Como Eu Faço a Avaliação da Saúde Cardiovascular no Tratamento de Reposição Hormonal na Menopausa
27 de janeiro de 2025
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A doença arterial coronariana é a principal causa de morte em mulheres na pós-menopausa. A deficiência de estradiol nessa fase contribui para o aumento do risco cardiovascular, devido à sua associação com disfunção endotelial, aumento da síntese de óxido nítrico e redução da ação antioxidante e das propriedades anti-inflamatórias. Além disso, na pós-menopausa, há uma predisposição ao acúmulo de adiposidade central e alterações no perfil lipídico, como aumento do colesterol LDL e redução da função protetora do HDL.
A indicação primária de terapia hormonal da menopausa (THM) sistêmica é o tratamento dos sintomas vasomotores, sendo essa terapia a mais efetiva e considerada padrão-ouro para alívio desses sintomas. A THM sistêmica também está indicada para prevenção de perda de massa óssea e redução do risco de fraturas. Já os efeitos da THM no risco de doença cardiovascular variam dependendo do momento em que é iniciada.
A diretriz foi desenvolvida pela SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), SOBRAC (Associação Brasileira de Climatério) e SIAC (Sociedade Interamericana de Cardiologia), com o objetivo de fornecer informações baseadas em evidências sobre a saúde cardiovascular no climatério e menopausa.
O método adotado utilizou dois graus de recomendação: recomendação forte e recomendação fraca. Além disso, a força das evidências encontradas na literatura foi estratificada em quatro níveis de certeza: alto, moderado, baixo e muito baixo.
Indica-se terapia hormonal da menopausa para mulheres no climatério sintomáticas e sem contraindicações - recomendação forte, com nível de certeza alto.
Os diferentes hormônios sexuais (estrógenos e progestágenos) estão disponíveis em diversas formulações, doses e vias de administração. Eles apresentam alta eficácia no alívio dos sintomas do climatério e devem ser escolhidos de forma individualizada, considerando os riscos e benefícios para cada mulher. - recomendação forte, com nível de certeza alto.
Figura 1. Tipos, doses e vias de administração dos estrogênios utilizados na terapia hormonal da menopausa
Figura 2. Tipos, doses e vias de administração dos progestagênios utilizados na terapia hormonal da menopausa
Recomenda-se iniciar a THM na “janela de oportunidade”, ou seja, nos primeiros 10 anos após o início da menopausa e/ou antes dos 60 anos de idade, uma vez que iniciar após essa janela pode aumentar o risco absoluto de doença coronariana (DAC), tromboembolismo venoso (TEV) e acidente vascular cerebral (AVC) - recomendação forte, com nível de certeza alto.
Considerar a idade de 60 anos quando a data da última menstruação é desconhecida.
Não é recomendado indicar a THM com o objetivo de prevenção cardiovascular primária em pessoas assintomáticas na pós-menopausa - recomendação forte, com nível de certeza alto.
Os efeitos da THM no risco de doença cardiovascular variam dependendo do momento em que é iniciada: em mulheres saudáveis, quando iniciada na janela de oportunidade, pode apresentar efeitos favoráveis no risco de doenças cardiovasculares (DCV); por outro lado, iniciar a THM após os 60 anos de idade ou mais de 10 anos após a menopausa pode elevar o risco absoluto de DAC, TEV e AVC.
Não usar hormônios bioidênticos manipulados ou implantes hormonais pela falta de evidência científica de eficácia e segurança desses compostos - recomendação forte, com nível de certeza muito baixo.
Considerar que não há idade ou duração máxima pré-estabelecida para uso da THM, a decisão de continuar ou interromper a THM deve ser baseada na manutenção das indicações e na ausência de mudanças de riscos - recomendação forte, com nível de certeza moderado .
Para mulheres com insuficiência ovariana prematura (IOP), recomenda-se manter a THM no mínimo até próximo aos 50 anos, idade média de ocorrência da menopausa - recomendação forte, com nível de certeza alto.
Recomenda-se indicar a THM para mulheres com hipertensão arterial sistêmica (HAS) controlada e sintomas vasomotores moderados a intensos por qualquer via. Porém, sugere-se preferir a terapia estrogênica transdérmica (através de gel ou adesivos) na presença de obesidade, dislipidemia, diabetes ou síndrome metabólica - recomendação forte, com nível de certeza moderado.
Não realizar terapia hormonal da menopausa sistêmica em mulheres com doença cardiovascular manifesta, histórico de infarto agudo do miocárdio ou de acidente vascular cerebral - recomendação forte, com nível de certeza alto.
A terapia estrogênica vaginal isolada é efetiva exclusivamente para tratar os sintomas da síndrome geniturinária e pode ser utilizada, inclusive, em pacientes com alto risco cardiovascular ou doença cardiovascular (DCV) estabelecida.
Recomenda-se considerar terapias não hormonais com eficácia comprovada (como antidepressivos, gabapentina e fezolinetante) para melhora dos sintomas vasomotores em mulheres com contraindicações ou que não desejam usar a THM - recomendação forte, com nível de certeza alto.
Não se recomenda o uso rotineiro de THM para mulheres com histórico de TEV. No entanto, dependendo do fator desencadeante do evento e caso a decisão seja pela indicação da THM, deve-se optar pela via transdérmica, devido ao menor risco associado - recomendação forte, com nível de certeza moderado.
Sugere-se não iniciar THM para pacientes com doença hepática descompensada, sangramento de causa desconhecida e lúpus eritematoso sistêmico com elevado risco trombócito - recomendação fraca, com nível de certeza baixo.
Durante o processo de tomada de decisão, recomenda-se considerar que o risco de câncer de mama associado à TRH é baixo, com menos de um caso adicional por 1.000 mulheres por ano de uso - recomendação forte, com nível de certeza alto.
Não recomendar TRH para pacientes com neoplasias hormônio-dependentes, como câncer de mama (ou lesões precursoras) e câncer de endométrio - recomendação forte, com nível de certeza alto.
Oliveira GMM, Almeida MCC, Arcelus CMA, Espíndola LN, Rivera MAM, Silva-Filho AL, Marques-Santos C, et al. Diretriz Brasileira sobre a Saúde Cardiovascular no Climatério e na Menopausa – 2024. Arq. Bras. Cardiol. 2024;121(7):e20240478.
Autor do conteúdo
Bibiana Boger
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/como-eu-faco-a-avaliacao-da-saude-cardiovascular-no-tratamento-de-reposicao-hormonal-na-menopausa
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