10 anos de Seguimento de Controle Glicêmico Intensivo em Pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2
20 de agosto de 2024
6 minutos de leitura
O controle glicêmico intensivo em pacientes com diagnóstico recente de diabetes tipo 2 reduz complicações crônicas e mortalidade a longo prazo?
O UKPDS (UK Prospective Diabetes Study) foi uma série de estudos realizados no Reino Unido entre as décadas de 1970 e 1990, que demonstrou que o controle glicêmico intensivo em pacientes com diabetes tipo 2 reduz o risco de complicações micro e macrovasculares. Os resultados, publicados originalmente em 1998, influenciam a abordagem do tratamento do diabetes tipo 2 até os dias de hoje. Em pacientes com diabetes tipo 1, os estudos DCCT/EDIC já haviam reportado um benefício pós-intervenção que se manteve durante um período de 8 anos após o término do estudo. O estudo UKPDS 80 buscou avaliar se os benefícios microvasculares e macrovasculares do controle glicêmico intensivo se mantiveram durante um seguimento de 10 anos após a intervenção.
Ensaio clínico randomizado
Multicêntrico (23 centros no Reino Unido)
Aberto
Não foi utilizado placebo
Randomização realizada por um computador, com alocação das terapias em envelopes que foram abertos em sequência. A sequência numérica dos envelopes, a data de abertura e a terapia estipulada foram monitoradas.
O acompanhamento ocorreu anualmente nas clínicas do UKPDS por 5 anos. Entre o 6º e o 10º ano, a avaliação foi realizada de forma remota por meio de questionários.
Pacientes com diabetes tipo 2 recém-diagnosticados, recrutados entre 1977 e 1991
Idade entre 25 e 65 anos
Diagnóstico recente de diabetes mellitus tipo 2, com glicemia de jejum > 106 mg/dL em duas ocasiões
Ausência de sintomas de hiperglicemia (polidipsia e poliúria)
Todos os pacientes sobreviventes foram incluídos no programa de monitorização pós-estudo em 1997 (78% da coorte original)
Como o período de inclusão foi de 14 anos, os pacientes poderiam ter participado do estudo original por 6 a 20 anos
Cetonúria > 3 mmol/L
Creatinina > 2 mg/dL
Infarto do miocárdio no último ano
Angina ou insuficiência cardíaca
História prévia de mais de um evento cardiovascular prévio
Retinopatia com necessidade de tratamento com laser
Hipertensão maligna
Doença severa com limitação de expectativa de vida ou necessidade de tratamento sistêmico extenso
Doença endocrinológica não tratada
Terapia intensiva de controle da glicose com sulfonilureia, insulina ou metformina
Alvo de glicemia < 106 mg/dL
Terapia convencional com orientações alimentares, orientação para perda de peso e retorno trimestral
Metformina com dose inicial de 850 mg/dia e aumento progressivo até a dose máxima de 2.550 mg/dia, conforme tolerância.
Insulina ultralenta subcutânea, com ajustes conforme a glicemia de jejum e peso, e adição de insulina rápida conforme as glicemias pré-prandiais.
Clorpropamida dose máxima de 500 mg/dia.
Glibenclamida dose máxima de 10 mg 2x/dia.
Primários: desfechos clínicos relacionados ao diabetes: morte súbita, morte por hiper ou hipoglicemia, IAM fatal ou não-fatal, angina, insuficiência cardíaca, AVC, insuficiência renal, amputação, hemorragia vítrea, retinopatia com necessidade de fotocoagulação, cegueira em um olho ou cirurgia para catarata
Secundários: mortalidade relacionada ao diabetes, mortalidade por qualquer causa, infarto do miocárdio (fatal, não-fatal e morte súbita); acidente vascular cerebral (fatal e não fatal); amputação (de pelo menos 1 dedo) ou morte por doença vascular periférica; complicações microvasculares (retinopatia com necessidade de fotocoagulação, hemorragia vítrea, doença renal fatal ou não fatal).
Total (N) = 3.277 participantes
Grupo Sulfonilureia-Insulina
Tratamento intensivo N = 2.118
Idade média (anos): 63 ± 9
Sexo masculino: 58,9%
Etnicidade branca: 81,1%
IMC médio (kg/m²): 29,3 ± 5,5
Pressão Arterial (mmHg): 139/77
Glicose jejum (mg/dL): 161
HbA1c: 7,9%
Colesterol total (mg/dL): 197
Creatinina (mg/dL); 1,02
Albuminúria/creatinúria (mg/g): 14,3
Terapia convencional N = 880
Idade média (anos): 63 ± 9
Sexo masculino: 60,5%
Etnicidade branca: 80,7%
IMC médio (kg/m²): 28,7 ± 5,6
Pressão Arterial (mmHg): 138/77
Glicose jejum (mg/dL): 178
HbA1c: 8,5%
Colesterol total (mg/dL): 197
Creatinina (mg/dL); 1,02
Albuminúria/creatinúria (mg/g): 14,9
Grupo Metformina
Tratamento intensivo N = 279
Idade média (anos): 64 ± 9
Sexo masculino: 45,5%
Etnicidade branca: 84,2%
IMC médio (kg/m²): 31,7 ± 5,4
Pressão Arterial (mmHg): 141/78
Glicose jejum (mg/dL): 177
HbA1c: 8,4%
Colesterol total (mg/dL): 204
Creatinina (mg/dL); 1,03
Albuminúria/creatinúria (mg/g): 19,8
Terapia convencional N = 309
Idade média (anos): 63 ± 9
Sexo masculino: 46%
Etnicidade branca: 84,8%
IMC médio (kg/m²): 32,2 ± 5,7
Pressão Arterial (mmHg): 139/77
Glicose jejum (mg/dL): 182
HbA1c: 8,9%
Colesterol total (mg/dL): 200
Creatinina (mg/dL); 0,96
Albuminúria/creatinúria (mg/g): 19,9
Seguimento médio de 16,8 anos para os grupos sulfonilureia-insulina (sendo 8,5 anos após término do estudo) e 17,7 anos para o grupo metformina (sendo 8,8 anos após término do estudo)
Perda de seguimento de 3,5%
Após 10 anos, os pacientes tratados com sulfonilureia ou insulina apresentaram uma redução de 9% no risco de qualquer desfecho primário relacionado ao diabetes em comparação ao grupo de tratamento convencional (p = 0,04) e uma redução de 24% no risco de doença microvascular (p = 0,001), também em comparação com o grupo de tratamento convencional.
Os pacientes do grupo sulfonilureia-insulina apresentaram uma redução de 17% no risco de morte relacionada ao diabetes (p = 0,01), uma redução de 15% no risco de infarto do miocárdio (p = 0,01) e uma redução de 13% no risco de morte por qualquer causa (p = 0,007).
Após 10 anos, os pacientes do grupo metformina apresentaram uma redução de 21% no risco de desenvolver o desfecho primário relacionado ao diabetes (incluindo complicações micro e macrovasculares) (p = 0,01) e uma redução de 30% no risco de morte relacionada ao diabetes (p = 0,001), em comparação com o grupo de tratamento convencional.
Os pacientes do grupo metformina também apresentaram uma redução de 33% no risco de infarto do miocárdio (p = 0,005) e uma redução de 27% no risco de morte por qualquer causa (p = 0,002).
Após o primeiro ano de seguimento pós-estudo, as diferenças nos níveis de HbA1c entre os grupos de terapia intensiva e convencional foram perdidas.
Não houve diferença de peso entre os grupos no basal ou durante o seguimento.
O controle glicêmico intensivo inicial em pacientes com diagnóstico recente de DM2 reduziu complicações, infarto do miocárdio e mortalidade, com efeito sustentado após 10 anos, mesmo sem diferença contínua nos níveis de glicemia entre os grupos.
Estudo multicêntrico: conduzido em vários centros, aumentando a validade externa dos resultados, embora realizado apenas em um país.
Número adequado de participantes: amostra grande, que aumenta a robustez dos achados.
Tempo prolongado de seguimento de 10 anos após término do estudo, com mais de 66.000 pessoas-ano, permitindo avaliar os efeitos a longo prazo dos tratamentos.
Análise por intenção de tratar: reflete uma abordagem prática e realista, compatível com a vida real, garantindo que todos os participantes sejam considerados na análise final, independentemente do cumprimento do protocolo.
Ensaio aberto e sem uso de placebo: pode introduzir vieses de observação e performance, dificultando a distinção clara entre os efeitos do tratamento e outros fatores.
População predominantemente branca: limita a generalização dos resultados para outras etnias.
Após o quinto ano de seguimento, os pacientes foram seguidos por meio de questionários (o que pode não ter identificado todos os eventos não-fatais), sem exames de sangue ou avaliação clínica.
Autor do conteúdo
Bibiana Boger
Referências
Públicação Oficial
https://app.doctodoc.com.br/conteudos/10-anos-de-seguimento-de-controle-glicemico-intensivo-em-pacientes-com-diabetes-mellitus-tipo-2
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