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    Células T CARv3-TEAM-E intraventricular em Glioblastoma recorrente

    30 de maio de 2024

    8 minutos de leitura

    Pergunta: 

    • Qual a segurança do tratamento com células T CARv3-TEAM-E no tratamento do glioblastoma multiforme?

    Background:

    • O glioblastoma é um tumor cerebral primário agressivo, sendo que o prognóstico para recidiva é pobre e sem opções de tratamento eficazes. O tratamento com linfócitos T com receptor quimérico de antígeno (Chimeric antigen receptor – CAR) é uma opção promissora para o tratamento de neoplasias, principalmente as neoplasias hematológicas linfoides. O uso de células CAR-T em tumores sólidos é limitado no momento, devido ao desafio de ter apenas um antígeno alvo em uma doença heterogênea e aos mecanismos imunossupressores do microambiente tumoral.  Em um ensaio clínico anterior, a infusão periférica de células T CAR específicas da variante III do receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) (CART-EGFRvIII) mediou com segurança os efeitos on target em pacientes com glioblastoma. Apesar desta atividade, não foram observadas respostas radiográficas, e as células tumorais recidivantes expressaram a proteína EGFR do tipo selvagem e mostraram forte infiltração intra tumoral com células T reguladoras supressivas. No experimento atual, foi desenvolvida um produto de célula T projetada: CARv3-TEAM-E, que tem como alvo o EGFRvIII e utiliza uma célula CAR T de segunda geração, ao mesmo em que tempo secreta moléculas de anticorpo engajadoras de célula -T (T-cell–engaging antibody molecules – TEAMs) contra o EGFR selvagem (o qual não é expresso em cérebro normal, mas quase  sempre expresso em glioblastoma). Assim, foi desenvolvido o estudo -Intraventricular CARv3-TEAM-E T Cells in Patients with Glioblastoma (INCIPIENT) study- para avaliar a segurança desta terapia em pacientes com glioblastoma 

    Desenho do Estudo:

    • Ensaio clínico não randomizado de fase 1

    • Unicêntrico

    • Aberto

    • Estudos de fase 1 tem a proposta de avaliar a segurança de uma terapiaem uma amostra reduzida e controlada  para, se possível, prosseguir como novos estudos de eficácia 

    População:

    • Pacientes com glioblastoma EGFRvIII- positivo

    Critérios de inclusão: 

    • Idade ≥18 anos

    • Glioblastoma EGFRvIII- positivo, grau 4 (OMS), documentado patologicamente

    • Doença recidivada

    • Doença mensurável, definida como pelo menos uma lesão com pelo menos 10 mm de diâmetro na ressonância magnética (MRI)

    Critérios de exclusão:

    • Tratamento prévio de terapia direcionada ao EGFRvIII 

    Intervenção: 

    • Células T CARv3-TEAM-E

    • Aplicação intraventricular de 10×10 6 células T CARv3-TEAM-E como uma infusão única através de um reservatório Ommaya

    Controle:

    • Ausência de grupo controle

    Desfechos:

    • Primário: Toxicidade

      • Efeito tóxico limitante da dose foi definido como um efeito ao menos possivelmente relacionado ao produto sob investigação e não atribuído à progressão da doença.

    • Quaisquer efeitos tóxicos relacionados de grau 4 ou superior (exceto síndrome de liberação de citocinas grau 3 ou 4 ou síndrome de neurotoxicidade associada a células efetoras que não se resolveu para grau 2 ou inferior em 3 semanas) ou qualquer efeito tóxico relacionado de grau 3 que não resolveu para grau 2 ou inferior em 2 semanas.

    Características dos pacientes:

     

    Masculino (66% Masculino)Feminino (34% Feminino)
    Masculino
    Feminino

     

    Paciente 1

    • Homem, 74 anos

    • GBM IDH selvagem e metilguanina-DNA metiltransferase metilada  MGMT ) metilado

    • Tratamento prévio: Radioterapia + Temozolomida

    • Recidiva radiológica após 12 meses do diagnóstico

    • RNM no D1 após a infusão demonstrou rápida regressão do tumor

    • Segunda infusão de 10×10 6 células T CARv3-TEAM-E no dia 37 (ciclo 2)

    • Retornou à sala de cirurgia no dia 72 para biópsia após a ressonância magnética de intervalo ter revelado progressão

    • Biópsia líquida para número de cópias de EGFRvIII e EGFR no LCR e no soro diminuíram após o tratamento, assim como negativação de EGFRvIII na biópsia (imuno-histoquímica e sequenciamento de próxima geração)

    Paciente 2

    • Homem, 72 anos

    • GBM IDH mutado e MGMT metilado

    • Tratamento prévio: Radioterapia + Temozolomida

    • Progressão radiológica 20 meses após o diagnóstico inicial

    • Única infusão de 10×10 6 células T CARv3-TEAM-E

    • Redução da lesão pela RNM: No dia 2, a ressonância magnética foi realizada e mostrou uma diminuição na área transversal do tumor em 18,5%, que no dia 69 diminuiu ainda mais em 60,7% em relação ao valor basal pré-infusão. 

    • Esta resposta continuou a melhorar e permaneceu na última avaliação, mais de 150 dias após uma única infusão, na ausência de terapia glicocorticoides ou antiangiogênica

    • Biópsia líquida no LCR demonstrou redução do número de cópias da EGFRVIII

    Paciente 3: 

    • Mulher, 57 anos

    • GNM IDH do tipo selvagem e MGMT não metilado

    • tratamento prévio: Radioterapia + Temozolomida

      • Dose menor devido à plaquetopenia

    • Recidiva radiológica após 6 meses do diagnóstico

    • Recebeu 10×10 6 células T CARv3-TEAM-E positivas para CAR através do cateter intraventricular. Uma ressonância magnética obtida no dia 5 após esta perfusão única mostrou regressão tumoral quase completa

    • Evidências de recorrência 1 mês após a infusão.

    Resultados: 

    • Os eventos de grau 3 que foram pelo menos possivelmente atribuíveis ao produto experimental incluíram encefalopatia de grau 3 por 3 dias no Participante 1 e fadiga de grau 3 por 8 dias no Participante 3 (ambos considerados por um investigador como provavelmente relacionados ao tratamento) 

    • O participante 1 morreu devido à progressão da doença 63 dias após a descontinuação do estudo. A causa da morte foi perfuração gastrointestinal enquanto o participante recebia bevacizumabe e dexametasona. Este evento não foi atribuído ao tratamento

    • Todos os três participantes tiveram febre que atingiu o pico no dia 2 após a infusão 

    • A terapia intravenosa com o antagonista do receptor de interleucina-1 anakinra (100 mg a cada 6 horas) foi utilizada de forma intermitente no tratamento das febres

    •  Os níveis de marcadores inflamatórios sistêmicos aumentaram posteriormente e atingiram o pico na segunda e terceira semanas após a infusão, retornando aos valores basais no dia 30

    Conclusões:

    • O tratamento com células T CARv3-TEAM-E não resultou em eventos adversos superiores ao grau 3 ou efeitos tóxicos limitantes da dose. A regressão radiográfica do tumor foi dramática e rápida, ocorrendo poucos dias após o recebimento de uma única infusão intraventricular, mas as respostas foram transitórias em dois dos três participantes

    Pontos Fortes:

    • Primeiro estudo em humanos

    • Respostas radiográficas dramáticas dentro de dias após uma única infusão intraventricular de células T CARv3-TEAM-E de duplo alvo.

    • Demonstra que as células CAR T injetadas no compartimento intraventricular podem promover resposta antitumoral em pacientes com doença intraparenquimatosa

    • Células T CARv3-TEAM-E mostraram sinais de atividade antitumoral na ausência de expressão de EGFRvIII (no Participante 3)

    Pontos Fracos:

    • Estudo de fase 1

    • Estudo não randomizado ou controlado, com número pequeno de pacientes

    • Esses efeitos foram transitórios em dois dos três participantes, e um participante teve uma regressão duradoura durante um período de acompanhamento de curto prazo


    Autor do conteúdo

    Mateus Simabukuro


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/celulas-t-carv3-team-e-intraventricular-em-glioblastoma-recorrente


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