Aspirina versus Placebo em Gestação de Alto Risco para Pré-eclâmpsia Pré-termo
13 de março de 2025
5 minutos de leitura
O uso de AAS em gestantes com alto risco de desenvolverem pré-eclâmpsia pré-termo reduz a incidência de pré-eclâmpsia?
A pré-eclâmpsia é uma importante causa de complicações maternas e fetais. A identificação precoce de gestantes com alto risco de pré-eclâmpsia e de intervenções para reduzir sua incidência é um desafio para a obstetrícia. No final da década de 70, um estudo sugeriu uma redução na prevalência da doença em gestantes que utilizaram ácido acetilsalicílico (AAS) regularmente durante a gestação. A partir daí, vários outros estudos investigaram o efeito do AAS em baixa dose na prevenção de pré-eclâmpsia. Algumas metanálises demonstraram redução na incidência de pré-eclâmpsia com o uso do AAS, entretanto elas trazem dados conflitantes quanto a relação entre o início do uso do AAS em relação à idade gestacional. Hoje, algumas sociedades recomendam o AAS profilático em gestantes com alto risco para pré-eclâmpsia, mas o rastreamento dessas mulheres é limitado. Neste cenário, o estudo ASPRE foi realizado com o intuito de avaliar o uso profilático de AAS na dose de 150 mg/dia em gestantes identificadas como de alto risco para pré-eclâmpsia pré-termo.
Ensaio clínico randomizado.
Randomização em proporção 1:1, estratificado de acordo com o centro participante.
Duplo cego, placebo controlado.
Multicêntrico, envolvendo 13 hospitais-maternidade na Espanha, Reino Unido, Itália, Israel, Grécia e Bélgica.
Gestantes entre 11 e 13 semanas de idade gestacional, eram convidadas a passarem por um rastreamento por meio de um algoritmo que combina fatores de risco materno, como pressão arterial, índice de pulsatilidade da artéria uterina, nível sérico de proteína plasmática A e do fator de crescimento placentário.
Considerando uma estimativa de 7,6% de pré-eclâmpsia pré-termo no grupo controle, foi calculada uma amostra de 1600 pacientes para um poder estatístico de 90% para detectar uma redução absoluta de 50% de pré-eclâmpsia pré-termo com o uso do AAS, com um alfa bicaudal de 0,05.
Gestantes entre 11 e 13 semanas de idade gestacional com fator de risco para pré eclâmpsia entre 2014 e 2016
Idade ≥ 18 anos
Gestação única
Idade gestacional entre 11 e 13 semanas e 6 dias.
Alto risco para pré-eclâmpsia de acordo com o algoritmo de rastreio.
Paciente gravemente enfermas
Anormalidade fetal grave
Uso regular de AAS nas últimas 28 semanas
Distúrbios de coagulação
Uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINES)
AAS 150 mg/dia iniciado entre a 11ª e 14ª semanas gestacional e administrada até a 36ª semana de gestação
Placebo iniciado entre a 11ª e 14ª semanas gestacional e administrada até a 36ª semana de gestação
Primário: Incidência de partos com pré-eclâmpsia de início anterior a 37 semanas, isto é, pré termo.
Secundários: Incidência de pré-eclâmpsia precoce (<34 semanas de idade gestacional); incidência total de pré-eclâmpsia, peso do recém-nascido abaixo dos percentis 3, 5 e 10; natimorto ou óbito neonatal, parto prematuro espontâneo
MasculinoFeminino
Participantes = 1611 | Feminino = 100%
AAS (n = 789) x Placebo (n = 822)
Mediana de idade gestacional – semanas: 12,7 x 12,6
Mediana de idade - anos: 31,5 x 31,4
Mediana de IMC: 26,7 x 26,5
Tabagismo: 7,1% x 7,2%
História de pré-eclâmpsia: 8,3% x 9,0%
Comorbidades
HAS: 6,1% x 7,4%
DM1: 0,9% x 0,2%
DM2: 1,0% x 1,0%
Lúpus Eritematoso Sistêmico: 0,4% x 0,1%
Síndrome Antifosfolípide: 0,3% x 0,2%
História obstétrica
Nulípara: 68,5% x 66,1%
Multípara sem pré-eclâmpsia: 20,6% x 23,7%
Multípara com pré-eclâmpsia: 10,9% x 10,2%
Houve menor incidência de pré-eclâmpsia pré-termo no grupo AAS em comparação ao placebo. A incidência de partos com diagnóstico de pré eclâmpsia antes das 37 semanas foi de 1,6% no grupo AAS e de 4,3% no grupo placebo (OR 0,38; IC 95% 0,2 a 0,74; P = 0,004).
Não houve diferença na incidência de natimorto ou óbito neonatal entre os grupos: 1,0% x 1,7% (OR 0,59; IC 95% 0,19 a 1,85).
Não houve diferença na incidência de pré-eclâmpsia precoce (IG < 34 semanas) entre os grupos: 0,4% x 1,8% (OR 0,18; IC 95% 0,03 a 1,03).
Não houve diferença na incidência baixo peso ao nascer em relação aos percentis 3, 5 e 10 entre os grupos.
O uso do AAS em 150 mg/dia, iniciado entre a 11ª e 14ª semana de gestação até a 36ª semana de gestação, em mulheres de alto risco de pré-eclâmpsia, reduz a incidência de pré-eclâmpsia em comparação ao placebo.
Ensaio clínico randomizado multicêntrico, aumentando a validade externa do estudo.
Protocolo bem elaborado para responder à pergunta do estudo.
A incidência de pré-eclâmpsia observada no estudo foi menor que a incidência esperada, utilizada no cálculo da amostra, o que diminui o poder estatístico do estudo, aumentando a chance de erro tipo 2.
Nos primeiros meses, após recrutamento de 56 pacientes, o estudo foi interrompido por 2 meses devido a problemas administrativos no fornecimento dos produtos do estudo. As pacientes recrutadas nesse período foram incluídas no estudo. É possível que a interrupção do fornecimento dos produtos possa ter impactado na aderência dessas pacientes ao tratamento.
Autor do conteúdo
Guilherme Lemos
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/aspirina-versus-placebo-em-gestacao-de-alto-risco-para-pre-eclampsia-pre-termo
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