Anti-BDCA2 Litifilimabe para Lúpus Eritematoso Sistêmico
21 de janeiro de 2025
6 minutos de leitura
O uso de anti-BDCA2 (litifilimabe) é eficaz e seguro no controle de atividade articular em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES)?
O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune complexa caracterizada por manifestações diversas, como artrite, alterações cutâneas e nefrites. O receptor BDCA2, expresso em células dendríticas plasmocitoides, regula negativamente a produção de interferons tipo I, que desempenham papel central na patogênese do LES. O litifilimabe é um anticorpo monoclonal humanizado que inibe a BDCA2, reduzindo interferons, citocinas e quimiocinas, com resultados promissores em estudos iniciais. Portanto, este estudo teve como objetivo avaliar a segurança e eficácia do litifilimabe no controle de atividade articular em pacientes com LES.
Ensaio clínico randomizado de fase 2
Multicêntrico (5 centros da Ásia, Europa, América Latina e Estados Unidos)
Duplo cego
Controlado por placebo
Seguimento de 24 semanas, incluindo desmame de glicocorticoides e observação de segurança.
O estudo começou com foco em avaliar múltiplas doses para tratar manifestações cutâneas do LES e foi alterado para concentrar-se na dose de 450 mg, incluindo pacientes com envolvimento articular e cutânea, com o desfecho principal voltado para a redução de atividade articular.
Randomização 1:1: grupo 450 mg de litifilimabe e grupo placebo.
Estratificação por dose de glicocorticoides e região geográfica.
O estudo estimou que uma amostra de 100 participantes proporcionaria 71% de poder para detectar uma diferença de 2,5 articulações ativas entre litifilimabe e placebo na semana 24, considerando um desvio padrão de 6, taxa de desistência de 20% e nível de significância de 0,2. Por ser um ensaio de fase 2, não foi projetado para avaliar desfechos secundários com poder suficiente.
Pacientes com LES com atividade cutânea e articular recrutados entre 2016 e 2019.
Idade entre 18 e 75 anos.
Diagnóstico de LES segundo os critérios de classificação do ACR 1997, com diagnóstico feito há pelo menos 24 semanas antes da assinatura do termo de consentimento informado.
FAN positivo na triagem (≥ 1:80) e/ou anti-DNA de fita dupla elevado (≥ 30 UI/ml).
Uso de prednisona em doses de 20 mg ou menos por dia (ou outro glicocorticoide equivalente) permitido, desde que a dose estivesse estável por pelo menos 4 semanas antes da randomização.
Versão 1 do Protocolo:
CLASI-A ≥ 8 na triagem e randomização.
SLEDAI-2K ≥ 4 na triagem e randomização (excluindo febre).
Versão 2 do Protocolo (modificado):
Pelo menos uma lesão cutânea ativa, definida pelo descritor cutâneo do SLEDAI-2K, sem necessidade de escore CLASI-A ≥ 8.
Artrite ativa, com pelo menos 4 articulações dolorosas e 4 articulações edemaciadas em uma avaliação de 28 articulações, sendo que pelo menos 4 articulações edemaciadas deveriam estar nas articulações interfalangeanas proximais, metacarpofalangeanas ou punhos, sem necessidade de dor e edema simultâneos nas mesmas articulações.
Histórico ou resultado positivo no teste de triagem para o vírus da imunodeficiência humana
Resultado positivo no teste de triagem para vírus da hepatite C ou B
Nefrite lúpica ativa ou doença renal moderada a grave ou crônica (razão proteína/creatinina na urina > 2,0 ou taxa de filtração glomerular estimada < 30 mL/min/1,73 m²)
Histórico de tentativa de suicídio ou ideação suicida dentro de 1 ano antes da triagem
LES neuropsiquiátrico ativo
Quaisquer condições de pele ativas além de LES que possam interferir no estudo
Comorbidades sistêmicas que requerem terapia sistêmica com corticosteroides (por exemplo, asma ou doença inflamatória intestinal)
Litifilimabe 450 mg subcutâneo administrados nas semanas 0, 2, 4, 8, 12, 16 e 20.
Placebo subcutâneo administrado com o mesmo esquema de doses.
Primário: mudança no número total de articulações dolorosas e inchadas do início do estudo até a semana 24
Secundários: avaliação de manifestações cutâneas relacionadas ao LES, como a redução na atividade da doença medida pela pontuação CLASI (Cutaneous Lupus Erythematosus Disease Area and Severity Index) no período de 24 semanas e avaliação de outros parâmetros de atividade global da doença, como mudanças nas pontuações do SLEDAI-2K, PGA e BILAG-2004, além de outros indicadores de atividade clínica e laboratorial do LES.
Segurança: natureza, gravidade e relação dos eventos adversos (EA) com o tratamento, a incidência de eventos adversos graves (EAG), alterações nos parâmetros laboratoriais padrão, sinais vitais e resultados de eletrocardiogramas (ECG), imunogenicidade com a detecção de anticorpos contra o litifilimabe, e alterações absolutas e percentuais nos níveis de imunoglobulinas e títulos de vacinas ao longo do tempo.
MasculinoFeminino
Grupo Litifilimabe (N=64) x Grupo Placebo (N=56):
Idade (anos): 40,3 x 41,4
Lúpus eritematoso cutâneo: 58% x 68%
Número total de articulações em atividade (média): 17,4 x 18,6
Pontuação SLEDAI-2K (média): 10,5 x 9,8
Pontuação BILAG-2004: 20,5 x 20,2
≥1A ou 2B: 88% x 91%
Pontuação PGA (média): 6,1 x 6,2
Pontuação CLASI-A: 11,4 x 10,9
Uso concomitante de medicação:
Antimalárico: 89% x 89%
Glicocorticoides: 90% x 96%
Antimalárico e Glicocorticoides: 82% x 85%
Azatioprina: 16% x 16%
Metotrexato: 13% x 16%
Micofenolato: 5% x 13%
Outros: 47% x 29%
O número total de articulações ativas (dolorosas e edemaciadas) reduziu significativamente no grupo tratado com litifilimabe em comparação ao placebo. No grupo litifilimabe, a redução média foi de 15,0 ± 1,2 articulações na semana 24, enquanto no grupo placebo foi de 11,6 ± 1,3 articulações, resultando em uma diferença média de -3,4 articulações (IC 95%: -6,7 a -0,2; P = 0,04).
O tratamento com litifilimabe foi geralmente bem tolerado, com eventos adversos relatados em ambos os grupos. No grupo litifilimabe, houve dois casos de herpes-zoster e um caso de ceratite herpética, enquanto o grupo placebo não apresentou eventos semelhantes.
Não foram observadas alterações significativas nos parâmetros laboratoriais, sinais vitais ou eletrocardiogramas (ECG), e não houve sinais relevantes de imunogenicidade ou alterações nos níveis de imunoglobulinas e títulos vacinais ao longo do estudo.
Houve uma taxa de desistência de 15,2% (20 participantes). As razões incluíram eventos adversos, retirada de consentimento e outros fatores não especificados no resumo.
O litifilimabe mostrou redução significativa na atividade articular em comparação ao placebo em pacientes com LES. No entanto, preocupações relacionadas à segurança reforçam a necessidade de ensaios maiores e de longa duração.
Um estudo de fase 2 é, por natureza, exploratório, e o estudo LILAC cumpriu o papel de identificar sinais de eficácia e segurança.
A randomização e estratificação por dose de corticoides e região geográfica reduz vieses.
A inclusão de participantes de diferentes regiões geográficas (Ásia, Europa, América Latina e EUA) proporcionou maior diversidade, conferindo mais validade externa ao estudo.
A mudança no protocolo para focar na dose de 450 mg e incluir atividade articular como critério de inclusão pode ter introduzido heterogeneidade nos participantes e afetado a consistência dos resultados.
Embora a contagem de articulações dolorosas e edemaciadas tenha sido prática e objetiva para demonstrar um sinal inicial de eficácia, ela não reflete a atividade global da doença.
Apesar de os eventos adversos terem sido poucos, a ocorrência de dois casos de herpes-zóster e um de ceratite herpética no grupo tratado com litifilimabe levanta preocupações iniciais sobre a segurança do tratamento.
Autor do conteúdo
Andressa Shinzato
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/anti-bdca2-litifilimabe-para-lupus-eritematoso-sistemico
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