Aspirina vs. Nenhum Antiplaquetário em Pacientes com Stents Coronários Submetidos a Cirurgias Não Cardíacas de Baixo a Médio Risco
11 de março de 2025
7 minutos de leitura
Em pacientes com stents coronarianos farmacológicos há mais de um ano submetidos a cirurgias não cardíacas de baixo a médio risco, há diferença em desfechos cardiovasculares comparando a manutenção da aspirina (AAS) com a suspensão temporária dos antiplaquetários?
A intervenção coronariana percutânea (ICP) com stents farmacológicos (SF) é amplamente utilizada para revascularização do miocárdio em doenças isquêmicas. Cerca de 20% dos pacientes submetidos à ICP com SF precisam de cirurgias não cardíacas em até 2 anos, exigindo um equilíbrio delicado entre o risco de trombose e sangramento. Diretrizes recomendam adiar cirurgias eletivas por 6 a 12 meses após o SF, continuar aspirina perioperatória e suspender inibidores de P2Y12 por 5 a 7 dias. Evidências observacionais mostram que descontinuar a terapia antiplaquetária aumenta o risco de trombose do stent, enquanto estudos recentes questionam essa associação, gerando controvérsia. O ensaio ASSURE-DES foi projetado para comparar a monoterapia com aspirina versus a suspensão de toda terapia antiplaquetária antes de cirurgias não cardíacas em pacientes com SF há mais de 1 ano, buscando esclarecer o impacto nos eventos isquêmicos e no risco de sangramento perioperatório.
Multicêntrico -30 centros de 3 países (Coreia, Índia e Turquia).
Aberto.
Randomizado e controlado, iniciado por pesquisadores.
Randomizado em blocos, na proporção 1:1, estratificado por centro e risco cirúrgico de sangramento.
A hipótese nula foi a ausência de diferença entre os grupos na incidência do desfecho. Baseando-se em estudos prévios, assumiu-se que a incidência do desfecho primário seria de 6,0% no grupo de monoterapia com aspirina e 11,5% no grupo sem terapia antiplaquetária. Para uma diferença detectável com 80% de poder e nível de significância bilateral de 5%, estimou-se a necessidade de 900 pacientes.
Pacientes com SF há mais de 1 ano e que seriam submetidos a cirurgias não cardíacas eletivas entre 2017 e 2024
Idade igual ou superior a 19 anos.
Pacientes que implantaram com sucesso um ou mais stents coronários farmacológicos (SF).
Pacientes programados para cirurgia não cardíaca eletiva após 12 meses do implante do stent.
Síndrome coronariana aguda ou infarto do miocárdio no último mês;
Disfunção ventricular esquerda grave (fração de ejeção ≤30%) ou doença valvar cardíaca;
Intolerância à aspirina;
Necessidade de anticoagulação;
Cirurgias emergenciais ou cardíacas;
Risco muito elevado de sangramento (ex.: neurocirurgia intracraniana ou espinhal, ou cirurgia ocular vítreo-retiniana).
Manutenção do AAS em monoterapia durante o perioperatório.
Uso prévio de AAS: continuavam com 100 mg/dia;
Uso prévio isolado de inibidor de P2Y12: mudavam para AAS 5 dias antes da cirurgia.
Uso prévio de terapia antiplaquetária dupla: suspendiam o inibidor de P2Y12 5 dias antes, mantendo a aspirina.
O inibidor de P2Y12 foi retomado o mais rápido possível após a cirurgia, conforme orientação do médico responsável.
Suspensão de todos os agentes antiplaquetários 5 dias antes da cirurgia.
Todos os agentes antiplaquetários foram suspensos 5 dias antes da cirurgia e retomados o mais rápido possível após a cirurgia, no máximo em 48 horas pós-operatórias.
Primário: composto de morte por qualquer causa, infarto do miocárdio, trombose definitiva do stent ou acidente vascular cerebral, ocorrendo entre 5 dias antes e 30 dias após a cirurgia não cardíaca.
Secundários: componentes individuais do desfecho primário e sangramentos maiores ou menores conforme a definição do TIMI (Thrombolysis in Myocardial Infarction).
MasculinoFeminino
926 Pacientes | Mulheres=24% e Homens=76%
Grupo Aspirina (N = 462) x Grupo Sem Antiplaquetários (N = 464)
Idade, anos: 68,0 x 69,0
Masculino: 76,6% x 75,6%
Distribuição geográfica:
Coreia do Sul: 95,2% x 95,7%
Índia: 3,0% x 2,4%
Turquia: 1,7% x 1,9%
Índice de massa corporal, kg/m²: 25,0 x 24,9
Diabetes mellitus:
Qualquer tipo: 41,8% x 47,6%
Requerendo insulina: 6,9% x 7,3%
Hipertensão: 87,0% x 83,8%
Hiperlipidemia: 91,6% x 89,7%
Fumante atual: 14,1% x 13,4%
Infarto do miocárdio prévio: 30,3% x 33,0%
Insuficiência cardíaca congestiva prévia: 2,2% x 3,4%
Frações de ejeção do ventrículo esquerdo, %: 59,7 x 59,0
Índice de risco cardíaco revisado:
Sem fator de risco: 26,6% x 23,1%
1 fator de risco: 43,3% x 44,8%
2 fatores de risco: 25,8% x 25,6%
3 ou mais fatores de risco: 4,3% x 6,5%
Risco cardiovascular da cirurgia:
Alto risco: 11,9% x 10,8%
Risco intermediário ou baixo: 88,1% x 89,2%
Risco de sangramento da cirurgia:
Alto risco: 12,3% x 11,6%
Risco intermediário ou baixo: 87,7% x 88,4%
Duração desde a implantação do stent, anos: 5,1 x 5,4
Stent farmacológico de primeira geração: 11,5% x 12,4%
Stent farmacológico de segunda ou geração mais recente: 88,0% x 86,9%
Stent no tronco principal ou multivascular: 27,9% x 24,4%
Número de stents: 1,6 x 1,6
Terapia antiplaquetária na randomização:
Monoterapia com aspirina: 40,0% x 38,6%
Monoterapia com inibidor P2Y12: 18,8% x 27,4%
Terapia antiplaquetária dupla: 38,5% x 30,4%
Sem terapia antiplaquetária: 2,6% x 3,7%
Terapia antiplaquetária após cirurgia:
Duração da descontinuação após cirurgia, dias: 0 x 2
Monoterapia com aspirina: 53,0% x 42,5%
Monoterapia com inibidor P2Y12: 6,5% x 25,0%
Terapia antiplaquetária dupla: 36,8% x 27,6%
Sem terapia antiplaquetária: 1,8% x 5,0%
Não houve diferença de desfechos cardiovasculares (morte por qualquer causa, infarto do miocárdio, trombose definitiva do stent ou acidente vascular cerebral) entre os grupos.
O desfecho primário composto ocorreu em 3 pacientes (0,6%) no grupo de aspirina e em 4 pacientes (0,9%) no grupo sem terapia antiplaquetária (diferença absoluta de - 0,2 pontos percentuais; IC 95%: -1,3 a 0,9; p > 0,99).
Não houve casos de trombose de stent em nenhum dos grupos.
A incidência de sangramento maior não diferiu significativamente entre os grupos (6,5% no grupo aspirina vs. 5,2% no grupo sem terapia antiplaquetária; p = 0,39).
No entanto, o sangramento menor foi significativamente mais frequente no grupo de aspirina (14,9% vs. 10,1%; P = 0,027).
Em pacientes com SF há mais de um ano submetidos a cirurgias não cardíacas de baixo a médio risco, não houve diferença em desfechos cardiovasculares comparando a manutenção da aspirina com a suspensão temporária dos antiplaquetários.
As características basais foram semelhantes entre os grupos.
Com 1.010 pacientes randomizados, o estudo tem um tamanho de amostra robusto, aumentando a confiabilidade de seus achados.
O estudo aborda uma questão clínica importante, que é o manejo da terapia antiplaquetária perioperatória em pacientes com stents coronários.
Desenho aberto do estudo.
Embora a população de estudo — pacientes com SF submetidos a cirurgia não cardíaca — fosse exclusivamente considerada de alto risco para eventos cardiovasculares perioperatórios, as taxas de eventos observadas foram notavelmente mais baixas do que o esperado, o que pode ter limitado o poder para detectar diferenças entre os grupos.
O desenho do estudo não incluiu a medição rotineira de marcadores de necrose miocárdica perioperatórias para todos os pacientes, o que pode ter levado a uma subestimação da incidência de infarto do miocárdio.
O estudo incluiu principalmente cirurgias de risco baixo a intermediário, com representação limitada de procedimentos de risco elevado, como cirurgias vasculares. Portanto, os resultados devem ser aplicados com cautela em cenários cirúrgicos mais complexos e de maior risco.
Os pacientes no segundo ano após a colocação de stent estavam sub-representados no estudo.
O estudo inscreveu exclusivamente pacientes com condições estáveis, portanto, os achados não podem ser aplicados a pacientes com síndrome coronariana aguda ou outras condições instáveis.
Nos locais onde o estudo foi realizado, o uso de ICP guiada por imagem intracoronária é comum, o que pode contribuir para a maior segurança do SF. Cuidado ao generalizar para locais onde não há disponibilidade de imagem intracoronariana.
A população do estudo incluía principalmente pacientes de origem asiática, que podem ter um risco menor de eventos isquêmicos e maior risco de complicações hemorrágicas.
Autor do conteúdo
Mariane Shinzato
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/aspirina-vs-nenhum-antiplaquetario-em-pacientes-com-stents-coronarios-submetidos-a-cirurgias-nao-cardiacas-de-baixo-a-medio-risco
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