ADA 2024 - Sulfonilureias no Tratamento do Diabetes Tipo 2: Permanecer ou Desaparecer?
24 de junho de 2024
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Na última década, grandes ensaios clínicos focados na segurança de medicamentos antidiabéticos avaliaram desfechos cardiovasculares e renais em pessoas com diabetes tipo 2. Esses estudos mostraram que novos medicamentos, como os inibidores de DPP-4, não aumentam o risco cardiovascular, enquanto inibidores de SGLT2 e análogos do receptor de GLP-1 reduzem desfechos cardiológicos e renais. Com isso, as diretrizes nacionais e internacionais de tratamento do diabetes tipo 2 começaram a priorizar essas novas drogas (mais caras) em relação às opções mais antigas e baratas, como as sulfonilureias, gerando grande debate no meio científico. Um debate durante o American Diabetes Association (ADA) 2024 trouxe à tona essa questão atual: Sulfonilureias no tratamento do diabetes tipo 2 – devem permanecer ou desaparecer?
Dr. Elbert S. Huang, da Universidade de Chicago, defendeu que as sulfonilureias devem continuar sendo usadas no tratamento do diabetes tipo 2. Ele destacou dois cenários onde esses medicamentos são úteis: em contextos com poucos recursos econômicos, onde opções mais baratas são necessárias, e em situações onde, mesmo com recursos disponíveis, as sulfonilureias podem ser usadas como segunda linha de tratamento, associadas à metformina, por serem eficazes e seguras. Também apresentou resultados do estudo UKPDS (UK Prospective Diabetes Study) e seu monitoramento após 44 anos, mostrando que o controle intensivo da glicose nos primeiros anos de diagnóstico reduziu complicações microvasculares, infarto de miocárdio e mortalidade, inclusive no grupo que usou sulfonilureias. O estudo GRADE também foi citado para demonstrar que, embora a Glimepirida tenha causado mais hipoglicemias severas, essas foram raras e não houve diferença em complicações microvasculares e mortalidade entre Glimepirida, Glargina, Liraglutida e Sitagliptina. Ele também destacou a eficiência das sulfonilureias no tratamento de diabetes tipo HNF1A - MODY-3 (Maturity Onset Diabetes of the Young tipo 3).
Por outro lado, a Dra. Deborah Wexler, da Escola de Medicina de Harvard, argumentou que devemos parar de usar sulfonilureias no tratamento do diabetes tipo 2. Ela ressaltou que, apesar de oferecerem controle glicêmico e reduzirem complicações, essas medicações causam mais hipoglicemias, ganho de peso acima de 10%, redução da qualidade de vida e não oferecem benefícios extra-glicêmicos. Dra. Wexler apresentou dados do estudo GRADE, onde a Glimepirida teve alta taxa de descontinuação devido a hipoglicemias e piora da qualidade de vida, especialmente em idosos, usuários de sulfonilureias de ação longa e supertratados. Segundo ela, o uso de sulfonilureias deve ser limitado, preferindo as de ação curta para reduzir hipoglicemias, na menor dose possível, associada à educação em diabetes, redução da dose em doença renal crônica e evitando seu uso em idosos e em pacientes com alto risco de hipoglicemias e obesidade. Ela também citou os estudos ADOPT e GRADE, sugerindo que sulfonilureias aceleram a perda da função das células beta, induzindo apoptose.
Ao final do debate, houve consenso entre debatedores e plateia de que o controle glicêmico e metabólico do paciente são primordiais, respeitando sempre suas características e objetivando um tratamento mais personalizado. Nesse cenário, a utilização das sulfonilureias, assim como das novas medicações disponíveis, pode ser uma opção. Embora as sulfonilureias sejam eficazes e acessíveis, é importante considerar os riscos de hipoglicemia e outras complicações, especialmente em populações mais vulneráveis, como idosos e pacientes com doenças renais. Portanto, o uso de sulfonilureias deve ser cuidadosamente avaliado e monitorado, com preferência por alternativas mais modernas em casos específicos.
Texto escrito por Dra. Andressa Leitão - Endocrinologista, presidente da SBD-PR
Autor do conteúdo
Equipe DocToDoc
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/ada-2024-sulfonilureias-no-tratamento-do-diabetes-tipo-2-permanecer-ou-desaparecer
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