Combinação de Quetamina/Propofol versus Etomidato para Intubação de Pacientes Crítico.
27 de fevereiro de 2025
5 minutos de leitura
O uso da combinação quetamina/propofol na indução anestésica para intubação em pacientes críticos resulta em melhores desfechos em comparação ao etomidato?
Etomidato, quetamina e propofol são agentes comumente utilizados para a intubação de pacientes críticos. O etomidato, apesar de associado a poucos efeitos cardiovasculares adversos, pode resultar em insuficiência adrenal transitória e aumento do risco de morte. O propofol frequentemente não é o agente de primeira escolha em virtude da intensa depressão que causa no sistema cardiovascular. Já a quetamina tem emergido como um dos agentes preferidos nessa população, diante dos seus efeitos simpatomiméticos e por não afetar o drive respiratório. Apesar disso, quando administrada sem bloqueio neuromuscular a quetamina pode resultar em condições subótimas de intubação. Além disso, é difícil avaliar o grau de anestesia induzida por esse agente, sendo comum o relato de alucinações e sonhos vívidos. A combinação entre quetamina e propofol (quetofol) pode resultar em um grau ótimo de anestesia, com condições ideais para intubação, sem o prejuízo hemodinâmico do propofol e com garantia de amnésia. O estudo KEEP PACE foi realizado para avaliar se o quetofol resulta em melhores desfechos na indução para a intubação de doentes críticos em comparação ao etomidato.
Ensaio clínico randomizado
Unicêntrico (3 UTIs em um hospital terciário nos Estados Unidos).
Estudo não cego.
Randomização na proporção de 1:1 em blocos de 4 e estratificação por centro e comprometimento hemodinâmico
Foi calculado que 128 pacientes seriam necessários para ter 80% de poder para demonstrar uma diferença de 5 mmHg entre os grupos com desvio padrão de 10 mmHg e erro alfa de 5%. Visando compensar possíveis perdas de seguimento a amostra foi definida em 160 pacientes.
Pacientes críticos submetidos à intubação orotraqueal em caráter de urgência entre julho de 2014 e outubro de 2017.
Idade ≥ 18 anos.
Admitidos em uma das 3 UTIs do estudo.
Indicação de intubação de urgência (não programada).
Intubação durante parada cardíaca.
Patologia intracraniana com suspeita de hipertensão intracraniana.
Dependência crônica de opioides.
Esquizofrenia e transtorno bipolar.
Alergia à ovo.
Contraindicações ao uso dos sedativos do estudo.
Peso abaixo de 30 kg e acima de 140 kg.
Pacientes privados de liberdade.
Gestantes e lactantes.
Quetofol.
Dose padrão de 0,5 mg/kg de quetamina + 0,5 mg/kg de propofol.
Uma dose adicional poderia ser realizada se necessário.
Etomidato.
Dose padrão de 0,15 mg/kg.
Uma dose adicional poderia ser realizada se necessário.
Em ambos os grupos era administrada uma dose padrão de 50 mcg de fentanil.
O uso de outras medicações como benzodiazepínicos, opioides adicionais e bloqueadores neuromusculares ficava a critério da equipe assistente.
Primário: variação na pressão arterial média (PAM) entre 1 minuto antes da indução anestésica e 5 minutos após.
Secundários: mudanças na PAM em 10 e 15 minutos após a sedação; área sobre a curva média entre a indução e 15 minutos; uso de vasopressores; intubação difícil; ocorrência de delirium; necessidade de transfusão; dias livres de ventilação; dias livres de UTI; mortalidade hospitalar.
Em um subgrupo de pacientes foi avaliada a ocorrência de insuficiência adrenal através da dosagem de cortisol antes e após o uso de 250 mcg de cosintropina. Era considerada insuficiência adrenal a presença de cortisol abaixo de 10 mcg/dL no exame pré ou abaixo de 9 mcg/dL no teste pós.
MasculinoFeminino
152 pacientes / masculino=56,5% e feminino=43,5%
Foram incluídos 160 pacientes, dos quais 8 foram removidos do estudo, resultando em uma amostra final de 152 pacientes.
Quetofol (N = 79) x Etomidato (N = 73)
Idade: 62,1 x 60,0 anos
Sexo masculino: 61% x 52%
IMC: 28 x 27,5 kg/m2
APACHE III: 85,8 x 86,7
Uso de VNI: 44% x 34%
Motivo para intubação:
Proteção de vias aéreas: 24% x 33%
Insuficiência respiratória: 68% x 58%
Outras: 7% x 10%
SpO2: 99,2% x 96,4%
PAM: 80,9 x 82,8 mmHg
Fluído nas últimas 24h: 886 x 866 ml
Necessidade de doses adicionais de sedação: 20% x 19%
Não houve diferença entre os grupos na variação da PAM.
A variação da PAM entre 1 minuto antes da indução e 5 minutos após foi de -3,4 mmHg no grupo quetofol e -1,1 mmHg no grupo etomidato. (diferença ajustada de -2,1; IC 95% -6,9 a +2,7; P = 0,38).
A variação da PAM em 10 minutos e 15 minutos foi similar entre os grupos.
Vasopressores foram iniciados em 25% do grupo quetofol e 19% do grupo etomidato nos primeiros 15 minutos após a intubação (P = 0,36).
Os demais desfechos secundários foram similares entre os grupos. Notadamente, a dificuldade na intubação (medida pelo Intubation Difficulty Score) foi de 3,8 no grupo quetofol e 4,0 no grupo etomidato e a mortalidade foi de 32% e 36% respectivamente.
Insuficiência adrenal precoce ocorreu em 38% do grupo quetofol e 81% do grupo etomidato (P = 0,027).
Titulo: Insuficiência adrenal precoce
P=0,027
Quetofol=38% e Etomidato=81%
Eventos adversos foram similares entre os grupos.
Conclusões:
Não houve diferença nos desfechos clínicos com a indução com quetofol versus com etomidato na intubação orotraqueal de doentes críticos. O quetofol parece ser uma alternativa segura ao etomidato em caso de preocupação com insuficiência adrenal.
Ponto a ponto:
Pontos fortes
Estudo randomizado.
Estudo pragmático.
Doses fixas de medicação, reduzindo heterogeneidade. Medicações associadas também semelhantes entre os grupos, reduzindo viés de performance.
Pontos Fracos
Estudo não cego, o que pode ter introduzido viés.
Estudo de centro único, o que reduz a validade externa.
Desfecho primário fisiológico, com poder possivelmente limitado para alguns desfechos robustos como mortalidade.
Autor do conteúdo
Luis Júnior
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/combinacao-de-quetaminapropofol-versus-etomidato-para-intubacao-de-pacientes-critico
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