Qual o Contexto?

A Sociedade Europeia de Cardiologia recomenda, como classe IIa, o uso de colchicina em pacientes com doença arterial coronariana aterosclerótica crônica, baseada em estudos que demonstraram redução de eventos cardiovasculares com seu uso. Contudo, a eficácia da colchicina em pacientes que sofreram infarto do miocárdio (IM) permanecia incerta. O estudo CLEAR foi desenhado para avaliar o impacto do tratamento com colchicina, iniciado logo após o IM, sobre desfechos cardiovasculares em longo prazo. O estudo concluiu que o tratamento com colchicina, continuado por uma mediana de 3 anos, não reduziu significativamente a incidência de eventos cardiovasculares maiores, incluindo morte cardiovascular, IM recorrente, acidente vascular cerebral ou revascularização coronariana não planejada.

Como o Estudo Foi Feito?

No estudo, 7062 pacientes com IM foram randomizados para receber colchicina (0,5 mg/dia) ou placebo e, paralelamente, espironolactona ou placebo. O desfecho primário foi uma composição de morte cardiovascular, IM recorrente, acidente vascular cerebral ou revascularização coronariana não planejada causada por isquemia, avaliado em uma análise de tempo até o evento. Durante um seguimento mediano de 3 anos, o desfecho primário ocorreu em 322 de 3528 pacientes (9,1%) no grupo de colchicina e em 327 de 3534 pacientes (9,3%) no grupo de placebo (HR 0,99; IC 95% 0,85–1,16; p=0,93), evidenciando que o uso da colchicina não reduziu significativamente o risco de eventos cardiovasculares no perfil avaliado.

Qual o Impacto na Prática?

Embora a colchicina tenha demonstrado benefícios em pacientes com doença arterial coronariana crônica, o estudo CLEAR revelou que esses benefícios não se repetem em pacientes pós-IM. Assim, o uso rotineiro de colchicina após IM, com o objetivo de reduzir a incidência de eventos cardiovasculares adversos, não é recomendado. Esses resultados reforçam a importância de direcionar terapias baseadas em evidências para populações específicas e cenários clínicos definidos.