Como Eu Faço Hemodiálise em Gestantes Baseado em Revisão de Literatura 2024
15 de agosto de 2024
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A gravidez é rara em pacientes com doença renal crônica estágio V devido à redução de fertilidade em mulheres em diálise. Mesmo com os avanços das terapias renais fornecidas, elas ainda trazem risco aumentado de diversos eventos adversos nessa população.
Não há consenso terapêutico ou diretriz para guiar o manejo de pacientes gestantes em hemodiálise. Portanto, revisões de literatura são importantes para esclarecer os efeitos da diálise na gestação e trazer recomendações para a adequação em diálise neste grupo.
As revisões aqui consideradas são três revisões principais, não sistemáticas, que incluem a revisão de atualização de diálise na gestação do grupo turco publicada em 2023; o Core Curriculum publicado em 2019 de diálise na gestação; e o Programa de Autoavaliação (NephSap®) pela Sociedade Americana de Nefrologia publicado em 2024. As recomendações descritas constituem evidências fracas pela ausência de ensaios clínicos randomizados na área.
Manter ureia pré-diálise < 50mg/dl dosada no meio da semana
Aumentar frequência e tempo de diálise conforme alvo de ureia. Quando possível, atingir 36h semanais ou um mínimo de 20h por semana.
Atenção ao estimar peso seco. Há ganho de 300-500g por semana a partir do segundo semestre, mas esse valor é extremamente variável e deve ser individualizado, guiando-se inclusive pelo peso fetal e volume de líquido amniótico.
Nas sessões de diálise, anticoagular o sistema com heparina não fracionada.
A anticoagulação varia conforme protocolo do serviço, podendo ser utilizada em torno de 100-120 U/kg. Pode ser feita em bolus inicial ou diluída para volume total de 20mL com SF 0,9% e administrada em infusão contínua durante a sessão.
Não utilizar antagonista de vitamina K na gestação por ser teratogênico
Vigiar distúrbios eletrolíticos e realizar reposição conforme necessidade. Os principais distúrbios estão relacionados ao aumento da intensidade de diálise e são: hipocalemia, hipocalcemia, hipofosfatemia, alcalose metabólica e hipomagnesemia. Os alvos séricos são similares aos de pacientes não gestantes.
A correção pode ser feita com formulações orais de carbonato de cálcio, fosfato de potássio e carbonato ou cloreto de magnésio.
Preferir, quando disponível, dialisato com concentrações maiores de eletrólitos: potássio 3 mEq/L, cálcio 3 a 3,5 mEq/L. Concentração menor de bicarbonato 25 mEq/L. Contendo fósforo (formulações habitualmente não possuem esse eletrólito).
Manter a modalidade de diálise já realizada pela paciente anteriormente. Priorizar também a experiência da equipe assistente.
Vigiar necessidade de aumento de doses de eritropoetina.
O alvo de hemoglobina permanece entre 10 e 12 g/dL.
Se Hb < 10g/dL, iniciar eritropoetina 20-50 U/kg/dose, podendo aumentar dose dose progressivamente (ampolas disponíveis de 4000U e 10000U).
Se Hb > 13g/dL, reduzir eritropoetina em 25-50% da dose semanal.
Considerar resistência à eritropoetina quando não se consegue alcançar o alvo da hemoglobina com dose até 200 UI/kg/semana. Sem benefício em doses adicionais.
Vigiar maior risco de hipertensão e eventos trombóticos quando doses altas de eritropoetina.
Manter reposição de ferro, endovenoso ou oral, com alvo de IST > 30% e ferritina em torno de 200 ng/mL
Se IST < 20%, podemos realizar reposição de sacarato de hidróxido de ferro 100 mg IV por sessão (completando 10 sessões)
Se IST entre 20 e 30%, manter dose de 100mg por semana
Se IST > 50% e/ou ferritina > 800 ng/mL, a reposição de ferro deve ser suspensa
A ampola de sacarato de hidróxido de ferro deve ser diluída em 100mL de SF 0,9% com tempo de infusão entre 15 e 30 minutos.
Outras formulações de ferro, carboximaltose férrica também são seguras na gravidez e podem ser utilizadas.
Corrigir hipovitaminose D e manter reposição de manutenção.
Pacientes gestantes em diálise costumam necessitar de cerca de 800-1.000 U/dia, com alvo sérico > 40 ng/mL e < 60 ng/mL.
Se concentração sérica < 20 ng/mL, pode ser feita dose de 50.000 U/semanal por 4 semanas.
Repor ácido fólico na dose de 5mg por dia.
Iniciar AAS 100mg para prevenir desordens hipertensivas da gestação.
Cessar tabagismo.
Alvo de HbA1C < 6,5% e evitar hipoglicemias, com uso regular de insulina subcutânea. Requer seguimento com endocrinologista.
Controle de pressão arterial com alvo < 140 x 90 mmHg.
Primeira droga de escolha: metildopa com dose máxima de 2g/dia em 4 doses. Atentar para bioquímica hepática.
Demais drogas de escolha: bloqueador de canal de cálcio, hidralazina, clonidina.
Betabloqueadores podem ser usados com vigilância de bradicardia fetal.
Cuidado intensivo com medicamentos potencialmente teratogênicos e frequentemente usados nessas pacientes, como diversos anti-hipertensivos (IECA, BRA), quelantes de fósforo como sevelamer.
Autor do conteúdo
Ana Vieira
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/como-eu-faco-hemodialise-em-gestantes-baseado-em-revisao-de-literatura-2024
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