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    Ácido Tranexâmico Ultra-precoce Após Hemorragia Subaracnóidea

    26 de dezembro de 2024

    6 minutos de leitura

    Pergunta:

    • Em pacientes com HSA comprovada por tomografia, o uso precoce do ácido tranexâmico melhora o desfecho neurológico funcional em 6 meses?

    Background:

    • Uma das complicações mais frequentes da hemorragia subaracnóidea (HSA) aneurismática é o ressangramento do aneurisma. Tal complicação aumenta significativamente o risco de desfecho clínico desfavorável e óbito. O ressangramento pode ser prevenido com o tratamento cirúrgico ou endovascular do aneurisma. Estudos anteriores demonstraram que o uso de antifibrinolíticos utilizados por longo período em pacientes com HSA reduziu o ressangramento, mas não melhorou os desfechos clínicos. É possível que o efeito benéfico da redução do ressangramento nesses casos seja perdido por um aumento concomitante de isquemia cerebral tardia. Considerando que o uso mais precoce e curto do ácido tranexâmico em pacientes com HSA poderia demonstrar redução do risco de sangramento sem aumentar a incidência de isquemia cerebral tardia, o estudo ULTRA foi realizado, com o objetivo de avaliar o impacto do ácido tranexâmico precoce no desfecho clínico em 6 meses em pacientes com HSA aneurismática

    Desenho do Estudo:

    • Ensaio clínico prospectivo controlado

    • Multicêntrico, envolvendo 8 centros de tratamento para pacientes com HSA e 16 hospitais de referência na Holanda

    • Aberto, com desfecho clínico cegado

    • Randomizado na proporção 1:1 em blocos permutáveis de no máximo 12, estratificado por centro

    • Considerando 69% de bom desfecho neurológico funcional no grupo controle, a amostra foi calculada em 950 pacientes para um poder estatístico de 80% e um alfa de 0,05, com o objetivo de detectar uma diferença absoluta de 8,1% no desfecho primário entre os grupos.

    População:

    • Pacientes com hemorragia subaracnoidea incluídos entre 2013 e 2019

    Critérios de Inclusão:

    • Idade ≥ 18 anos

    • Confirmação de HSA com TC de crânio

    • Início dos sintomas a menos de 24h

    Critérios de Exclusão:

    • Pacientes sem perda de consciência após HSA com WFNS 1 ou 2 na admissão em combinação com imagem de sangramento perimesencefálico em TC

    • HSA traumática

    • Pacientes em tratamento de TVP ou TEP

    • Coagulopatias

    • Gestantes

    • Disfunção renal grave, com creatinina sérica > 1,7 mg/dL

    • Disfunção hepática (TGO > 150 U/L ou TGP > 150 U/L)

    • Iminência de óbito nas próximas 24h

    Intervenção:

    • Ácido Tranexâmico EV

    • Dose de ataque de 1g de ácido tranexâmico em bolus, seguido de dose de manutenção em infusão contínua de 1g a cada 8h

      • O ácido tranexâmico era administrado até que o aneurisma fosse tratado (cirúrgico ou endovascular) ou até completar 24h de uso, o que ocorresse primeiro.

      • O ácido tranexâmico era interrompido se não fosse detectado nenhum aneurisma em exame de imagem

    Controle:

    • Tratamento padrão, sem ácido tranexâmico

    Outros Tratamentos:

    • Não houve descrição de outros tratamentos específicos entre os grupos.

    Desfechos:

    • Primário: desfecho neurológico funcional bom (mRS 0 a 3) em 6 meses

    • Secundários: desfecho neurológico funcional excelente (mRS 0 a 2) em 6 meses; mortalidade geral em 30 dias e em 6 meses; eventos adversos graves (ressangramento, isquemia cerebral tardia, hidrocefalia) e outras complicações (trombose extracraniana, sangramento extracraniano, complicações infecciosas, delirium, convulsões)

    Características dos Pacientes:

     

    Masculino (32.5% Masculino)Feminino ( 67.5% Feminino)
    Masculino
    Feminino

     

    • Ácido Tranexâmico (N= 480) x Controle (N= 475)

    • Média de Idade: 58,4 ± 12,6 x 58,4 ± 12,3

    • Sexo feminino: 69% x 66%

    • Escala de WFNS

      • I: 36% x 40%

      • II: 20% x 20%

      • III: 5% x 3%

      • IV: 20% x 20%

      • V: 19% x 17%

    • Fisher Score

      • II: 8% x 4%

      • III: 26% x 32%

      • IV: 66% x 64%

    • Uso prévio de medicamentos

      • Antiagregante plaquetário: 13% x 13%

      • Anticoagulante: 3% x 4%

      • Anti-hipertensivos: 4% x 23%

    • Localização do aneurisma

      • Circulação anterior: 70% x 69%

      • Circulação posterior: 16% x 16%

      • Nenhum: 14% x 15%

    • Tratamento realizado

      • Endovascular: 67% x 64%

      • Clipagem: 21% x 22%

      • Nenhum: 13% x 14%

    Resultados:

    • Não houve diferença na incidência de desfecho neurológico funcional bom (mRS 0 a 3) em 6 meses entre o grupo ácido tranexâmico e grupo controle: 60% x 64% (OR 0,87; IC 95% 0,67 a 1,13)

     

    
    

     

    • Houve menor incidência de desfecho neurológico funcional excelente (mRS 0 a 2) em 6 meses no grupo ácido tranexâmico em comparação ao grupo: 48% x 59% (OR 0,74; IC 95% 0,57 a 0,96)

    • Não houve diferença na incidência de mortalidade em 30 dias entre os grupos: 22% x 22% (OR 0,98; IC 95% 0,72 a 1,33)

    • Não houve diferença na incidência de mortalidade em 6 meses entre os grupos: 27% x 24% (OR 1,15; IC 95% 0,86 a 1,54)

    • Não houve diferença na incidência de eventos adversos graves entre os grupos: 80% x 78% (OR 1,14; IC 95% 0,83 a 1,56)

    • Não houve diferença na incidência de ressangramento antes do tratamento do aneurisma entre os grupos: 10% x 14% (OR 0,71; IC 95% 0,48 a 1,04)

    • Não houve diferença na incidência de hidrocefalia entre os grupos: 61% x 55% (OR 1,26; IC 95% 0,98 a 1,63)

    • Não houve diferença na incidência de isquemia cerebral tardia entre os grupos: 23% x 22% (OR 1,01; IC 95% 0,74 a 1,37)

    • Não houve diferença na incidência de complicações tromboembólicas durante o tratamento endovascular entre os grupos: 11% x 13% (OR 0,81; IC 95% 0,48 a 1,38)

    • Não houve diferença na incidência de infarto cerebral secundário ao procedimento de clipagem entre os grupos: 26% x 21% (OR 1,34; IC 95% 0,66 a 2,72)

    • Não houve diferença em outros eventos adversos entre os grupos

    Conclusões:

    • Em pacientes com HSA comprovada por tomografia presumivelmente causada por ruptura de aneurisma, o uso precoce de ácido tranexâmico não melhorou o desfecho neurológico funcional em 6 meses.

    Pontos Fortes:

    • Ensaio clínico randomizado, multicêntrico e com amostra robusta

    • Desfecho primário baseado em desfecho neurológico funcional, que é um desfecho de maior relevância clínica que a incidência de sangramento.

    • Baixa taxa de perda de segmento

    Pontos Fracos:

    • Embora multicêntrico, foi realizado apenas em centros na Holanda, o que reduz a validação externa dos dados para outros países, especialmente países subdesenvolvidos, com poucos recursos disponíveis.

    • O estudo não foi cegado em relação ao tratamento com ácido tranexâmico, o que pode incluir viés de performance

    • Cerca de 14% dos pacientes recrutados não tiveram aneurisma diagnosticado por exame de imagem, o que pode interferir no resultado do estudo


    Autor do conteúdo

    Guilherme Lemos


    Referências

    Públicação Oficial

    https://app.doctodoc.com.br/conteudos/acido-tranexamico-ultra-precoce-apos-hemorragia-subaracnoidea


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