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    Como Eu Faço o Diagnóstico e Trato a Doença Hepática Esteatótica Associada a Distúrbio Metabólico (MASLD) Com Base na Diretriz da SBEM e ABESO 2023

    09 de outubro de 2024

    6 minutos de leitura

    Racional:

    • A Doença Hepática Esteatótica Associada a Distúrbio Metabólico (MASLD), anteriormente conhecida como Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA), apresenta desafios de diagnóstico devido ao quadro inicial silencioso. A possibilidade de evolução para cirrose, hepatocarcinoma e o alto risco cardiovascular reforçam a importância da identificação precoce e do tratamento adequado. 

    • Um painel de especialistas de três sociedades médicas (SBEM, SBH, ABESO) se reuniu para desenvolver uma diretriz baseada em evidências sobre o rastreio, diagnóstico, tratamento e acompanhamento da MASLD.

    • As recomendações da diretriz foram categorizadas em classes de recomendação, sendo: Classe I (forte) indica uma recomendação forte que deve ser seguida, pois os benefícios superam claramente os riscos; Classe IIa (moderada) sugere uma recomendação moderada, onde o benefício supera o risco, mas de forma menos definitiva; Classe IIb (fraca) considera uma recomendação fraca, na qual o benefício é menos claro em relação ao risco, mas ainda pode ser adotada; e Classe III (contraindicada) contraindica a recomendação, pois os riscos superam os benefícios.

    Recomendações:

    • Nova nomenclatura

      • O nome Doença Hepática Esteatótica Associada a Distúrbio Metabólico (MASLD) foi definido para os casos de aumento da gordura no fígado (>5%) associados a componentes da Síndrome Metabólica, como obesidade abdominal, glicemia alterada, dislipidemia e hipertensão arterial. 

      • O termo Esteatohepatite associada à disfunção metabólica (MASH) foi escolhido como substituto para a NASH.

    • Critérios de Rastreio e Diagnóstico

    1. Todos os indivíduos com Índice de Massa Corporal (IMC) ≥ 25 kg/m2 devem ser rastreados quanto à presença de Doença Hepática Esteatótica, independentemente da existência de outros fatores de risco metabólicos (moderada).

    2. Em pacientes com sobrepeso ou obesidade, recomenda-se ultrassonografia (USG) abdominal como método para triagem e rastreio inicial de esteatose hepática (forte). A USG tem menor acurácia em casos de IMC ≥ 35kg/m2 e de esteatose leve.

    3. A ressonância magnética pode ser considerada no rastreio da esteatose hepática em pacientes com excesso de peso ou obesidade, especialmente se IMC ≥ 35kg/m2 (fraca). Também pode ser recomendada para quantificação de esteatose hepática (forte).

    4. A elastografia hepática usando FibroScan® pode ser utilizada também para o rastreio e diagnóstico de esteatose hepática em pacientes com sobrepeso ou obesidade (fraca).

    5. A dosagem das enzimas hepáticas isoladamente não é recomendada para triagem de esteatose hepática em pacientes com sobrepeso ou obesidade (contraindicada).

    6. É necessário excluir outras causas de doença hepática em pacientes com excesso de peso ou obesidade, além de esteatose hepática e/ou aumento de enzimas hepáticas (forte)

    • Excluir: Hepatite A, Hepatite B, Hepatite C, Hemocromatose, Hepatite auto-imune, Cirrose biliar primária, Doença de Wilson, Deficiência de alfa-1 antitripsina, Doença celíaca, uso de Álcool, medicações.

    1. Ao confirmar MASLD, proceder a triagem para fibrose hepática usando o índice Fibrosis-4 (FIB-4) https://www.hepatitisc.uw.edu/ (forte). 

    Se o valor do FIB-4 estiver abaixo de 1,3, o risco de fibrose avançada é descartado. Caso o FIB-4 for maior ou igual a 1,3, o paciente deve ser submetido a outro método de avaliação de fibrose, como a elastografia com FibroScan® (moderada).

    1. A biópsia hepática deve ser considerada em pacientes nos quais os métodos não conseguiram indicar uma baixa probabilidade de fibrose (moderada)

    Figura 1. Algoritmo diagnóstico de MASLD 

    Linha do tempoDescrição gerada automaticamente

    • Seguimento

    • A biópsia hepática é recomendada para o diagnóstico diferencial de outras doenças hepáticas (forte).

    • Pacientes com doença hepática esteatótica sem fibrose avançada devem ser reavaliados, clínica e laboratorialmente, por um hepatologista a cada 2-3 anos (forte).

    • Pacientes com MASLD com fibrose estágios 2 e 3 devem ser reavaliados a cada 12 meses para acompanhamento da progressão e resposta a tratamento (forte).

    • Pacientes com MASLD e cirrose hepática devem ser reavaliados a cada 6 meses para avaliação da progressão, resposta ao tratamento e triagem de carcinoma hepatocelular (forte).

    • O uso de biomarcadores séricos e a realização de elastografia também podem ser considerados para monitorar progressão de fibrose (fraca).

    • A biópsia hepática para acompanhamento de MASLD pode ser considerada a cada 5 anos ou mais cedo, caso haja suspeita de progressão da doença (fraca).

    • Pacientes com sobrepeso ou obesidade e cirrose hepática devem ser rastreados para carcinoma hepatocelular a cada 6 meses usando ultrassonografia, com ou sem medida de alfa-fetoproteína sérica (forte).

    • A estratificação de risco cardiovascular deve ser avaliada já no momento do diagnóstico de MASLD (moderada).

    • Não há indicação para triagem de malignidades extra-hepáticas, exceto naqueles perfis já definidos para a população geral (contraindicada).

    • Plano de Manejo

    1. Controle de Peso e Estilo de Vida:

    • Redução de Peso:

      • Reduzir e posteriormente manter o peso corporal para melhorar a esteatose hepática. Há uma relação positiva de dose-resposta entre a magnitude de perda de peso e a melhora da esteatose (forte).

      • Redução superior a 7% no peso corporal pode melhorar a esteatohepatite sem agravamento da fibrose (moderada).

      • Em pacientes com sobrepeso e obesidade com MASLD, a perda de peso pode ser considerada uma estratégia para atrasar o desenvolvimento e progressão da doença gordurosa hepática (fraca).

    • Exercício Físico:

      • Para a redução da esteatose hepática, é necessário realizar exercício físico de moderada a alta intensidade, tanto aeróbico como de resistência, pelo menos três vezes por semana (forte).

    • Estilo de Vida:

      • As mudanças no estilo de vida não demonstraram melhora dos resultados clínicos a longo prazo, como complicações e morte por cirrose, em pacientes com MASLD (contraindicada).

    2. Dieta e Nutrição:

    • Dieta:

      • A Dieta Mediterrânea está associada à melhora da esteatose hepática, independentemente da perda de peso (moderada).

      • Substituir carboidratos por proteínas e gordura saturada por fontes de gorduras não saturadas na alimentação deve ser considerado para redução de esteatose hepática (moderada).

      • A substituição de gorduras por carboidratos não é recomendada para redução de esteatose hepática (contraindicada).

      • A ingestão de fibra parece estar associada com um menor risco de MASLD (fraca).

    • Consumo de Substâncias:

      • O consumo excessivo de frutose na forma de açúcar livre e bebidas adoçadas com açúcar não é recomendado (contraindicada).

      • O consumo de alimentos ultraprocessados ​​não é recomendado (contraindicada).

      • O consumo regular de 1 a 3 xícaras de café/dia pode ser considerado para redução do risco de progressão da fibrose hepática (fraca).

      • Em pacientes com sobrepeso ou obesidade com MASLD, especialmente com NASH, com ou sem fibrose, não existem quantidades seguras de consumo de álcool (fraca).

    3. Medicamentos:

    • Medicações não Recomendadas:

      • A Metformina não é recomendada para reduzir a esteatose, esteatohepatite ou fibrose (contraindicada).

      • Tratamento com Orlistate não é recomendado para redução da esteatose, esteato-hepatite ou fibrose (contraindicada).

    • Medicações Recomendadas:

      • O uso de Análogos do GLP-1 (Liraglutida, Semaglutida ou Dulaglutida) ou Agonistas do receptor GLP-1 (Exenatida) é recomendado para reduzir a esteatose (forte).

      • Em pacientes com esteatohepatite comprovada, com ou sem fibrose, o uso de Liraglutida e Semaglutida é recomendado para a melhora da esteatohepatite, sem piora da fibrose (forte).

      • Em pacientes com esteatohepatite comprovada, com ou sem fibrose, o tratamento com Pioglitazona é recomendado para a melhora da esteatose, esteatohepatite e fibrose (forte).

      • Em pacientes com esteatohepatite comprovada, com ou sem fibrose, e sem diagnóstico de Diabetes Mellitus, o tratamento com Vitamina E pode ser considerado para melhora de esteatohepatite, sem piora da fibrose (fraca).

    4. Intervenções Cirúrgicas:

    • Cirurgia Bariátrica:

      • Em pacientes com obesidade classe 2 ou 3, a cirurgia bariátrica deve ser considerada para redução de esteatose, esteatohepatite e fibrose (moderada).

      • Todo candidato à cirurgia bariátrica deve ser submetido a triagem para MASLD, especialmente se houver cirrose com hipertensão portal, antes de ser submetido à cirurgia (forte).

      • A monitorização hepática com exames laboratoriais e de imagem é recomendada no pós-operatório de cirurgia bariátrica, devido à possibilidade de agravamento da MASLD em alguns casos (forte).

    • Técnicas Cirúrgicas Específicas:

      • A técnica cirúrgica RYGB pode melhorar esteatohepatite e fibrose hepática em pacientes com obesidade Classe 2 e 3, sem cirrose (fraca).

      • A gastrectomia vertical pode reduzir a progressão da esteatohepatite sem fibrose em pacientes com obesidade Classe 2 e 3, sem cirrose (fraca).

    • Outras Intervenções:

      • O balão intragástrico, por 6 meses, pode ser considerado para a melhora da esteatohepatite, sem piora da fibrose (fraca).

    Figura 2. Algoritmo de Manejo MASLD

    Linha do tempoDescrição gerada automaticamente


    Autor do conteúdo

    Andressa Leitao


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/como-eu-faco-o-diagnostico-e-trato-a-doenca-hepatica-esteatotica-associada-a-disturbio-metabolico-masld-com-base-na-diretriz-da-sbem-e-abeso-2023


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