Qual o Contexto?

Novos tratamentos para diabetes tipo 2 (DM2) são essenciais devido à alta prevalência de complicações renais e cardiovasculares. A insulina e outras terapias isoladas têm mostrado limitações, tornando necessárias novas opções terapêuticas. O estudo Flow, apresentado no Encontro da Associação Americana de Diabetes 2024, explorou o uso de semaglutida, um agonista do receptor GLP-1, para reduzir desfechos renais e cardiovasculares em pacientes com DM2 e doença renal crônica (DRC). Os resultados mostraram uma redução de 24% nos desfechos renais maiores e de 18% nos eventos cardiovasculares maiores, levando à interrupção precoce do estudo devido à eficácia significativa.

Resumo da Palestra

Os pesquisadores discutiram detalhadamente os achados, abordando os métodos do estudo, os critérios de inclusão e a significância dos resultados. Dr. Johannes Mann apresentou dados sobre o uso de inibidores de SGLT2, mostrando que 84,4% dos participantes não usavam inibidor de SGLT2 no início do estudo. O desfecho primário sem uso de inibidor de SGLT2 mostrou um fator protetivo para semaglutida com razão de risco de 0,73. Benefícios semelhantes foram observados para a perda da taxa de filtração glomerular estimada e eventos cardiovasculares maiores, independentemente do uso de inibidor de SGLT2.. O estudo incluiu participantes com doença renal crônica DRC e DM2, com 48% dos participantes com hemoglobina glicada ≥ 7,5% e 57% com diabetes há ≥ 15 anos. Eventos adversos graves foram menores no grupo semaglutida em comparação com o placebo. Houve uma redução de 24% no desfecho primário composto e uma redução mais lenta da função renal. O NNT foi de 20 para prevenir um desfecho primário, 45 para prevenir uma morte cardiovascular, infarto não fatal ou AVC não fatal, e 39 para prevenir uma morte por qualquer causa. Além disso, a necessidade de início de insulina foi significativamente menor no grupo tratado com semaglutida.

Impacto na Prática

Os achados do estudo Flow indicam que a semaglutida pode ter um papel significativo no tratamento de doenças renais e cardiovasculares em pacientes com diabetes tipo 2 e doença renal crônica. O uso concomitante de semaglutida e inibidores de SGLT2 pode ser considerado em pacientes com DM2 e DRC. A semaglutida também demonstrou reduzir a necessidade de início de insulina em pacientes que não usavam insulina anteriormente, proporcionando uma importante estratégia terapêutica. A utilização da cistatina C na prática clínica para avaliar a função renal é uma tendência crescente, devido à sua precisão demonstrada na redução da perda de função renal. Uma abordagem estruturada com múltiplos pilares é recomendada para tratar DRC e diabetes, incluindo inibidores do sistema renina-angiotensina, inibidores de SGLT2, finerenona e semaglutida.

Texto elaborado por: Dra. Andressa Heimbecher, Endocrinologista, criadora do instagram @endocrinologiaemdia