP), também adaptado para investigação diagnóstica, que utiliza três graus de recomendação: recomendação forte (os benefícios claramente superam os riscos, ou vice-versa), recomendação fraca (os benefícios se aproximam dos riscos) e sem recomendação (quando o risco-benefício não pode ser determinado). Além disso, a força das evidências encontradas na literatura foi estratificada em quatro níveis: alto, moderado, baixo e insuficiente.
A diretriz foi publicada há quase 10 anos e continua sendo uma das principais referências na prática clínica para a investigação diagnóstica e o manejo de nódulos tireoidianos e câncer de tireoide. Espera-se que uma nova atualização seja publicada em breve, com base em uma prévia apresentada durante o último congresso da Endocrine Society, realizado em Junho/2024 em Boston, nos Estados Unidos.
Realizar ressecção linfonodal compartimental terapêutica central e/ou lateral em pacientes com evidência de doença persistente ou recorrente, confirmada por biópsia de linfonodos centrais ≥ 8 mm e laterais ≥ 10 mm no menor diâmetro - recomendação forte, com nível de evidência moderado.
Ressecar cirurgicamente a doença invasiva do trato aerodigestivo, quando tecnicamente possível, em combinação com radioiodo (RIT) e/ou radioterapia - recomendação forte, com nível de evidência moderado.
Não há recomendação específica sobre a superioridade de um método de administração de radioiodo (alta dose empírica vs. dosimetria corporal ou sérica vs. dosimetria lesional) - sem recomendação, com evidências insuficientes.
Não há evidência suficiente para recomendar o uso de rhTSH (TSH humano recombinante) para pacientes com metástases a distância em tratamento com iodo - sem recomendação.
Tratar micrometástases pulmonares com terapia com radioiodo e repetir a cada 6-12 meses, desde que a doença continue captando iodo e apresente resposta clínica - recomendação forte, com nível de evidência moderado.
Escolher a dose de RIT para micrometastases pulmonares de forma empírica (100-200 mCi, ou 100-150 mCi para pacientes ≥ 70 anos) ou estimada por dosimetria - recomendação forte, com nível de evidência moderado.
Considerar o tratamento de metástases pulmonares macronodulares ávidas por iodo com RIT, e repetir o tratamento quando houver evidência de resposta objetiva (redução do tamanho das lesões, Tg em redução), embora a remissão completa seja incomum; a escolha da dose é semelhante à do tratamento de micrometástases - recomendação fraca, com nível de evidência baixo.
Realizar terapia com RIT em pacientes com metástases ósseas ávidas por iodo devido ao benefício relacionado à melhora de sobrevida, apesar de raramente ser curativa - recomendação forte, com nível de evidência moderado.
A dose de RIT pode ser empírica (100-200 mCi) ou determinada por dosimetria - recomendação fraca, com nível de evidência baixo.
Considerar o uso (isolado ou em associação com outras terapias) de bifosfonatos ou denosumabe em pacientes com metástases ósseas difusas e/ou sintomáticas e doença refratária ao iodo - recomendação forte, com nível de evidência moderado.
Apesar da ressecção cirúrgica e a radioterapia serem as principais terapias para as metástases de SNC, considerar a possibilidade de RIT em lesões ávidas por iodo; nesse caso, realizar radioterapia estereotáxica e/ou terapia com corticoide antes do iodo, para minimizar o potencial aumento da lesão induzido pelo TSH e a resposta inflamatória causada pelo iodo - recomendação fraca, com nível de evidência baixo.
Na ausência de doença estrutural evidente, manter seguimento sem RIT empírico, realizando apenas a supressão de TSH em pacientes com Tg sérica estimulada < 10 ng/mL, com suspensão da reposição hormonal, ou < 5 ng/mL com rhTSH; reservar terapias adicionais para os pacientes com Tg em ascensão ou evidência de doença estrutural em progressão - recomendação fraca, com nível de evidência baixo.
Considerar o tratamento com RIT, com dose empírica (100-200 mCi) ou determinada por dosimetria, se elevação mais significativa de Tg, níveis de Tg em ascensão rápida ou níveis de anticorpos anti-Tg em ascensão, e nos quais exames de imagem falharam em detectar um tumor passível de terapia direcionada; caso a terapia empírica com RIT seja administrada e a pesquisa de corpo inteiro (PCI) com radioiodo pós terapia seja negativa, considerar a doença como refratária ao iodo - recomendação fraca, com nível de evidência baixo.
Em caso da doença não ressecável persistir após uma dose empírica de RIT e houver evidência objetiva de redução significativa do tumor, considerar repetir a dose de iodo até que o tumor seja erradicado ou deixe de responder ao tratamento - recomendação fraca, com nível de evidência baixo.
Nota da autora: Considerar a doença estrutural como refratária ao iodo em pacientes com estímulo adequado de TSH e que apresentem:
Tecido maligno e/ou metástase que nunca concentrou iodo (sem captação fora do leito tireoidiano após a primeira PCI);
Tecido tumoral que perde a habilidade de concentrar iodo, após evidência prévia de avidez por iodo;
Captação de iodo em algumas lesões, mas não em outras;
Doença metastática com progressão, apesar da captação de radioiodo.
Não realizar tratamentos adicionais com radioiodo quando a doença é classificada como refratária ao iodo - recomendação fraca, com nível de evidência baixo.
Nos pacientes com câncer de tireoide metastático, refratário ao iodo, mas com doença assintomática, estável ou minimamente progressiva, e que possuem poucas chances de evoluir para complicações clinicamente significativas, manter a terapia de supressão de TSH e monitorizar com exames de imagem seriados a cada 3 a 12 meses - recomendação fraca, com nível de evidência baixo.
Considerar a radioterapia estereotáxica e/ou ablação térmica (radiofrequência ou crioablação) para o tratamento de metástases individuais, uma vez que esses tratamentos demonstram alta eficácia e relativamente poucos efeitos colaterais - recomendação fraca, com nível de evidência moderado.
Considerar terapia local (radioterapia ou ablação térmica) antes do início da terapia sistêmica quando as metástases são sintomáticas ou em um local de alto risco para complicações - recomendação forte, com nível de evidência moderado.
Considerar a terapia com inibidores de tirosina-quinase (vandetanibe, sorafenibe ou lenvatinibe) se doença metastática refratária ao iodo, rapidamente progressiva, sintomática e/ou com risco iminente de complicações locais (ex. invasão de vias aéreas); no entanto, o impacto desses agentes na sobrevida global e qualidade de vida permanece incerto - recomendação fraca, com nível de evidência moderado.
Em caso de progressão de doença durante o uso de inibidor de tirosina-quinase, considerar a troca para inibidores de tirosina-quinase de segunda linha, desde que o paciente não tenha apresentado efeitos adversos graves e, idealmente, em contexto de estudos clínicos - recomendação fraca, com nível de evidência baixo.
Aconselhar os pacientes candidatos à terapia com inibidores de tirosina-quinase sobre os potenciais riscos e benefícios do tratamento e monitorar ativamente o surgimento de toxicidades - recomendação forte, com nível de evidência baixo.
Nota da autora: Os principais efeitos adversos dos inibidores de tirosina-quinase incluem: hipertensão, toxicidade cutânea, náuseas, diarreia, cansaço, perda de peso e piora do hipotireoidismo; também podem ocorrer efeitos adversos mais graves, como hepatotoxicidade (monitorizar TGO, fosfatase alcalina e bilirrubina total), cardiotoxicidade (risco de aumento do intervalo QT; realizar ECG antes e durante a terapia, além de ecocardiograma conforme sintomas), nefrotoxicidade (monitorizar função renal e proteinúria), hematológica (monitorizar hemograma) e pancreatite (dosagem de amilase seriada)
Outros agentes (como inibidores do BRAF ou inibidores MEK quinase) não possuem eficácia estabelecida - recomendação forte, com nível de evidência baixo.
Considerar o uso de quimioterapia citotóxica em pacientes com carcinoma de tireoide refratário ao iodo e doença metastática, rapidamente progressiva, sintomática e/ou com risco iminente de complicações locais, não controlado com outras abordagens, incluindo inibidores de tirosina-quinase; não existem dados suficientes para recomendar um esquema citotóxico específico - recomendação fraca, com nível de evidência baixo.
Autor do conteúdo
Bibiana Boger
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/como-eu-faco-o-manejo-de-carcinoma-diferenciado-da-tireoide-metastatico
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