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    Como eu faço o diagnóstico da Hipercolesterolemia Familiar

    17 de março de 2025

    4 minutos de leitura

    Racional 

    • A Hipercolesterolemia Familiar (HF) é uma condição genética de alta prevalência, afetando aproximadamente 1 em cada 200 a 300 indivíduos na população geral. Seu impacto na morbimortalidade cardiovascular é significativo, pois leva à exposição prolongada a níveis elevados de LDL-c ao longo da vida favorecendo o desenvolvimento precoce de aterosclerose e eventos cardiovasculares

    • Essa elevação persistente do LDL-c ocorre devido a mutações genéticas que comprometem a função do receptor de LDL, da apolipoproteína B (APOB) e, em menor frequência, ao ganho de função da PCSK9, que acelera a degradação do receptor de LDL.

    • É uma dislipidemia de herança autossômica dominante, cuja identificação e tratamento precoces são essenciais para reduzir o risco de complicações cardiovasculares e aumentar a expectativa de vida dos pacientes. Além disso, o rastreamento sistemático dos familiares é fundamental para o diagnóstico precoce e manejo adequado.

    • A diretriz tem como principal objetivo trazer recomendações baseadas em evidências científicas para o diagnóstico, estratificação de risco e tratamento da HF no Brasil, prevenindo o desenvolvimento da doença aterosclerótica precoce e suas consequências,  reduzindo sua morbimortalidade. Neste texto, focaremos no diagnóstico da Hipercolesterolemia Familiar.

    • A diretriz classificou as recomendações baseando-se na combinação do grau de recomendação e do nível de evidência, permitindo orientar a tomada de decisão clínica. O grau de recomendação é dividido em três classes principais: a Classe I (evidências conclusivas ou consenso de que o procedimento é seguro e eficaz); a Classe II (há divergência de opinião ou evidências conflitantes), sendo subdividida em Classe IIA (a maioria aprova a conduta), e Classe IIB (há maior incerteza sobre seus benefícios); e a Classe III (sem eficácia comprovada ou potencialmente prejudiciais). O nível de evidência classifica a robustez dos dados científicos que fundamentam as recomendações: Nível A (múltiplos ensaios clínicos randomizados ou meta-análises robustas); Nível B (meta-análises menos robustas, estudos randomizados isolados ou estudos observacionais); e Nível C (opinião consensual de especialistas). 

    Recomendações 

    Critérios de Diagnóstico Clínico 

    • O diagnóstico da Hipercolesterolemia Familiar é baseado em sinais clínicos de depósitos de colesterol, níveis elevados de LDL-c ou colesterol total no plasma, histórico familiar de hipercolesterolemia ou doença aterosclerótica precoce, e a identificação de mutações e polimorfismos genéticos associados.

    • Sinais clínicos de hipercolesterolemia familiar e história familiar de doença aterosclerose precoce devem ser pesquisados em todos os indivíduos - recomendação classe I, com nível de evidência C.

    • Sinais e sintomas de depósitos de colesterol extravasculares 

      • Xantomas tendinosos (praticamente patognomônicos)→ depósito de colesterol em tendões resultando em nódulos subcutâneos amarelados - mais comum no tendão de Aquiles e nos tendões extensores, sendo importante além da inspeção, fazer palpação. 

      • Arco córneo antes dos 45 anos.

      • Xantomas tuberosos → depósito de colesterol principalmente em superfícies extensoras das articulações, como cotovelos e joelhos → não são específicos.

      • Xantelasmas → placas amarelada geralmente ao redor dos olhos → não são específicos.

    • Concentração sérica de  LDL-c aumentadas e repetida com intervalo mínimo de 1 semana

      • Todas as pessoas com mais de 10 anos devem ser rastreadas com a solicitação de perfil lipídico - recomendação classe I, com nível de evidência C.

      • Quando história familiar de doença aterosclerótica prematura (mulheres com menos de 65 anos e homens com menos de 55) ou se a própria criança apresentar sinais clínicos ou fatores de risco como hipertensão, diabetes, obesidade, antecipar rastreio para a partir de 2 anos - recomendação classe I, com nível de evidência C.

      • Em adultos (> 20 anos), deve-se suspeitar quando LDL-c ≥ 190 mg/dl, após excluídas causas secundárias como hipotireoidismo e síndrome nefrótica

    • A periodicidade ainda não é unânime, mas sugere-se repetir anualmente se fatores de risco importantes e em até 5 anos em caso de exames normais e sem fatores de risco.

    • Após identificado um caso, rastrear laboratorialmente os parentes de 1o grau. À medida que novos familiares forem sendo identificados, vai se ampliando o rastreamento (rastreamento em cascata) - recomendação classe I, com nível de evidência A.

    • Identificação de mutações e polimorfismos genéticos

      • O teste genético deverá ser oferecido para o caso-índice e, se positivo, realizar nos parentes de 1o grau (rastreamento em cascata) - recomendação classe II, com nível de evidência A.

    • A diretriz recomenda o uso dos critérios de Dutch Lipid Clinic Network que englobam os critérios acima com pontuações e sugere a probabilidade de HF heterozigótica:

    1. História Familiar

    • 1 ponto:

      • Parente de primeiro grau com doença vascular/coronariana prematura (homens com menos de 55 anos, mulheres com menos de 60);

      • OU Parente adulto com colesterol total > 290 mg/dl

    • 2 pontos:

      • Parente de primeiro grau com xantoma tendíneo e/ou arco corneano

      • OU Parente de primeiro grau com menos de 16 anos e colesterol > 260 mg/dl

    2. História Clínica

    • 2 pontos:

      • Paciente com doença coronariana prematura (homens < 55 anos, mulheres < 60 anos)

    • 1 ponto:

      • Paciente com doença cerebral ou periférica prematura (homens < 55 anos, mulheres < 60 anos)

    3. Exame Físico

    • 6 pontos:

      • Presença de xantoma tendíneo

    • 4 pontos:

      • Arco corneano antes dos 45 anos

    4. Níveis de LDL-c (mg/dl)

    • 8 pontos: LDL-c ≥ 330 mg/dl

    • 5 pontos: LDL-c entre 250 e 329 mg/dl

    • 3 pontos: LDL-c entre 190 e 249 mg/dl

    • 1 ponto: LDL-c entre 155 e 189 mg/dl

    5. Análise do DNA

    • 8 pontos: Presença de mutação funcional no gene do receptor de LDL, Apo B-100 ou PCSK9

    • Diagnóstico da Hipercolesterolemia Familiar

      • Certeza: Pontuação > 8

      • Provável: Pontuação entre 6 e 8

      • Possível: Pontuação entre 3 e 5

    Conteúdos Extras 

    • Nota da autora: É importante destacar que a aterosclerose é tempo-dependente, sendo muito importante o diagnóstico precoce, avaliação de diagnósticos diferenciais com causas secundárias e a instituição do tratamento para prevenção primária de eventos cardiovasculares. 

    • Nota da autora: Por vezes nos deparamos com pacientes jovens com hipercolesterolemia que não são tratados por conta da idade, sendo fundamental não perder tempo.


    Autor do conteúdo

    Isabelle Magalhães


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/como-eu-faco-o-diagnostico-da-hipercolesterolemia-familiar


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