Acetaminofeno para Prevenção e Tratamento de Disfunções Orgânicas em Pacientes Críticos com Sepse
22 de agosto de 2024
5 minutos de leitura
O uso de acetaminofeno em pacientes críticos com sepse aumenta o número de dias vivo e livre de disfunções orgânicas em comparação ao placebo?
O acetaminofeno (mais conhecido em nosso meio como paracetamol) tem vários efeitos potencialmente benéficos em pacientes com sepse, incluindo analgesia, efeito antipirético e um efeito antioxidante. Ao agir em diversas vias, esta medicação teria o potencial para atenuar a ocorrência de disfunções orgânicas em pacientes sépticos. Alguns estudos observacionais, bem como ensaios clínicos de fase 2 sugerem um impacto positivo em marcadores de estresse oxidativo e em alguns desfechos clínicos. Contudo, o maior estudo já realizado com paracetamol em pacientes críticos (HEAT trial) não demonstrou redução de mortalidade ou melhora em outros desfechos relevantes. Diante dessas incertezas, foi realizado o estudo ASTER para avaliar o impacto do paracetamol em pacientes com sepse e disfunção hemodinâmica e/ou respiratória.
Ensaio clínico multicêntrico (40 hospitais nos EUA, incluindo departamento de emergência e UTIs)
Randomizado
Duplo cego
Inicialmente o estudo tinha 3 grupos (paracetamol, vitamina C e placebo), porém o braço da vitamina C foi interrompido precocemente e seus resultados serão reportados à parte.
Foi calculado que seria necessária uma amostra de 436 pacientes para demonstrar uma diferença absoluta de 2,5 dias no desfecho primário, com 85% de poder e um erro alfa de 5%.
Pacientes com sepse e disfunção hemodinâmica ou respiratória, incluídos entre 2021 a 2023.
Adultos (idade maior ou igual a 18 anos)
Diagnóstico de Sepse
Disfunção hemodinâmica (hipotensão com necessidade de vasopressores) ou respiratória (necessidade de ventilação invasiva ou não invasiva ou necessidade de mais de 6L/min de O2 suplementar)
Tempo entre a chegada no hospital e randomização menor que 36 horas
Transaminases acima de 5 vezes o limite superior da normalidade
Cirrose ou abuso de álcool
Limitação de suporte ou cuidados paliativos
Uso de O2 domiciliar ou dependência de ventilação mecânica em casa
Diálise crônica
Expectativa de vida abaixo de 1 mês
Paracetamol, 1g endovenoso de 6/6h, por até 5 dias.
Placebo em volume equivalente.
Em ambos os grupos, o tratamento poderia ser interrompido antes de 5 dias em caso de morte ou alta da UTI.
Os níveis de transaminases (ALT e AST) eram monitorados nos primeiros 5 dias do estudo, sendo que aumentos superiores a 10 vezes o limite superior da normalidade resultavam em suspensão permanente do tratamento.
O uso de AINES era desencorajado e o uso de paracetamol open label era proibido durante o período do estudo.
Desfecho primário: dias vivo e livre de suportes orgânicos (diálise, ventilação mecânica e vasopressores) em 28 dias.
Principais desfechos secundários: dias livre de ventilação, dias livre de vasopressores, dias livre de diálise, dias livre do hospital e da UTI, mortalidade em 28 e 90 dias, variações nas disfunções orgânicas (mensurado com o SOFA), eventos adversos.
Desfechos biológicos: níveis plasmáticos de IL-6, angiopoetina 2, receptor 1 do TNF, DNA livre, hemoglobina livre, e sindecan-1.
MasculinoFeminino
As características dos grupos foram similares no momento da randomização.
Paracetamol (n=227) x Placebo (n=220)
Idade: 63,9 x 64,2 anos
Sexo feminino: 49,3% x 51,8%
Uso de vasopressores: 76,7% x 75,5%
Ventilação mecânica: 43,8% x 39,3%
Sítio de infecção:
Pneumonia: 44,1% x 43,6%
Infecção urinária: 16,3% x 23,6%
Infecção abdominal: 10,6% x 8,6%
Foco desconhecido: 9,7% x 9,5%
SOFA: 5,5 x 5,2
Uso de paracetamol antes da randomização: 46,7% x 41,4%
O número médio de doses do tratamento foi de 12,2 no grupo paracetamol e 12,8 doses no grupo placebo.
Não houve diferença estatisticamente significativa no número de dias vivo e livre de disfunções orgânicas, que foi de 20,2 dias no grupo paracetamol e 19,6 dias no grupo placebo (diferença absoluta de 0,6%, IC 95% -1,4% a 2,5%, P = 0,56).
Também não houve diferença significativa na mortalidade em 28 dias, que foi de 17% no grupo paracetamol e 22% no grupo placebo (P = 0,19).
O grupo paracetamol teve significativamente uma melhora mais rápida do SOFA ao longo do tempo de tratamento, principalmente nos componentes de coagulação e respiratório.
O número de pacientes que evoluiu com SDRA foi menor no grupo paracetamol (P=0,01), com 2,2% neste grupo e 8,5% no grupo placebo
Os demais desfechos secundários, bem como eventos adversos (disfunção hepática), foram similares entre os grupos.
Em pacientes com sepse e disfunção orgânica, o uso de paracetamol endovenoso não resultou em aumento no número de dias vivo e livre de disfunções orgânicas.
Estudo multicêntrico e randomizado.
Estudo duplo cego e controlado com placebo.
Estudo pragmático, refletindo condições do mundo real, o que torna os resultados mais aplicáveis à prática clínica diária.
A duração da intervenção foi relativamente curta (em média, 3 dias), e muitos pacientes já haviam sido expostos ao paracetamol previamente, o que reduz a separação fisiológica entre os grupos.
Apesar do tamanho moderado da amostra, é provável que o estudo tenha pouco poder estatístico para detectar diferenças menores nos desfechos secundários.
Autor do conteúdo
Luis Júnior
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/acetaminofeno-para-prevencao-e-tratamento-de-disfuncoes-organicas-em-pacientes-criticos-com-sepse
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