Abatacepte Inibe a Inflamação e o Início de Artrite Reumatoide em Indivíduos de Alto Risco
03 de outubro de 2024
7 minutos de leitura
O tratamento com abatacepte é eficaz em diminuir inflamação subclínica em indivíduos de alto risco para desenvolvimento de AR?
A identificação de indivíduos de alto risco, antes do desenvolvimento de artrite reumatoide (AR), é de extrema importância, já que a introdução de medidas nesta janela de tempo teria o potencial de evitar o desenvolvimento de uma doença sem cura na atualidade. Indivíduos com dor articular sem edema clínico, com positividade para anticorpos contra proteínas citrulinadas e presença de inflamação subclínica em exames de imagem, apresentam um elevado risco de desenvolver AR num curto intervalo de tempo. O abatacepte, uma proteína de fusão CTLA4-Fc é um inibidor potente da co-estimulação de monócitos e células B. Portanto, este estudo explorou a capacidade do abatacepte de inibir a inflamação subclínica e evitar o início de AR numa população com alto risco.
Multicêntrico (14 países da Europa)
Duplo cego
Controlado por placebo
Os pacientes foram randomizados 1:1 para o grupo abatacepte ou placebo, utilizando blocos permutados aleatoriamente (tamanho de 2), sem estratificação
Foi calculado que uma amostra de 98 participantes teria um poder de 80% para detectar uma melhora de 60% nas alterações da ressonância magnética (RM) no grupo Abatacepte vs. 30% no grupo placebo, com um erro alfa bicaudal de 0,05.
Pacientes com dados faltantes foram considerados não respondedores.
Adultos com dor articular sem edema, com positividade para anticorpos anti-citrulinados e presença de inflamação na ressonância magnética, recrutados de 2014 até 2021
Dor articular atual ou passada sem edema em mãos, punhos, cotovelos, ombros, pés, tornozelos ou joelhos
Positividade para anticorpos contra proteínas citrulinadas (ACPA)
Evidência subclínica de sinovite, tenossinovite ou osteíte na ressonância magnética (RM) da mão dominante
Sinovite: escore OMERACT-RAMRIS de sinovite >0
Tenossinovite: escore de tenossinovites >0
Osteíte: escore OMERACT-RAMRIS de osteíte >0
Mulheres em idade fértil e homens capazes de gerar filhos deviam utilizar contracepção efetiva durante o tratamento e 14 semanas após
Tratamento atual ou passado com glicocorticoides, ou drogas imunossupressoras ou drogas modificadoras do curso da doença, ou qualquer droga experimental
Contraindicação a RM
Presença de outras doenças inflamatórias ou autoimunes
Malignidade nos últimos 5 anos
Infecções crônicas (por exemplo: tuberculose latente, hepatite viral ou HIV).
Imunodeficiências
Doenças concomitantes graves não controlada
Alterações laboratoriais consideradas de risco inaceitável pelos pesquisadores, ou que poderiam afetar a interpretação dos resultados
Gravidez ou aleitamento materno
Abatacepte, seringa de 125 mg semanal por via subcutânea por 6 meses
Placebo, seringa sem o princípio ativo por via subcutânea por 6 meses
O uso concomitante de analgésicos não esteroidais e opioides foi permitido, exceto nas 24 horas antes da visita.
O uso de corticoides e de drogas modificadoras do curso da doença não foi permitido.
Primário: proporção de pacientes com melhora de sinovite subclínica, tenossinovite ou osteíte, definida como pelo menos 1 ponto em uma das pontuações, na RM da mão dominante no mês 6.
Secundários: desenvolvimento de artrite clínica (definida como edema articular ou desenvolvimento de AR segundo o critério EULAR/ACR 2010) em qualquer ponto do seguimento; escore de sinovite, tenossinovite, osteíte, escore total de inflamação (soma das pontuações), número de articulações dolorosas/edemaciadas, DAS28, avaliação da atividade da doença pelo médico, desfechos relatados pelos pacientes (dor, atividade global da doença, rigidez matinal, funcionalidade e qualidade de vida).
MasculinoFeminino
Idade média 50 anos (±12)
As características demográficas e basais foram equilibradas entre os grupos.
Abatacepte (N=49) x Placebo (N=49)
26 de 49 (53%) pacientes no grupo abatacepte e 21 de 49 (43%) pacientes completaram os 12 meses de observação. A causa mais frequente de abandono foi o desenvolvimento de AR.
Houve maior número de homens e de fumantes atuais no grupo abatacepte. Houve maior número de não fumantes no grupo Placebo.
Idade, anos: 51 (±11) x 49 (±13)
Sexo feminino: 31 (63%) x 39 (80%)
Sexo masculino: 18 (37%) x 10 (20%)
Fumante atual: 21 (42,9%) x 15 (30,6%)
Ex-fumante: 12 (24,5%) x 9 (18,4%)
Não fumante: 16 (32,7%) x 24 (49,0%)
IMC, kg/m²: 26 (±4) x 27 (±5)
História de AR em parentes de primeiro grau: 19 (39%) x 16 (33%)
ACPA, U/mL: 125 (44–367) x 156 (44–420)
RF positivo (>20 IU/mL): 34 (69%) x 33 (67%)
RF, IU/mL: 40 (20–116) x 28 (17–91)
PCR, mg/dL: 0,36 (0,20–0,55) x 0,34 (0,20–0,52)
VHS, mm/h: 12 (7–19) x 14 (8–23)
Duração dos sintomas, meses: 8 (4–24) x 7 (3–14)
A proporção de pacientes com melhora de sinais inflamatórios na RM no mês 6 foi superior no grupo abatacepte quando comparado com placebo. Abatacepte 28/49 (57%) vs. 15/49 (31%), com uma diferença absoluta entre os grupos de 26,5% (IC 95% 5,9-45,6; p=0,014).
A proporção de pacientes com melhora de sinais inflamatórios na RM no mês 18, 1 ano após o tratamento, se manteve superior no grupo abatacepte. 51% dos participantes no grupo abatacepte e 24% no grupo placebo mostraram melhora em pelo menos um escore de RM no final da fase de observação (p=0,012).
O desenvolvimento de AR foi menor no grupo abatacepte quando comparado com placebo no mês 6 e 18.
6 meses: AR em 8% no grupo abatacepte e 35% no grupo placebo
HR 0,14 (IC 95% 0,04-0,47; p=0,0016)
18 meses: AR em 35% no grupo abatacepte e 57%no grupo placebo.
HR 0,48 (IC 95% 0,26-0,88; p=0,018)
Os participantes do grupo abatacepte reportaram menos dor no mês 6 e 18, melhor funcionalidade no mês 6 e 18, assim como melhor qualidade de vida relacionada a AR no mês 6 e 18, quando comparados com placebo.
Um total de 12 efeitos adversos sérios ocorreram em 11 participantes, sendo 4 (8%) no grupo abatacepte e 7 (14%) no grupo placebo.
O tratamento com abatacepte por 6 meses reduziu a inflamação subclínica em indivíduos ACPA positivos com artralgia em comparação ao placebo. Adicionalmente, o abatacepte diminuiu o risco de desenvolvimento de AR.
Randomizado, o que equilibra as características entre os grupos comparados.
Multicêntrico, o que aumenta a generalizabilidade dos resultados.
Cegamento adequado, o que aumenta a confiabilidade nos resultados.
O uso da ressonância magnética como ferramenta de avaliação permite uma detecção precisa e objetiva da inflamação subclínica nas articulações, oferecendo uma medida altamente sensível para monitorar as alterações inflamatórias ao longo do tempo.
O longo tempo de recrutamento (mais de seis anos) pode introduzir variabilidade nos resultados, já que as práticas clínicas, tecnologias e características dos pacientes podem ter mudado ao longo desse período.
Autor do conteúdo
CARLOS ECHAURI
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/abatacepte-inibe-a-inflamacao-e-o-inicio-de-artrite-reumatoide-em-individuos-de-alto-risco
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