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    Combinações Analgésicas Não Opioides Após Artroplastia Total de Quadril

    31 de dezembro de 2024

    6 minutos de leitura

    Pergunta:

    • Qual a combinação mais eficaz entre paracetamol, ibuprofeno e dexametasona para controle da dor pós-operatória em pacientes submetidos à artroplastia total de quadril?

    Background:

    • A artroplastia total de quadril (ATQ) é um procedimento comum para pacientes com osteoartrite avançada ou outras condições articulares degenerativas. A dor pós-operatória é um desafio significativo, e os opioides, frequentemente usados para o controle da dor, apresentam riscos, como dependência e efeitos colaterais adversos. Por isso, estratégias para reduzir o uso de opioides são altamente desejadas. O manejo multimodal da dor, com o uso de combinações de analgésicos não opioides, tem se mostrado uma alternativa promissora, visando tanto a eficácia quanto a redução de efeitos colaterais. O estudo RECIPE teve como objetivo investigar os benefícios e os riscos de diferentes combinações de analgésicos não-opioides, especificamente paracetamol, ibuprofeno e dexametasona, no manejo da dor após artroplastia total de quadril. 

    Desenho do Estudo:

    • Ensaio clínico randomizado

    • Multicêntrico (9 hospitais dinamarqueses)

    • Duplo cego

    • Controlado por placebo

    • Os adultos submetidos a artroplastia total de quadril foram aleatoriamente alocados (1:1:1:1) em 4 grupos, com estratificação por local, usando uma lista gerada por computador.nOs grupos foram: paracetamol + ibuprofeno, ibuprofeno + dexametasona, paracetamol + dexametasona e paracetamol + ibuprofeno + dexametasona.

    • Foi planejado um tamanho amostral de 1.060 pacientes, o que proporcionou um poder estatístico de 90%. Esse poder foi calculado para detectar uma diferença mínima de 8 mg no consumo de morfina entre os grupos de intervenção. 

    População:

    • Pacientes submetidos a artroplastia total de quadril entre 2020 e 2022.

    Critérios de Inclusão:

    • Adultos ≥18 anos

    • IMC entre 18 e 40 kg/m²

    • Indicação para artroplastia total de quadril, geralmente por osteoartrite ou outras doenças degenerativas da articulação.

    • Condições clínicas estáveis para a realização do procedimento cirúrgico.

    Critérios de Exclusão:

    • Contraindicações para o uso de paracetamol, ibuprofeno ou dexametasona (por exemplo, alergias ou histórico de reações adversas graves a esses medicamentos).

    • Doenças graves que poderiam afetar a recuperação pós-operatória, como insuficiência renal, hepática ou cardíaca severa

    • Uso prévio de opioides de forma contínua ou abuso de substâncias, o que poderia interferir nos resultados de analgesia

    • Gravidez ou lactação

    • Participação em outro estudo clínico ao mesmo tempo.

    Intervenções:

    • Grupo 1: Paracetamol + Ibuprofeno + Dexametasona

      • Paracetamol: 1000 mg por via oral a cada 6 horas (total de 4 doses em 24 horas).

      • Ibuprofeno: 400 mg por via oral a cada 6 horas (total de 4 doses em 24 horas).

      • Dexametasona: 24 mg intravenosa em dose única administrada no início do procedimento anestésico.

    • Grupo 2: Paracetamol + Ibuprofeno + Placebo

      • Paracetamol: 1000 mg por via oral a cada 6 horas (total de 4 doses em 24 horas).

      • Ibuprofeno: 400 mg por via oral a cada 6 horas (total de 4 doses em 24 horas).

      • Placebo: Correspondente à dexametasona intravenosa.

    • Grupo 3: Paracetamol + Dexametasona + Placebo

      • Paracetamol: 1000 mg por via oral a cada 6 horas (total de 4 doses em 24 horas).

      • Dexametasona: 24 mg intravenosa em dose única administrada no início do procedimento anestésico.

      • Placebo: Correspondente ao ibuprofeno oral.

    • Grupo 4: Ibuprofeno + Dexametasona + Placebo

    • Ibuprofeno: 400 mg por via oral a cada 6 horas (total de 4 doses em 24 horas).

    • Dexametasona: 24 mg intravenosa em dose única administrada no início do procedimento anestésico.

    • Placebo: Correspondente ao paracetamol oral.

    Desfechos:

    • Primário: consumo de morfina intravenosa nas primeiras 24 horas após uma artroplastia total de quadril. 

    • Secundários: eventos adversos em 24 horas e 90 dias, dor no pós-operatório avaliada por escala visual analógica, e parâmetros de segurança.

    Características dos Pacientes:

     

    Masculino (44% Masculino)Feminino (56% Feminino)
    Masculino
    Feminino

     

    • Grupo P+I+D (N=258) x Grupo I+D (N=262) x Grupo P+D (N=262) x Grupo P+I (N=261):

    • Idade (anos): 69 x 69 x 69 x 70 

    • Índice da ASA (Sociedade Americana de Anestesiologistas)

      • Classe 1: 24% x 25% 22% x 21%

      • Classe 2: 65% x 64% x 68% x 69%

      • Classe 3: 11% x 11% x 10% x 10%

    • IMC (kg/m²): 27,4 x 26,8 x 27,4 x 27,6 

    • Diabetes: 6% x 3% x 7% x 5%

    • Uso de paracetamol antes da cirurgia: 

      • Nenhum: 15% x 15% x 13% x 17%

      • Uso conforme necessário: 42% x 38% x 40% x 36%

      • Uso diário: 43% x 47% x 47% x 48%

    • Uso de AINEs antes da cirurgia:

      • Nenhum: 44% x 50% x 48% x 46%

      • Uso conforme necessário: 36% x 30% x 30% x 29%

      • Uso diário: 19% x 21% x 22% x 25%

    • Uso de opioides ante da cirurgia:

      • Nenhum: 91% x 89% x 89% x 87%

      • Uso conforme necessário: 3% x 5% x 5% x 6%

      • Uso diário: 6% x 6% x 6% x 8%

    • Usuários de opioides diariamente – tipo de opióide:

      • Morfina: 38% x 47% x 24% x 35%

      • Oxicodona: 25% x 24% x 35% x 30%

      • Tramadol: 38% x 29% x 41% x 35%

      • Dor em repouso (EVA): 20 x 20 x 17 x 19

      • Dor durante a mobilização (EVA): 45,5 x 44 x 41 x 46

    Resultados:

    • O grupo que recebeu paracetamol, ibuprofeno e dexametasona apresentou uma redução significativa no consumo de morfina em comparação com os grupos:

      • Paracetamol + Ibuprofeno: diferença mediana de Hodges-Lehmann de –6 mg (IC 99% –10 a –3; p<0,0001).

      • Paracetamol + Dexametasona: diferença mediana de Hodges-Lehmann de –4 mg (IC 99% –8 a –1; p=0,0013).

      • Embora estatisticamente significativas, essas reduções não atingiram o limiar clínico mínimo de relevância de 8 mg.

    • A proporção de participantes que apresentou eventos adversos foi menor no grupo paracetamol, ibuprofeno e dexametasona:

      • Paracetamol + Ibuprofeno + Dexametasona: 35% (91 de 258 participantes).

      • Ibuprofeno + Dexametasona: 38% (99 de 262 participantes).

      • Paracetamol + Dexametasona: 39% (103 de 262 participantes).

      • Paracetamol + Ibuprofeno: 63% (165 de 261 participantes).

    • A mediana da dor em repouso foi similar entre os grupos, sem diferenças estatisticamente significativas.

    • A combinação de paracetamol, ibuprofeno e dexametasona foi a mais eficaz em reduzir a dor durante a mobilização, com reduções estatisticamente significativas e clinicamente relevantes em comparação aos outros grupos.

    • A combinação de paracetamol, ibuprofeno e dexametasona foi a mais eficaz em reduzir a dor durante a caminhada em comparação aos outros grupos. No entanto, as diferenças observadas não atingiram relevância clínica mínima.

    Conclusões:

    • Em adultos submetidos à artroplastia total do quadril, uma combinação de paracetamol, ibuprofeno e a dexametasona teve o menor consumo de morfina dentro de 24 horas após a cirurgia e perfil de eventos adversos mais favoráveis.

    Pontos Fortes:

    • O ensaio foi multicêntrico, randomizado, controlado por placebo e duplo-cego, minimizando vieses e garantindo maior validade interna​.

    • Com mais de 1.000 participantes, o estudo teve poder amostral adequado para detectar diferenças significativas entre os grupos​

    • A divisão em quatro grupos permitiu analisar os efeitos isolados e combinados de paracetamol, ibuprofeno e dexametasona.

    • O estudo não apenas avalia o consumo de opioides, mas também considera a dor em repouso, durante a mobilização e eventos adversos, proporcionando uma visão abrangente dos efeitos das combinações de medicamentos.

    Pontos Fracos:

    • Embora o limiar de 8 mg seja defendido como adequado para avaliar intervenções poupadoras de opioides, ele é inferior ao limiar amplamente aceito em revisões sistemáticas, que identificaram 10 mg de morfina intravenosa como a diferença mínima clinicamente relevante para o manejo da dor pós-operatória

    • A inclusão de diferentes idades, condições clínicas e níveis de dor pode ter contribuído para a variabilidade nos resultados.

    • Embora o estudo seja multicêntrico, ele é realizado em hospitais dinamarqueses, o que pode limitar a generalização dos resultados para populações com diferentes características demográficas ou práticas clínicas

    • A variabilidade dos dados (por exemplo, a dispersão no consumo de morfina entre pacientes dentro de um mesmo grupo) pode ter sido maior do que a estimada no cálculo amostral. Isso reduz o poder efetivo do estudo para detectar diferenças estatísticas, mesmo com o tamanho da amostra adequado.


    Autor do conteúdo

    Andressa Shinzato


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/combinacoes-analgesicas-nao-opioides-apos-artroplastia-total-de-quadril


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