Algoritmo Baseado na Procalcitonina para Guiar o Uso de Antibióticos em Pacientes com Pancreatite Aguda
12 de dezembro de 2024
6 minutos de leitura
Um algoritmo baseado na procalcitonina pode ser eficaz para guiar o uso de antibióticos em pacientes com pancreatite aguda?
A pancreatite aguda é uma causa comum de internação hospitalar, e cerca de um terço dos pacientes pode evoluir para formas graves, caracterizadas por uma resposta inflamatória sistêmica intensa, podendo resultar em diversas complicações, incluindo o óbito. Uma das principais complicações dessa condição é a infecção do parênquima pancreático, denominada necrose infectada, que está associada a elevada morbimortalidade. É particularmente desafiador diferenciar a infecção secundária do quadro isolado de pancreatite, uma vez que ambas as condições apresentam sinais inflamatórios semelhantes, como febre, taquicardia e leucocitose. Esse cenário pode levar a um número significativo de pacientes ao uso desnecessário de antibióticos. A procalcitonina é um biomarcador que pode auxiliar na diferenciação entre infecção bacteriana e outras fontes de resposta inflamatória. No entanto, seu papel no direcionamento do uso de antibióticos em pacientes com pancreatite ainda foi pouco explorado, o que motivou a realização do estudo PROCAP.
Ensaio clínico unicêntrico (um centro de referência para doenças hepatobiliares no Reino Unido).
Randomização em proporção 1:1 por blocos de 4, 6 e 8 e estratificados pela gravidade da doença e pelo local prévio à admissão na UTI.
Cegamento simples (apenas os pacientes não tinham acesso ao grupo de alocação).
Foi calculado que 130 pacientes em cada grupo seriam necessários para ter 90% de poder para demonstrar uma diferença absoluta de 20% entre os grupos (de 60% para 40% no desfecho primário), com erro alfa de 5%.
Pacientes com pancreatite aguda recrutados entre 2018 e 2020.
Adultos (idade maior que 18 anos).
Diagnóstico de pancreatite (2 de 3 critérios: dor abdominal típica, aumento de lipase acima de 3 vezes o limite superior da normalidade e achados de imagem compatíveis).
Comorbidades com necessidade prolongada de antimicrobianos.
Imunossupressão.
Cirurgia tireoidiana prévia.
Cuidado baseado na procalcitonina.
Procalcitonina na randomização, nos dias 4, 7 e a partir de então, semanalmente.
Interromper ou não iniciar antibiótico se procalcitonina abaixo de 1 ng/ml.
Manter ou iniciar antibiótico se procalcitonia superior a 1 ng/ml.
Qualquer decisão sobre o uso empírico de antibióticos era precedida pela dosagem de procalcitonina.
Cuidado usual.
Todos os demais cuidados em ambos os grupos eram baseados por diretrizes internacionais.
Primário: uso de antibióticos durante a internação.
Secundários: mortalidade hospitalar; dias de uso de antimicrobianos; diagnóstico clínico de infecções (seguindo os critérios do CDC); isolamento de agentes multirresistentes; incidência de necrose pancreática infectada; intervenções cirúrgicas, endoscópicas ou percutâneas; tempo de internação; necessidade de readmissão; qualidade de vida em 90 dias; e eventos adversos.
MasculinoFeminino
Procalcitonina (N= 132) x Cuidado usual (N= 128)
Idade: 49,4 x 52,3 anos
Sexo feminino: 51% x 48%
Severidade da pancreatite:
Leve: 61% x 55%
Moderada: 18% x 25%
Grave: 21% x 20%
Etilismo: 62% x 69%
Early Warning Score: 1,4 x 1,4
APACHE II: 6,1 x 6,9
MODS (mediana): 0 x 0
Causa da pancreatite:
Biliar: 42% x 44%
Alcoólica: 30% x 32%
Idiopática: 12% x 10%
O uso da procalcitonina reduziu significativamente o uso de antibióticos.
No grupo intervenção, 45% dos pacientes receberam antibióticos, comparado a 63% do grupo cuidado usual (diferença de -15,6%, IC 95% -27,0% a -4,2%, P = 0,0071).
A razão de chances (OR) para o efeito da procalcitonina no uso de antibióticos foi 0,49 (IC 95% 0,29 a 0,83, P = 0,007).
O tempo médio em uso de antibióticos foi menor no grupo procalcitonina (4,5 dias vs 5,8 dias no cuidado usual, P = 0,015).
Não houve diferenças entre os grupos quanto ao número de infecções clínicas ou infecções relacionadas aos cuidados de saúde.
A mortalidade foi baixa e similar entre os grupos (3% no grupo procalcitonina, 2% no controle, P = 0,73).
O tempo de internação foi de 13,6 dias no grupo procalcitonina e 10,7 dias no grupo cuidado usual (P = 0,28).
Os demais desfechos foram similares entre os grupos.
Eventos adversos foram similares entre os grupos.
A aderência ao protocolo do estudo foi de 70% e houve 24 violações de protocolo (a maioria relacionada ao início/continuação de antibióticos a despeito de procalcitonina baixa).
O uso de um algoritmo baseado na dosagem de procalcitonina mostrou-se eficaz para orientar o uso de antibióticos em pacientes com pancreatite, reduzindo a administração de antimicrobianos, sem aumentar a incidência de infecções ou eventos adversos.
Estudo pragmático.
Estudo randomizado.
Estudo não cego, o que pode ter introduzido viés, especialmente considerando que o desfecho primário dependia muito da atuação do médico assistente.
Estudo unicêntrico, o que reduz a validade externa.
A maioria dos pacientes tinha pancreatite leve, o que reduz a extrapolação dos resultados para quadros mais graves (especialmente para doentes críticos).
Autor do conteúdo
Luis Júnior
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/algoritmo-baseado-na-procalcitonina-para-guiar-o-uso-de-antibioticos-em-pacientes-com-pancreatite-aguda
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