12 Meses com Pasireotide para Doença de Cushing
10 de setembro de 2024
5 minutos de leitura
O uso de Pasireotide é eficaz na redução dos níveis de cortisol urinário em pacientes com doença de Cushing?
A doença de Cushing é causada pelo aumento da secreção de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), proveniente de um adenoma hipofisário. As taxas de cura após a cirurgia transesfenoidal são de aproximadamente 60% a 70%. Em 30% dos casos, ocorre recidiva da doença, sendo necessário realizar uma nova cirurgia ou tratamento adjuvante, como terapia medicamentosa, radioterapia ou adrenalectomia bilateral. O adenoma corticotrófico é rico em receptores da somatostatina tipo 5 (SSTR5), e o pasireotide é um análogo da somatostatina com alta afinidade por este receptor. Nesse contexto, o presente estudo avaliou se o uso de pasireotide de curta duração seria eficaz para o controle bioquímico do hipercortisolismo em pacientes com Doença de Cushing.
Ensaio clínico fase 3
Multicêntrico
Randomizado 1:1 para receber Pasireotide 600 µg ou 900 µg subcutâneo duas vezes ao dia
Open-label
O estudo previu 146 pacientes em cada braço para detectar uma diferença de pelo menos 15% no desfecho primário, com alfa de 5% e poder de 87%
Pacientes com doença de Cushing com hipercortisolismo ativo
Idade superior a 18 anos
Diagnóstico confirmado de doença de Cushing por imagem hipofisária, com cortisol urinário de 24 horas maior que 1,5 vezes o limite superior da normalidade
Radioterapia nos últimos 10 anos
Colelitíase sintomática
Hemoglobina glicada (HbA1c) superior a 8%
Tumor de grande tamanho com compressão significativa do quiasma óptico
Pasireotide SC 600 mcg 2 vezes ao dia ou 900 mcg 2 vezes ao dia
A dose podia ser aumentada caso o cortisol urinário não normalizasse, até a dose máxima de 1200 mcg 2 vezes ao dia
Primário: normalização do cortisol livre urinário 24h no mês 6 nos pacientes sem necessidade de ajuste da dose da medicação
Secundários: normalização do cortisol livre urinário com 3, 6 e 12 meses, independente da necessidade ou não de ajuste de dose; porcentagem de redução do cortisol urinário em relação ao basal; outros parâmetros clínicos e laboratoriais; e efeitos colaterais
162 pacientes incluídos
Pasireotide 600 mcg (N=82) x Pasireotide 900 mcg (N=80)
Sexo feminino: 76% x 80%
Média de idade em anos: 41 x 40
Brancos: 79% x 78%
Tempo desde o diagnóstico em meses: 53,4 x 54,7
Tratamento neurocirúrgico prévio: 78% x 80%
Severidade do hipercortisolismo por cortisol urinário
Leve (até 2x LSN): 15% x 18%
Moderado (2-5 x LSN): 32% x 50%
Severo (5-10x LSN): 34% x 16%
Muito severo (>10x LSN): 13% x 11%
Duração média de tratamento em meses: 10,8
A porcentagem média de redução do cortisol urinário basal em relação a 6 meses foi estatisticamente significativa (p<0,001) de -27.5% (95% IC, -55,9 a 0,9) no grupo 600 mcg e -48.4% (95% IC, -56,6 a -40,2) no de 900 mcg. A mudança aos 12 meses foi de -41,3% (95% IC, -66,0 a -16,6) e -54,5% (95% IC, -65,2 a -43,7), respectivamente.
Aos 6 meses, considerando somente os pacientes sem ajuste de dose, 15% dos pacientes no grupo 600 mcg e 26% do grupo 900 mcg tinha um cortisol livre urinário abaixo do LSN.
Aos 12 meses, com ajustes de dose, 13% dos pacientes do grupo 600 mcg e 25% do grupo 900 mcg tinham cortisol livre urinário normal.
A resposta foi melhor nos pacientes com cortisol menor que 5 vezes o limite superior da normalidade.
Naqueles com hipercortisolismo descontrolado, o cortisol se manteve fora de meta em 92% dos pacientes aos 6 meses e em 89% aos 12 meses.
O ACTH, o cortisol basal e o cortisol salivar reduziram em torno de 10% em ambos os grupos ao longo do estudo.
Houve melhora clínica aos 12 meses de terapia, com redução da pressão arterial sistólica (-6,1 mmHg), diastólica (-3,7 mmHg), LDL (-15 mg/dL), triglicérides (-2 mg/dL), peso (-6,7 kg), e escore de qualidade de vida.
Houve também redução tumoral importante aos 12 meses, de -9,1% no grupo 600mcg e -43,8% no 900mcg.
Como esperado, o efeito colateral mais comum e grave foi hiperglicemia e diabetes. A HbA1c média basal de 5,8% aumentou para 7,2% ao final do estudo. Quase 50% dos pacientes que não tinham critério diagnóstico para DM no início do estudo, terminaram com HbA1c maior que 6,5%. Outros efeitos adversos reportados foram náusea, diarreia e elevação de transaminases.
Somente 78 (48%) pacientes completaram os 12 meses de tratamento. O maior abandono ocorreu por efeitos colaterais ou por ineficácia da droga.
O pasireotide reduziu significativamente o cortisol livre urinário em pacientes com Doença de Cushing
Estudo multicêntrico com maior validade externa
Grande número de pacientes, considerando que a doença de Cushing é rara
Ausência de comparação head-to-head com um grupo controle em tratamento convencional e bem estabelecido na literatura (como com cetoconazol por exemplo)
A inclusão de pacientes muito graves com cortisol urinário muito elevado pode subestimar as taxas de controle de hipercortisolismo (com cortisol urinário menor que o limite superior da normalidade). Em um contexto de prática clínica, esses pacientes provavelmente seriam candidatos a tratamentos mais radicais com adrenalectomia bilateral para controle do hipercortisolismo grave ou combinações de vários medicamentos
Alta taxa de abandono, não necessariamente invalidando os resultados, mas refletindo o mundo real
Autor do conteúdo
Matheo Stumpf
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/12-meses-com-pasireotide-para-doenca-de-cushing
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