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    Avacopan para o Tratamento das Vasculites ANCA-associadas

    24 de dezembro de 2024

    7 minutos de leitura

    Pergunta:

    • O uso adjuvante de Avacopan é não-inferior e potencialmente superior ao desmame de prednisona em alcançar remissão em pacientes com vasculite associada ao ANCA? 

    Background:

    • As vasculites associadas ao Anticorpo Anti-citoplasma de Neutrófilos (ANCA) são um grupo de vasculites necrotizantes potencialmente graves, que tipicamente acometem, entre outros órgãos e sistemas, o trato respiratório e os rins. Seu tratamento inclui imunossupressores e glicocorticoides, com necessidade frequente do uso destes em moderadas a altas doses e por período prolongado. A patogênese das vasculites associadas ao ANCA envolve a ativação da via alternativa do complemento, que resulta na produção de C5a. O avacopan é um antagonista do receptor do C5a (C5aR, também chamado de CD88) administrado por via oral, que impede a ativação e quimiotaxia de neutrófilos. O medicamento já mostrou eficácia em estudos com murinos e ensaios de fase 2, e este é um ensaio clínico de fase 3 que comparou avacopan com um esquema de desmame de prednisona em pacientes com granulomatose com Poliangiíte (GPA) e Poliangiíte Microscópica (PAM), de forma adjuvante ao tratamento imunossupressor. 

    Desenho do Estudo:

    • Ensaio clínico randomizado de fase 3

    • Multicêntrico (143 centros na América do Norte, Europa, Ásia e Oceania)

    • Duplo cego

    • Controlado por placebo (double-dummy)

    • Randomização 1:1 estratificada de acordo com o início da vasculite (recém-diagnosticada ou recidivante), subtipo de ANCA (anti-PR3 ou anti-MPO) e tratamento imunossupressor (ciclofosfamida ou rituximabe)

    • Foi estimada uma amostra de 150 participantes em grupo para dar ao trabalho um poder de 90% em demonstrar não-inferioridade de avacopan em relação à prednisona no desfecho primário, assumindo uma margem de não-inferioridade de -20%. 

    População:

    • Pacientes com GPA ou PAM recém-diagnosticada ou recidivante, incluídos entre 2017 a 2019 

    Critérios de Inclusão:

    • Diagnóstico de acordo com as definições do Consenso de Chapel Hill

    • Indicação de tratamento com Rituximabe ou Ciclofosfamida

    • Anti-PR3 ou anti-MPO positivos

    • Doença ativa caracterizada por 1 item maior + 3 itens menores ou pelo menos 2 itens renais (hematúria e proteinúria) no BVAS versão 3 (Birmingham Vasculitis Activity Score).

    Critérios de Exclusão:

    • Ter recebido mais de 3g de glicocorticoide IV nas 4 semanas antes do início do estudo, ou mais de 10 mg/dia de prednisona VO (ou equivalente) por mais de 6 semanas antes da randomização. 

    • Taxa de filtração glomerular <15 ml/min/1,73 m2 de superfície corpórea

    Intervenção:

    • Avacopan 30 mg 2 vezes ao dia + prednisona placebo em um esquema de redução gradual por 20 semanas (60 mg/dia reduzida até descontinuação na semana 21)

    Controle:

    • Placebo 2 vezes ao dia + Prednisona em um esquema de redução gradual por 20 semanas (60 mg/dia reduzida até descontinuação na semana 21)

    Outros Tratamentos:

    • Todos os pacientes (grupo avacopan e controle) receberam um dos 3 regimes de terapia imunossupressora: 

      • Ciclofosfamida IV na dose de 15 mg/kg nas semanas 0, 2, 4, 7, 10 e 13, seguido de azatioprina VO 2 mg/kg/dia a partir da semana 15. 

      • Ciclofosfamida VO na dose de 2 mg/kg/dia por 14 semanas, seguido de azatioprina VO 2 mg/kg/dia a partir da semana 15.

      • Rituximabe IV na dose de 375 mg/m2 1x/semana por 4 semanas 

    • Todos os participantes receberam também terapia profilática para Pneumocystis jirovecii.

    Desfechos:

    • Primários: remissão clínica na semana 26 (BVAS=0 e sem glicocorticoide nas 4 semanas anteriores); remissão sustentada (remissão nas semanas 26 e 52, sem glicocorticoide nas 4 semanas anteriores à semana 52). 

    • Secundários: toxicidade por glicocorticoide, de acordo com o índice de toxicidade por glicocorticoide (GTI – Glucocorticoid Toxicity Index) durante as primeiras 26 semanas; BVAS de 0 na semana 4; mudança na qualidade de vida em relação ao início do estudo (pelos escores SF-36 e EQ-5D-5L); recidivas; variação na taxa de filtração glomerular em relação ao início do estudo; índice de dano da vasculite (VDI – Vasculitis Damage Index). 

    Características dos Pacientes:

     

    Masculino (56.5% Masculino)Feminino (43.5% Feminino)
    Masculino
    Feminino

     

    • Avacopan (n=166) x Prednisona (n=164)

      • Idade: 61,2 x 60 anos

      • Sexo masculino: 59% x 53,7%

      • Raça branca: 83,1% x 85,4%

      • Duração da doença: 0,23 (0-362,3) x 0,25 (0-212,5) meses

      • Doença recém-diagnosticada: 69,3% x 69,5%

      • Subtipo da vasculite:

        • GPA: 54,8% x 54,9%

        • PAM: 45,2% 45,1%

      • Autoanticorpos: 

        • Anti-PR3 positivo: 43,4% x 42,7%

        • Anti-MPO positivo: 56,6% x 57,3%

      • BVAS inicial: 16,3 ± 5,9 x 16,2 ± 5,7

      • Tratamento imunossupressor:

        • Rituximabe: 64,5% x 65,2%

        • Ciclofosfamida IV: 30,7% x 31,3%

        • Ciclofosfamida VO: 4,8% x 3,7%

      • Envolvimento renal: 80,7% x 81,7%

    Resultados:

    • O Avacopan foi não inferior à Prednisona na indução de remissão clínica e demonstrou superioridade para a manutenção de remissão sustentada a longo prazo (semana 52). 

    • 72,3% dos pacientes no grupo avacopan e 70,1% dos pacientes no grupo prednisona atingiram remissão na semana 26 (desfecho primário) – P<0,001 para não-inferioridade, P=0.24 para superioridade.

    • 65,7% dos pacientes no grupo avacopan e 54,9% dos pacientes no grupo prednisona atingiram remissão sustentada na semana 52 (desfecho primário) – P <0,001 para não-inferioridade e P=0,007 para superioridade. 

    • A dose média total de prednisona ou equivalente foi de 1676 mg (5 mg/paciente/dia) no grupo avacopan e 3847 (13 mg/paciente/dia) no grupo prednisona. 

    • O índice de toxicidade de glicocorticoide foi de 39,7 no grupo avacopan e 56,6 no grupo prednisona (IC 95% -25,6 a -8,0) na semana 26. 

    • Não houve diferença em relação ao número ou à gravidade de efeitos adversos entre os grupos. 

    Curva de Kaplan-Meier mostrando a probabilidade de liberdade de recidiva nos pacientes com vasculite associada ao ANCA tratados com Avacopan versus Prednisona ao longo de 360 dias. A curva do grupo Avacopan demonstra maior probabilidade de manutenção da remissão clínica, com hazard ratio para recidiva de 0,46 (IC 95%: 0,25–0,84), indicando uma redução de 54% no risco de recidiva em comparação ao grupo Prednisona. 

    Uma imagem contendo GráficoDescrição gerada automaticamente

    Figura: curva de Kaplan-Meier de tempo para recidiva nos grupos Avacopan e Prednisona. Fonte da imagem: Jayne DRW, et al. Avacopan for the Treatment of ANCA-Associated Vasculitis. N Engl J Med. 2021.

    Conclusões:

    • Avacopan se mostrou não-inferior ao esquema de desmame de prednisona em relação à remissão na semana 26, e foi superior à prednisona em relação à remissão sustentada na semana 52. 

    Pontos Fortes:

    • A população de pacientes com vasculites ANCA-associadas foi bem-representada, já que houve a inclusão de pacientes com doença recém diagnosticada e recidivante, com anti-PR3 e anti-MPO positivos, e recebendo imunossupressão com rituximabe e ciclofosfamida. 

    • O número de pacientes incluídos foi grande, considerando a raridade das vasculites associadas ao ANCA. A amostra também teve poder para avaliar os desfechos primários e para demonstrar a segurança do avacopan nesta população. 

    • A atividade da doença e a toxicidade por glicocorticoide foram avaliadas por instrumentos padronizados e apropriados.

    Pontos Fracos:

    • Pacientes do grupo avacopan receberam corticoide ao longo do estudo, apesar de ter sido em dose menor do que os do grupo prednisona, porque o protocolo previa que reativações da doença poderiam ser tratados com terapia de resgate (tanto em pulsoterapia quanto por via oral), de acordo com a condição do paciente. 

    • O tempo do estudo foi curto (52 semanas), e um acompanhamento de maior prazo é necessário para que seja estabelecida a real segurança e eficácia do avacopan.

    Não foram incluídos pacientes com TFG <15 ml/min/m2, e uma parcela considerável de pacientes com vasculites anca-associadas tem doença renal crônica em estágio final/dialítica. 


    Autor do conteúdo

    Marília Furquim


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/avacopan-para-o-tratamento-das-vasculites-anca-associadas


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