Ácido Tranexâmico em Hemorragia Digestiva Alta em Pacientes Com Cirrose
30 de abril de 2024
7 minutos de leitura
O uso do ácido tranexâmico em pacientes cirróticos com hemorragia digestiva alta reduz a incidência de falha no controle de sangramento?
Hemorragia digestiva alta em pacientes cirróticos ainda está relacionado a alta morbimortalidade, especialmente em pacientes com cirrose Bhild-Pugh B e C, com mortalidade chegando a 30% em 6 meses. Com frequência, cirróticos descompensados apresentam hiperfibrinólise, incluindo hiperfibrinólise local (aumento da atividade fibrinolítica na mucosa esofágica ou gástrica). O Ácido Tranexâmico é um agente anti-fibrinolítico com um potencial de controle de sangramento gastrointestinal em pacientes cirróticos. Entretanto, metanálises realizadas até então são inconclusivas quanto ao assunto. O ensaio clínico randomizado HALT-IT também não encontrou benefício do ácido tranexâmico na redução da mortalidade em 5 dias em pacientes com hemorragia digestiva grave. Dessa forma esse estudo teve por objetivo avaliar a segurança e eficácia do uso do ácido tranexâmico em pacientes cirróticos com sangramento digestivo alto.
Ensaio clínico randomizado
Unicêntrico, realizado no Departamento de Hepatologia e Transplante Hepático do Institute of Liver & Biliary Sciences, em Nova Delhi, Índia
Randomização na proporção 1:1, em blocos de 10, em envelopes opacos e selados, com sequência gerada por computador.
Considerando 15% de falha no controle de sangramento em 5 dias no grupo placebo e de 7,5% no grupo intervenção, foi calculada uma amostra de 279 pacientes em cada grupo para um poder estatístico de 80% e alfa de 0,05. Considerando ainda 5% de taxa de atrito, foram randomizados 300 pacientes em cada grupo
Pacientes cirróticos com hemorragia digestiva alta entre 2020 e 2022
Idade ≥ 18 anos
Cirrose Child-Pugh B ou C de qualquer etiologia
Presença de Hemorragia Digestiva Alta dentro das últimas 24h
Cirrose Child-Pugh A
Alergia conhecida ao Ácido Tranexâmico
Evidência clínica de Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD)
Doença renal crônica em vigência de diálise
História recente (até 6 meses) de Acidente cerebrovascular
História de trombose de V porta, Trombose de V. hepática, ou outra trombose sistêmica. (Trombose relacionada a carcinoma hepatocelular foram incluídos no estudo)
História de convulsão
História de IAM
Gestantes ou lactantes
Ácido tranexâmico
Ataque de 1g de ácido tranexâmico diluído em 100 mL de SF0,9% e infundido em 10 minutos, seguido de dose de manutenção de 3g de ácido tranexâmico diluído em 1000 mL de SF0,9% em 24h
Placebo
Diluição e solução igual à intervncão
Todos os pacientes receberam tratamento padronizado, de acordo com o protocolo institucional
Endoscopia Digestiva Alta inicial com tratamento endoscópico foi realizado
Todos os pacientes receberam terlipressina em bolus de 2mg em 30 min seguido de dose de manutenção de 1mg de 6/6h por 5 dias.
Pacientes com contraindicação ou com efeitos adversos da terlipressina, receberam somatostatina 500 mcg em bolus seguido de 250 mcg/h por 5 dias
Inicialmente, todos os pacientes receberam inibidor de bomba de prótons (IBP) EV. Em caso de ulcera gástrica ou duodenal, o IBP foi mantido por 6 semanas. Nos demais pacientes, o IBP foi mantido por curto prazo (3 a 5 dias)
Transfusão de hemácias era realizada com o objetivo de manter Hb entre 7 e 8 mg/dL
Correção de coagulopatia era realizada em pacientes com continuidade do sangramento e que apresentassem plaquetas < 50 mil/mm3 ou INR > 2,5
Primário: proporção de pacientes com falha terapêutica em 5 dias
Definida por falha no controle de sangramento ou ressangramento
Secundários: falha na prevenção de ressangramento entre 6 dias e 6 semanas; necessidade de terapia de resgate; transfusão de hemocomponentes e hemoderivados; tempo de internação hospitalar; efeitos adversos, incluindo eventos tromboembólicos; mortalidade geral; mortalidade relacionada ao sangramento.
MasculinoFeminino
Ácido Tranexâmico (N=300) x Placebo (N=300)
Média de idade: 51,4 ±11,7 x 51,9 ±11,4
Sexo masculino: 88% x 84%
História de sangramento varicoso prévio: 31,3% x 33,7%
História de ligamento elástico prévio: 33% x 36%
Carcinoma Hepatocelular (CHC): 11,7% x 12,7%
CHC com trombose portal: 7,0% x 9,0%
Uso de betabloqueadores: 52,7% x 54,0%
Etiologia da Cirrose
Álcool: 45% x 45,3%
NASH: 34,7% x 33,0%
HBV: 3,7% x 6,7%
HCV: 7,0% x 6,0%
Outras causas: 9,6% x 9,0%
Hb (mg/dL): 7,9 ±1,9 x 8,0 ±2,9
Plaquetas (mil/mm3): 84,5 (63-122) x 89,0 (63-124,78)
INR: 1,6 (1,4-2,1) x 1,6 (1,4-2,1)
Creatinina (mg/dL): 0,89 (0,62-1,32) x 0,86 (0,66-1,4)
MELD: 18 (13-24) x 18(14-26)
Etiologia do Sangramento
Varizes esofágicas: 69,3% x 68,7%
Varizes gástricas: 9,3% x 9,7%
Varizes esofágicas e gástricas: 7,7% x 10,0%
Úlcera esofágica pós ligadura elástica: 4,3% x 6,3%
Úlcera duodenal 3,7% x 3,0%
Úlcera gástrica: 2,7% x 1,0%
Presença de sangramento ativo na endoscopia: 25,315 x 27,7%
Tratamento inicial
Ligadura elástica de varizes esofágicas: 68,3% x 68,7%
Escleroterapia de varizes esofágicas: 1,0% x 0,0%
Escleroterapia com cianoacrilato em varizes gástricas: 9,3% x 9,6%
Houve menos falha terapêutica em 5 dias no grupo ácido tranexâmico em comparação ao grupo placebo: 6,3% x 13,3% (RR 0,45; IC95% 0,28 a 0,80)
Houve menos falha de prevenção de ressangramento entre 6 dias e 6 semanas no grupo ácido tranexâmico em comparação ao placebo: 12% x 21,3% (RR 0,56; IC 95% 0,38 a 0,81)
Não houve diferença na mortalidade em 5 dias entre os grupos: 3,7% x 5,7% (RR0,58; IC95% 0,28 a 1,20)
Houve uma menor mortalidade em 6 semanas no grupo ácido tranexâmico: 20,7% x 28,0% (RR 0,73; IC95% 0,55 a 1,001)
Não houve diferença na mortalidade relacionada ao sangramento em 6 semanas entre os grupos: 4,3% x 5,7% (RR 0,76; IC95% 0,38 a 1,54)
Houve um menor tempo de internação hospitalar no grupo ácido tranexâmico (dias): 7,3 ±4,5 x 8,4 ±5,8 (RA -1,09; IC95% -2,05 a -0,13)
Não houve diferença na necessidade de transfusão de hemoderivados e hemocomponentes entre os grupos
Não houve diferença na incidência de efeitos adversos entre os grupos (eventos tromboembólicos, eventos cardiovasculares, infecções encefalopatia)
O uso do acido tranexâmico reduz a incidência de falhas no controle de sangramento digestivo alto em 5 dias nos pacientes cirróticos
Ensaio clínico randomizado
Desfechos clínicos relevantes
O estudo avaliou pacientes com hemorragia digestiva alta em pacientes cirróticos Child B ou C, excluindo cirróticos Child A e outras comorbidades, aumentando assim a homogeneidade da amostra estudada.
Ensaio unicêntrico, o que pode reduzir a validação externa dos dados obtidos.
O estudo não realizou busca sistemática de eventos trombóticos. Dessa forma, trombose venosa assintomática pode ter passado desapercebida.
Desfecho primário não duro (sangramentos ocultos podem não ter sido vistos). A mudança do desfecho não impactou em redução de mortalidade
Amostra pequena (se comparada ao estudo HALT-IT )
Autor do conteúdo
Guilherme Lemos
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/acido-tranexamico-em-hemorragia-digestiva-alta-em-pacientes-com-cirrose
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